Exposição reúne gravuras pouco conhecidas de Anita Malfatti
Por Fábio de Castro, da USP Online
Precursora do modernismo no Brasil, Anita Malfatti não inovou apenas em suas telas: foi também a primeira brasileira a realizar gravuras modernas. Até 21 de outubro, o Centro de Preservação Cultural (CPC) da USP expõe algumas dessas gravuras, que integram o acervo doado pela família Malfatti à Universidade.
A exposição, denominada Anita Malfatti Gravadora, teve curadoria da professora Marta Rossetti Batista - vencedora do prêmio Jabuti com uma biografia de Anita Malfatti - e ocorreu, primeiramente, no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, responsável pelo acervo, no início de 2006.
Além de divulgar parte pouco conhecida da obra de Anita, a nova exposição presta homenagem à professora Marta, falecida no primeiro semestre de 2007. Coube à Bianca Dettino, companheira de trabalho de Marta Rossetti no IEB, escolher as obras expostas no CPC: vinte gravuras originais, impressas a partir das matrizes de metal produzidas por Anita.
Originais
Anita empregou em suas obras uma técnica de gravura que consiste em marcar o desenho sobre uma placa de metal e reproduzi-lo no papel. No entanto, a artista não imprimiu todas suas gravuras: o procedimento era caro e ela não tinha perspectivas de prosperar com a venda das obras, como conta Marta Rosseti no texto sobre a exposição.
"Fizemos uma impressão póstuma documental", diz Bianca. Para isso, o IEB pesquisou as técnicas de Anita, catalogou as obras e recuperou as matrizes que estavam, em parte, danificadas. Essa impressão permite o estudo e divulgação das gravuras - "as primeiras gravuras modernas executadas por artista brasileiro", escreveu Marta.
Encontradas apenas após a morte da artista, em 1964, as gravuras remontam ao início da formação de Anita, quando estudou na Alemanha (entre 1911 e 1913) e nos Estados Unidos (1915 e 1916). As gravuras integram o patrimônio do IEB desde 1989, centenário do nascimento de Anita, quando a família Malfatti doou fotos, documentos, manuscritos, catálogos, cartas, recortes, cadernos de desenho e as matrizes de gravura feitos pela artista.
Portal dos tempos
A monitora Luciana Pereira da Costa olha para as paredes da Casa de Dona Yayá - que abriga o CPC " e diz: "essa exposição tem muito a ver com a Casa". Ela explica que as obras expostas podem ser consideradas originais, porque foram impressas a partir de matrizes da própria autora. "Mas não são autênticas, porque não foi ela quem imprimiu".
O processo de restauração e recuperação histórica empregado na exposição é responsável pela grande semelhança. A equipe do IEB teve o cuidado de, por exemplo, não extinguir todas as oxidações nas placas de metal, para preservar os traços, escolhas e intenções da artista.
Na Casa de Dona Yayá, construção imponente do início do século XX que se destaca na paisagem do centro degradado de São Paulo, a restauração também abriu mão de reconstituir cada canto da casa.
Luciana explica que o objetivo da restauração não foi fazer o lugar voltar a ser o que era, algo impossível nesse caso. Para resgatar a história da Casa e os usos que já teve, os restauradores deixaram à mostra marcas de diversos períodos. Há parede que exibe duas pinturas, há ambientes com mais de um tipo de piso e até de teto. "Para mostrar que cada um dos quatro donos da Casa acrescentou alguma coisa".
A última dona foi Yayá. "Ela perdeu os pais muito nova. Veio para a casa com 31 anos e viveu nela até morrer, aos 71. Era considerada louca e a casa foi adaptada para ela não precisar sair. Esse era o tratamento mais avançado na época: ter um hospício na própria casa", conta a monitora sobre o local, que passou a pertencer à USP em 1969.
A Casa de Dona Yayá fica na Rua Major Diogo, 353, Bela Vista, São Paulo. A exposição Anita Malfatti Gravadora ocorre até 21 de outubro, de domingo à sexta, das 10h às 16h. Para mais informações e agendamento de visitas monitoradas à Casa: (0xx11) 3106-3562.
(Envolverde/Agência USP)