25/01/2024

EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO: UMA ANÁLISE DAS ABORDAGENS NA TEORIA ORGANIZACIONAL

Evolução dos Conceitos de Organização do Trabalho: uma análise das Abordagens na Teoria Organizacional

Mônica Vasconcellos Barral Campos

1.Introdução

As teorias organizacionais constituem um campo multifacetado que abrange as maneiras como as organizações são estruturadas, gerenciadas e influenciadas. Apresentam raízes históricas que remontam o final do século XIX, tendo sido impactadas por eventos históricos, revoluções industriais e movimentos intelectuais como o Iluminismo (Hobsbawm, 2009).

As teorias organizacionais começaram a se desenvolver com economistas clássicos como Adam Smith, que introduziu a divisão do trabalho, que levou à expansão de grandes unidades organizacionais e à necessidade de ampliação da capacidade administrativa. (Reed, 2009). Frederick Taylor, com o conceito relativo à Administração Científica, trouxe métodos de gestão baseados na eficiência e padronização (Taylor, 1995).

A Escola das Relações Humanas apresentou uma nova perspectiva, destacando fatores psicológicos e sociológicos nas organizações, reconhecendo a importância das relações sociais e da motivação dos funcionários no desempenho organizacional (Fayol, 1990).

Max Weber, associado à Teoria da Burocracia, enfatiza a hierarquia, as regras formais, a competência técnica e a impessoalidade nas organizações. Nesta abordagem teórica, a burocracia é considerada a forma mais eficiente de organização, ao permitir decisões tecnicamente corretas (Andrade; Amboni, 2009).

A Teoria dos Sistemas introduziu o conceito de organizações como sistemas interdependentes e abertos, enfatizando a interconexão de elementos, incluindo entradas, processamento, retroalimentação e ambiente (Andrade; Amboni, 2009).

A Teoria Institucional concentra-se nas instituições, normas e hábitos que estruturam as interações sociais e organizacionais. O isomorfismo é destacado, no qual as organizações se tornam semelhantes umas às outras devido às pressões ambientais (Andrade; Amboni, 2009).

Abordagens contemporâneas, como o Pós-Modernismo e o Realismo Crítico, questionam as estruturas tradicionais. O Pós-Modernismo desafia a lógica da hierarquia e enfatiza a flexibilidade e a individualidade (Clegg, 1990), enquanto o Realismo Crítico considera a realidade como algo objetivo e independente dos observadores, mas reconhecendo a importância dos significados (Bhaskar, 2008).

A premissa assumida é que cada teoria apresenta uma perspectiva única acerca do funcionamento e gerenciamento eficaz das organizações. Considera-se que o campo das teorias organizacionais segue em evolução, à medida que as organizações enfrentam desafios em um ambiente em constante mudança. Sendo assim, a compreensão das teorias, e sua progressão ao longo do tempo, pode suportar a análise, interpretação e intervenção nas complexidades das organizações modernas.

O objetivo deste ensaio teórico é discutir a evolução dos conceitos de organização do, no contexto da teoria das organizações. Discorre-se acerca da progressão teórica partindo da Administração Científica às perspectivas contemporâneas, com suas diversas concepções, englobando premissas, elementos e críticas.

Espera-se que este estudo possa contribuir para construção de uma base para debates contemporâneos sobre teorias organizacionais. Ao examinar as limitações e desafios, sugere áreas em que novas abordagens ou adaptações podem ser necessárias, contribuindo para a inovação e o desenvolvimento de novos pensamentos na área.

O presente ensaio teórico está organizado em três partes. A primeira corresponde a esta introdução, trazendo um panorama geral e seu objetivo. A segunda traz uma revisão teórica das principais teorias organizacionais com foco na divisão racional do trabalho. Por fim, na terceira parte, são elaboradas considerações finais, permitidas pelo estudo realizado

2.Desenvolvimento

As teorias organizacionais, como sistematizações do pensamento científico, têm suas origens nas ideais de racionalização do trabalho desenvolvidas a partir do final do século XIX e influenciadas pelo contexto social, histórico e cultural da época, com destaque para as revoluções industrial e francesa e o advento do Iluminismo (Hobsbawm, 2009).

A sociedade organizacional começou a ser configurada pelos economistas clássicos, tendo como precursor Adam Smith (1761) que em “A Riqueza das Nações”, configurou o que viria a ser a divisão técnica do trabalho. A divisão técnica se torna imanente à divisão social do trabalho e o trabalho é executado na sociedade e através dela. (Reed, 2009).

A produção em pequena escala foi sendo deixada de lado e grandes unidades organizacionais se desenvolvendo. À medida que a complexidade da atividade coletiva aumentava, era necessária a ampliação da capacidade administrativa (Waldo, 1982).

Este cenário propiciou o estudo das organizações e a elaboração de teorias para assimilar, interpretar e atuar sobre essa realidade. As teorias foram se remodelando e gerando alterações na divisão técnica de trabalho e nas relações sociais de trabalho.

As mudanças na divisão do trabalho contribuíram de forma significativa para a formulação do pensamento administrativo, culminando nos Princípios da Administração Científica de Taylor em 1903, considerado o precursor das ciências administrativas, inseridas no capitalismo industrial do início do século XX (Ramos, 1989).

A divisão do trabalho fundamentava-se no modelo de supervisão funcional, envolvendo o estudo de tempos e movimentos, fadiga humana, especialização do operário, desenho de cargos e tarefas, incentivos salariais vinculados à produtividade, padronização, entre outros, sob uma ótica reducionista (Taylor, 1995).

Segundo Fayol (1990), a divisão do trabalho devia ser considerada como função administrativa. Defendia-se a separação de atividades de planejamento, realizadas pelos administradores, e execução, pelos operários, substituindo a antiga administração por tarefas. Também se defendiam princípios e métodos específicos para o alcance de resultados pela organização. Anteriormente considerava-se que os gestores nasciam prontos e detentores de habilidade nata. No entanto, para Fayol, a Administração poderia ser ensinada e desenvolvida (Fayol, 1990).

Ford elaborou princípios relativos à intensificação, a economicidade e a produtividade, que propiciaram a eliminação de movimentos tidos como desnecessários assim como a organização da tarefa de forma a exigir o mínimo esforço, físico e mental. Um dos focos de Ford está no contexto micro organizacional, desenvolvendo um modelo de verticalização da produção (Ford, 1954).

A teoria clássica estruturou-se a propiciar uma análise científica das organizações, buscando abandonar o empirismo e a improvisação por técnicas. Trouxe desenvolvimento significativo da produtividade, mas foi criticada pela forma de visualização do trabalhador. Além disso, considera-se que a abordagem clássica não estava preparada para a imprevisibilidade e que conflitos poderiam partir dos próprios trabalhadores, acentuando as relações sociais no ambiente organizacional, o que vai contra às relações formais delineadas por Weber (1978).

A escola das relações humanas desenvolve-se tendo como alicerce a teoria clássica. A preocupação central altera-se dos aspectos técnicos e formais para psicológicos e sociológicos. Pode- se dizer que a abordagem humanista traz novas contribuições à teoria organizacional, relativas à tentativa de identificação dos aspectos que influenciam e revelam o comportamento dos indivíduos nas organizações (Mayo, 1972).

Busca-se o entendimento de fatores relacionados à motivação dos indivíduos e as fronteiras das regras e do controle burocrático como meio regulação social. Passa-se a considerar que o desempenho dos funcionários está menos vinculado aos métodos de trabalho como argumentava a administração científica, introduzindo-se a influência de fatores emocionais (Mayo, 1972).

Mayo (1972), um dos principais expoentes dessa abordagem, com base nas premissas clássicas de racionalização e eficiência da organização, buscou analisar a relação entre eficiência e condições ambientais do trabalho na experiência de Hawthorne. No entanto, os resultados conduziram-no a uma alteração das proposições iniciais ao perceber a influência significativa da atitude mental do grupo, influenciada pela sensação de pertencimento ao grupo informal, trazendo uma elevação de moral e produtividade.

A escola humanística trouxe o entendimento das interações sociais como significativas para os resultados das organizações. Ao se analisar os trabalhadores, assim como os grupos, tanto formais como informais dos quais fazem parte dentro das organizações, observa-se a complexidade das variáveis que influenciam as relações de trabalho, indo além de uma visão determinista das motivações, simplesmente financeiras, e suas respectivas influências no desempenho organizacional (Mayo, 1959; Homans, 1975; Mouzelis, 1975).

Dentre as principais críticas tecidas a esta abordagem, destaca-se o foco demasiado no indivíduo e pequenos grupos, além da não observância da organização como econômica e marcada problemas relativos à estrutura de poder e divergência de interesses, que levam inevitavelmente a conflitos internos. Ao não ser capaz de explicar a eficiência das organizações com base no indivíduo e grupos, acabou propiciando uma volta à estrutura formal como unidade de análise organizacional (Mouzelis,1975).

Weber (1978) é associado à teoria da burocracia. A partir da ideia de tipo ideal, esta abordagem analisa a vinculação entre estrutura e autoridade. Seus fundamentos foram disseminados nos estudos da divisão do trabalho, da hierarquia de autoridade, da seleção formal, das regras e regulamentos formais. A concepção ideal para a linha weberiana refere-se aos fenômenos passíveis de observação na realidade, convertendo algo concreto em uma situação particular.

Apoia-se na racionalidade e na adequação dos meios para atingir os objetivos planejados. Sua essência baseia-se nos princípios relativos ao caráter legal das regulamentações, comunicações formais, caráter racional e divisão do trabalho, impessoalidade nas relações, autoridade hierárquica, padronização de rotinas e procedimentos, competência técnica e meritocracia (Weber, 1978).

De acordo com Weber, a burocracia é a forma mais eficiente de organização, uma vez que estabelece oportunidades e condições para decisões tecnicamente corretas. Propicia também o comportamento disciplinado dos funcionários de uma organização já que suas ações são orientadas por regras e o controle é executado por uma hierarquia controlada por autoridades, que propicia a racionalidade e a orientação na busca pelo cumprimento dos objetivos. (Andrade; Amboni, 2009).

Estudiosos como Merton e Gouldner, empregaram o funcionalismo aos termos weberianos da burocracia e contrapuseram a intenção racional, com a qual os sujeitos operam, com as consequências não esperadas decorrentes no nível da estrutura.

A partir dos anos 1960, começou-se a questionar o pressuposto weberiano e a reconhecer que modelos organizacionais mais flexíveis podem existir em paralelo às burocracias. Observa-se que a teoria burocrática não seria tão distante da administração científica quando se considera que ambas evidenciam a racionalidade, a previsibilidade, a impessoalidade, a competência técnica e o autoritarismo (Andrade; Amboni, 2009).

A Teoria Estruturalista desenvolve-se a partir da Teoria da Burocracia. Foram elaboradas tipologias alternativas para as organizações e as disfunções da burocracia começaram a ser discutidas. Introduz-se uma visão mais ampla da organização, através de uma concepção múltipla que envolve a organização formal e a informal, as recompensas materiais e as sociais, os diferentes níveis hierárquicos da organização, além das análises intraorganizacional e interorganizacional (Andrade; Amboni, 2009).

Destacam-se as propostas de Amitai Etzioni e a de Peter Blau e Richard Scott dentre as tipologias alternativas ao tipo ideal de burocracia. Amitai Etzioni (1986) argumenta que o modelo weberiano não abarca todas as organizações, sendo estas compreendidas como umas grandes e complexas unidades sociais, com objetivos específicos que não se enquadram em um padrão único.

As organizações de negócios são tidas como utilitárias, com a remuneração como meio de controle central dos funcionários. No entanto, outros fatores como satisfação com o cargo, prestígio, estima, relações sociais no trabalho, podem determinar o desempenho. Prêmios, recompensas e incentivos também podem ser considerados constituintes da remuneração.

Peter Blau e Richard Scott (1970), elaboraram outra construção teórica para compreender as organizações. A organização é concebida para o alcance de fins agrupados em categorias conforme o legatário principal da organização.

Merton critica a construção weberiana por não ter considerado o fator humano e lista como disfunções da burocracia a valorização demasiada das regulamentações, o excesso de formalidade, a resistência a mudanças, a despersonalização das relações humanas, o processo decisório hierarquizado e as dificuldades no atendimento do mercado consumidor (Andrade; Amboni, 2009).

Na segunda metade do século XX, em oposição ao positivismo, emergem novas escolas de pensamento, dentre as quais destaca-se o enfoque sistêmico. A Teoria de Sistemas introduz o conceito de elementos inter-relacionados que formam conjuntos para o alcance de objetivos. Fortaleceu-se uma vez que a tecnologia e a sociedade se tornaram mais complexas, não sendo as soluções tradicionais suficientes. Sua aplicação decorreu da necessidade de uma síntese e uma maior integração das teorias anteriores e da intensificação do uso da cibernética e da tecnologia da informação nas organizações (Andrade; Amboni, 2009).

Por volta de 1950, Ludwig Von Bertalanffy elaborou uma abordagem interdisciplinar, com enfoque orgânico e em oposição à visão cartesiana vigente, que propunha ser capaz de superar os problemas, estabelecer princípios e modelos gerais para as ciências, propiciando uma interação entre elas, sendo a solução viável a todas. A Teoria dos Sistemas supõe a realidade composta de sistemas interdependentes, na qual o ser humano é parte deste sistema (Andrade; Amboni, 2009).

A Teoria Sistêmica apoia-se nas asserções de que os sistemas são abertos, existem dentro de outros sistemas e as funções de um sistema dependem de sua estrutura. Os sistemas são compostos de entradas, saídas, processamento, retroação e ambiente (Andrade; Amboni, 2009).

A organização passa a ser encarada como um sistema de energia input-output. As entradas e saídas de energia no sistema, assim como seu processamento e reconversão de energia gerada pelo output em novo input dependem do ambiente no qual a organização está inserida, caracterizando-a como um sistema aberto. As variáveis provenientes do meio afetam de forma direta o processo produtivo. Os sistemas sociais se constituíram de atividades padronizadas, repetidas com certa regularidade, gerando relativa estabilidade às organizações e consequentemente, sua perpetuação (Andrade; Amboni, 2009).

Observa-se, no entanto, que os sistemas não podem ser totalmente entendidos apenas pela análise de cada uma de suas partes constituintes, de forma independente. Apoia-se no entendimento da dependência recíproca de todas as disciplinas e necessidade de integração, tendo uma conceituação atomística pois evidencia as partes em termos do todo. A teoria de sistemas considera que uma atividade específica influencia a atividade dos demais (Andrade; Amboni, 2009).

A Teoria Institucional desenvolve-se contrapondo-se ao racionalismo das teorias até então elaboradas, envolvendo o comportamento humano. Seu núcleo de pensamento relaciona-se aos conceitos de instituições, hábitos, normas e desenvolvimento (Andrade; Amboni, 2009).

Considera-se que instituições são restrições elaboradas que estruturam a interação política, econômica e social. Podem vir representadas em restrições informais, como repreensão de comportamento, hábitos, costumes e tradições e regras formais como leis, direitos de propriedade, entre outros. Instituições eficientes desenvolvem-se com base em regras formais e informais, que em interação impõem limites à interação de indivíduos em sociedade (North, 1990).

Uma das grandes contribuições do institucionalismo é o entendimento da configuração do isomorfismo. As organizações, inseridas em campos organizacionais constituídos por outras similares, tornam-se cada vez mais similares ou isomórficas (Dimaggio & Powell, 2005). As organizações se espelham umas nas outras, em decorrência das incertezas. Considera-se três pressões ambientais principais que originam o isomorfismo: coercitivo, normativo ou mimético. Contribuições adicionais são realizadas por Meyer, Scott & Zucker apud Hall (1990) referentes às questões internas da organização. Focalizam a forma como as práticas e os padrões adquirem conjunturas de valores e são reconhecidos nas estruturas das organizações.

Em busca de legitimação, as organizações reproduzem práticas de outras consideradas como padrão positivo no meio em que se encontram. As organizações focalizam na sua adaptação ao ambiente e à sociedade em detrimento de suas contingências formais. No entanto, questiona-se o posicionamento em segundo plano de objetivos internos, concentrando sua atenção em aspectos externos, não vinculados diretamente à sua capacidade produtiva (Hall, 1990).

Argumenta-se que a sobrevivência da organização está diretamente vinculada à sua capacidade de conformar-se através de isomorfismos, mais do que na sua diferenciação no mercado através de objetivos próprios e suas operações (Hall, 1990).

De forma complementar, Selznick (1996) argumenta que as organizações são influenciadas de forma significativa pelas circunstâncias sociais e demandas da comunidade em que se situam. As atitudes dos indivíduos não são baseadas em seu papel formal e as organizações não seriam capazes de gerir suas dimensões não racionais ou informais. A realidade é socialmente construída e o homem seria moldado na sociedade.

Dado este panorama parcial, pode-se observar a distinção de dois modelos organizacionais distintos: mecanicista e orgânico. No primeiro, as tarefas são marcadas por regras, controle, fragmentação e especialização. A centralização decorre da hierarquia formal de autoridade e o fator humano deve ser controlado, sendo potencial gerador de ineficiência. No segundo, os indivíduos trabalham em grupos, a comunicação percorre todos os níveis organizacionais, as regras e controle são menores, e o fator humano é considerado e estimulado na tomada de decisão. Considera-se que o sistema mecanicista é mais apropriado para um ambiente estável enquanto orgânico mais adequado para ambientes voláteis e turbulentos.

Surge então, por volta da década de noventa, em oposição à hegemonia positivista, novas abordagens consideradas contemporâneas, alinhadas com uma visão de sistemas adaptativos complexos (SAC). Os SAC são compreendidos não somente como sistemas que empenham intercâmbios com o meio, mas que fazem do intercâmbio um fator essencial, que permite sua viabilidade, a continuidade e a capacidade de mudança (Buckley, 1971).

Possuem como características abertura, encadeamento de informações das partes e do meio, circuitos de realimentação, direção para metas, entre outras. Estas proporcionam os elementos conceituais básicos, subjacente aos traços gerais característicos de sistemas cognominados “autorreguladores”, “auto diretores” e “auto organizadores” (Buckley, 1971).

O sistema adaptativo complexo está dentro de um circuito de realimentação que se baseia em pressões externas com adaptações internas, de forma que as leis da sociedade e as leis de funcionamento da organização realizem trocas constantes. A morfostase representa trocas entre o sistema complexo e o meio que tendem a preservar a forma, a organização ou o estado de um sistema e a morfogênese abrange processos que tendem a elaborar ou mudar a forma, a estrutura ou o estado de um sistema (Buckley, 1971).

A auto-organização é a tendência de um sistema aberto para criar estruturas e padrões com base em sua própria dinâmica interna. O processo é interativo em fases que acontecem em diversas dimensões e partes da organização simultaneamente. Das partes para o todo, as partes do sistema interagem em tempo real. Após diversos ciclos de interação, padrões emergem do sistema como um todo. Com a introdução de novas tecnologias, os velhos padrões dão lugar a outros (Debrun, 1996).

A organização reinventa-se através de pequenas adequações em seus padrões. Novos padrões desenvolvem-se enquanto antigos afetam o comportamento dos agentes do sistema. Padrões de interação constituem tradições e hábitos da vida organizacional que favorecem a ordem. Dentro do contexto da Sociologia das organizações, destaca-se a questão da subjetividade e complexidade encontrada nas organizações e, assim, as influências advindas da Sociologia (Debrun, 1996).

Silverman (1971) ressalta que embora o comportamento possa ser visto como um reflexo da estrutura organizacional e de seus problemas, é igualmente válido sugerir que a própria organização é o resultado da interação de pessoas motivadas que tentam resolver seus próprios problemas. O ambiente no qual uma organização está localizada pode ser considerado, de maneira útil, como uma fonte de significados através da qual os membros definem suas ações e dão sentido às ações dos outros. As regras e os procedimentos são produzidos pelos homens e são, de certa forma, desconectados da natureza, logo os indivíduos criam uma realidade razoavelmente independente.

Adicionalmente, Ramos (1989) considera que qualquer sistema social consiste, basicamente de uma estrutura (papéis e de relações entre os membros, individualmente), uma tecnologia (conjunto corrente de normas consolidadas, por intermédio do qual as coisas são realizadas e os resultados alcançados) e uma teoria (conjunto de regras epistemológicas segundo a qual a realidade interna e externa é interpretada e tratada, em termos práticos).

O Construcionismo Social foca nos aprendizados criados por interações sociais de grupos. Faz-se uma análise dos processos de legitimação através dos universos simbólicos, colocando como base do pensamento a intersubjetividade e a biografia individual. Destaca-se que ao mesmo tempo em que o indivíduo edifica e molda a sociedade, é influenciado por ela (Luckmann; Berger, 2004).

A realidade, compreendida como fenômenos independentes da nossa vontade, é moldada por um conjunto de fatores sociais resultantes da ação humana. Apoiada pela realidade da vida cotidiana, a sociedade apresenta-se como realidade objetiva e subjetiva, complementarmente A primeira, objetiva, com mecanismos básicos de institucionalização e legitimação. A segunda, subjetiva, a partir de um processo de interiorização da primeira, com seus meios de interiorização, dependente ou não das estruturas sociais (Luckmann; Berger, 2004).

Relativo à Ação coletiva organizada, destaca-se as contribuições de Friedberg (1992) ao ressaltar que no estudo tradicional das organizações faz-se distinção da estrutura formal e informal. A primeira corresponde a uma parte oficial e codificada da estrutura, enquanto a segunda remete à abundância de práticas, interações e relações não previstas oficialmente, que formam uma espécie de realidade paralela em oposição à primeira.

Para cada estrutura formal teórica, toda uma série de práticas e interações informais é acrescentada. O padrão procura tornar os atores mais estáveis e mais previsíveis, mas de certa forma cria riscos. De acordo com uma conceituação de regulação mista, a regra adota a prática, afasta-se dela apoiando-a, enfraquece-a ou reforça-a de acordo com o contexto (Friedberg, 1992).

Levanta-se que não há diferenças entre a natureza de uma organização formalizada e a de outras formas mais difusas de ação coletiva, quando muito uma diferença de gradação. O funcionamento das organizações formalizadas somente obedece parcialmente a suas características formais enquanto os campos de ação mais imprecisos estão mais estruturados do que parece pelas “inversões de forma”. A diferença depende mais do que se afirma e valoriza de ambos os lados desta fronteira fictícia que é critério de formalização (Friedberg, 1992).

Todo campo de ação pode conceitualizar-se como aquele que tem como base mais ou menos clara um “sistema de ação concreto” que o estrutura mediante certas regras do jogo, por um conjunto de mecanismos de regulação. Estes mecanismos definem a pertinência dos problemas e apostas em torno das quais os atores interessados podem mobilizar-se. Ao mesmo tempo, organizam, medeiam e regulam tanto as interdependências “objetivas” dos participantes como os processos de intercâmbio resultantes. A diferença não reside na existência ou não de tais mecanismos, mas em sua graduação de formalização e codificação, assim como o grau de consciência dos participantes (Friedberg,1992).

O pós-modernismo estabelece-se questionando excessos em nome da cientificidade da racionalidade instrumental do modernismo, considerado de certa forma como instrumento de dominação de grupos privilegiados, adiando-se o princípio combatido relativo aos mitos e tradições. Contesta-se a lógica da hierarquização, da serialidade e do pensamento dicotômico, sendo a realidade mais complexa que a simplificação em dois pólos opostos. Desenvolve-se em um contexto marcado pela chamada Terceira Revolução Industrial, informatização das relações sociais e produções Nano. Destaca-se o Toyotismo e a flexibilização das relações de trabalho nesta conjectura (Giddens, 1994). Dentro da abordagem pós-modernista busca-se o entendimento de questões ainda não exploradas, relativas às possibilidades humanas. Busca-se a descontinuidade da dominação via divisão do trabalho, cientificidade e racionalidade instrumental, posicionando o indivíduo no centro das discussões como ser e não apenas como um dos recursos necessários para o processo produtivo (Giddens, 1994).

No pós-modernismo as organizações modernas, caracterizadas como máquinas, perdem espaço. Os indivíduos são controlados de forma menos autoritária, formando grupos que se autocontrolam e o trabalho exige múltiplas habilidades. Há ênfase no lado simbólico da organização ao mesmo tempo em que a estrutura organizacional se apresenta mais orgânica e flexível em decorrência da tecnologia (Clegg, 1990).

Por fim, o Realismo Crítico desenvolve-se procurando se configurar como uma ciência social crítica em relação às práticas sociais objeto de estudo e a outras teorias. Comparado ao positivismo, o Realismo Crítico endossa, ou é compatível com uma gama relativamente ampla de métodos de pesquisa, mas tem implícito que as escolhas particulares dependem do objeto de estudo e do que se deseja apreender acerca do mesmo (Sayer, 2000).

As reações antipositivistas que marcam o Realismo Crítico buscam libertar as ciências dos estereótipos acerca de uma base observacional objetiva e neutra, de modo a permitir o desenvolvimento de novas teorias que produzem novos tipos de observação (Sayer, 2000).

Parte-se do pressuposto que o conhecimento de um objeto se faz através dos sentidos e o que estes captam, é a própria coisa e não a sensação ou processos fisiológicos pelos quais captam. A sensação é sempre a sensação do objeto e a realidade existe de forma objetiva independente da percepção e da observação que temos dela (Bhaskar, 2008).

“Adota como posição a ontologia realista, quando a realidade é vista como algo ou entidade que existe ‘lá fora’, de modo exterior e independente do (ser humano) observador e do conhecimento que ele possa ter ou vir a ter dela” (Pimentel, 2014, p.12). O RC reconhece que os fenômenos sociais são intrinsecamente significativos, logo o significado não é apenas uma descrição exterior dos fenômenos sociais, mas constitutivo dos mesmos.

O RC traz à tona o problema da identificação da realidade causal em SAC. Não se trata apenas de sistemas abertos, mas sistemas caracterizados por muitas estruturas e mecanismos em interação. Este contexto leva ao potencial risco de atribuição de efeitos a um mecanismo, que são decorrentes de outro (Sayer, 2000).

O RC defende que os sistemas sociais são abertos e, normalmente, complexos e desorganizados. Ao contrário de algumas ciências naturais, não é possível isolar componentes e examiná-los sob condições controladas. É necessário basear-se na abstração e conceituação cuidadosa para tentar-se isolar componentes ou influências mentalmente para então buscarmos compreender como estes componentes combinam-se e interagem. Assim retornaríamos ao objeto concreto e multifacetado a fim de compreendê-lo (Bhaskar, 2008).

Quadro 01: Resumo das teorias organizacionais abordadas sob a ótica da divisão do trabalho

 

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