31/01/2020

EULÁLIO E MATILDE: ESTEREÓTIPO RACIAL E A CONSTRUÇÃO DO MASCULINO E DO FEMININO, DENTRO DA OBRA O LEITE DERRAMADO

EULÁLIO E MATILDE: ESTEREÓTIPO RACIAL E A CONSTRUÇÃO DO MASCULINO E DO FEMININO, DENTRO DA OBRA O LEITE DERRAMADO

VITÓRIA DUARTE WINGERT - Licenciada em História; Mestre em Processos e Manifestações Culturais. Universidade FEEVALE. E-MAIL: euvitoriawingert@hotmail.com

JANDER FERNANDES MARTINS- Pedagogo (UFSM), Mestre e Doutorando em Processos e Manifestações Culturais Universidade FEEVALE. E-MAIL: martinsjander@yahoo.com.br

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo, realizar uma análise acerca da obra fictícia O Leite Derramado de Chico Buarque. Elegendo como foco analítico as personagens Eulálio, senhor centenário que se encontra hospitalizado, e Matilde, sua esposa e peça central na obra. Conforme desenrola-se essa narrativa, alguns elementos do tecido social vêm à tona, dentre os quais, destacam-se o estereótipo racial e a construção de representações de gênero masculino e feminino. Identificado tais elementos subjacentes, os autores buscam problematizar a obra em questão intentando abrir discussão acerca de tais elementos que, demonstraram-se reveladores de uma tensão social, mais ampla e genérica, representada na relação do casal.

PALAVRAS-CHAVES: Estereótipo racial; Gênero; Identidade; Interdisciplinaridade; Literatura.

 

EULÁLIO E MATILDE: RACIAL STEREOTYPE AND THE CONSTRUCTION OF MALE AND WOMEN WITHIN THE SPILLED MILK

 

ABSTRACT

The objective of this work is to analyze the fictional work The Spilled Milk of Chico Buarque. Choosing as an analytical focus the characters Eulálio, centenarian man who is hospitalized, and Matilde, his wife and centerpiece in the work. As this narrative unfolds, some elements of the social fabric come to the fore, among which the racial stereotype and the construction of representations of masculine and feminine gender stand out. Identifying such underlying elements, the authors seek to problematize the work in question by attempting to open discussion about such elements, which have been shown to reveal a broader and more general social tension represented in the relationship of the couple.

KEYWORDS: Racial stereotype; Genre; Identity; Interdisciplinarity; Literature.

 

 

INTRODUÇÃO

 

A obra Leite Derramado de Chico Buarque (2009), é sem dúvida, uma narrativa que nos deixa intrigados, confusos e tentando encaixar as várias partes de uma espécie de quebra-cabeça, a partir do que é narrado pela personagem Eulálio Assumpção. O narrador (Eulálio) é um senhor centenário, pertencente a uma tradicional família carioca que entrou em decadência. Deitado em uma cama de hospital, à beira da morte, Eulálio, inicia um monólogo, por horas, destinado a filha, por horas as enfermeiras, ou a quem quiser ouvi-lo. Em alguns momentos, inclusive, temos a impressão de que na verdade a narrativa, não passa de pensamentos, onde o idoso vai rememorando, mentalmente, fragmentos de sua própria história.

Eulálio vai nos deixando a o par de sua trajetória de vida, desde seus ancestrais portugueses, um barão do Império, um senador da república, até chegar a seu bisneto, um traficante carioca. Matilde, é esposa de Eulálio, entretanto, é a personagem de grande destaque dentro da narrativa, pois tudo gira em torno dela e de seu desaparecimento misterioso. Através da construção do texto, vamos percebendo aspectos fundamentais da sociedade brasileira e como foi constituindo-se a identidade individual de Eulálio e Matilde. Para Hall (2006), a identidade é, portanto, formada na interação do sujeito com a sociedade, num diálogo contínuo com o mundo. Nessa relação o sujeito se projeta e internaliza imagens e símbolos que irão constituir sua identidade numa relação dinâmica e constante.

Percebemos Eulálio e Matilde, sendo reféns de padrões de comportamentos sociais, que eram esperados de ambos, porém eles nunca conseguiam atingi-los, gerando cada vez mais uma grande frustação frente a pressão social. A proposta deste trabalho é analisar a partir dos personagens Eulálio e Matilde o estereótipo racial, apresentado na obra, a partir da perspectiva de Homi Bhabha (1988), que afirma que o estereótipo é um problema, em função da recusa a diferença. O estereótipo é uma metáfora grotesca, uma duplicação, não condizente com a realidade que ao negar o outro no jogo de representação, constituindo-se um problema de significações nas relações psíquicas e sociais. Também é uma forma de representação que rejeita a alteridade, negando a diferença no processo de construção da identidade, anulando, também o hibridismo, pois pressupõe que as identidades são puras.

Em um segundo momento buscamos analisar a construção do masculino e feminino de ambos os personagens a partir da categoria de análise de gênero. Percebendo, segundo Scott (1995), o gênero como um campo, onde se vive a história, é fundamental analisarmos todo e produto cultural, como no caso, uma obra literária.

 

EULÁLIO E MATILDE: ESTEREÓTIPO RACIAL

 

As narrativas de Eulálio, sempre são em torno da personagem Matilde, por vezes em tom saudosista, por vezes rancorosas. O principal fato de destaque que nos intriga é: o que aconteceu com Matilde? Durante suas narrativas senis, Eulálio dá várias explicações para o sumiço repentino de sua esposa. Estas teorias do desaparecimento de Matilde, são dadas também a filha, entretanto, por várias vezes são desmascaradas, desmentidas ou o próprio Eulálio entra em contradição. Inicialmente nos é dito, que a mulher morreu no parto, depois que morreu em um acidente de automóvel em Petrópolis, morte por afogamento, fuga com um engenheiro francês Dobosc e morte por tuberculose em um sanatório.

De todas estas possibilidades, uma coisa é clara, Matilde, desapareceu, enquanto a filha ainda era muito pequena, deixando um grande vazio na vida de Eulálio. A fuga se justificaria tanto, pelo relacionamento opressivo, que ela mantinha com o marido, quanto pela grande diferença de personalidade dos dois. Matilde era alegre e festiva, enquanto Eulálio era presunçoso e inseguro, tendo em várias ocasiões duvidado da fidelidade da esposa.

Em termos gerais, a figura masculina, sempre, protagonizou a História. E esta, tem sua razão de ser desde os primórdios da colonização do Brasil, onde a figura da mulher estava representada, tão somente, dentro do “sagrado matrimônio”, sendo que esta tinha como único objetivo dar continuidade a linhagem do marido através dos filhos e cuidar dos afazeres domésticos. Um proverbio português afirmava que a mulher virtuosa, saia de casa em apenas três ocasiões: para ser batizada, para casar-se e para ser enterrada. (HABNER, 2018). Na família de Eulálio não foi diferente, o nome Eulálio de Assumpção que passava de geração em geração, construiu um modelo de masculinidade hegemônica em torno de si. As mulheres da família Assumpção, sempre renegadas a segundo plano e submissas a vontade do marido. Autoridade que o próprio Sérgio Buarque de Holanda (2016, p.133), considera “[...] virtualmente ilimitado e poucos freios existem para sua tirania. [...] o quadro familiar torna-se, assim, tão poderoso e exigente que sua sombra persegue os indivíduos, mesmo fora do recinto doméstico”.

Quanto a construção da aparência de Matilde, esta nos é trazida através do ponto de vista de Eulálio, que é extremamente preconceituoso, embora ele mesmo não admita. A família Assumpção, em vários momentos se posiciona contraria ao casamento do filho com o que eles consideram, uma mulata. Entretanto o narrador sempre se refere a ela como “castanha”, descendente de mouros ou indígenas. As relações que se era mantida, com os empregados estava muito ligada as relações humanas, poder e hierarquia. Um aspecto interessante de ressaltar é que antes de conhecer Matilde, Lalinho (como era chamado carinhosamente), andava sempre com criado negro de sua fazenda, o Balbino. Menino este que pertencia a uma linhagem Balbinos, que haviam sidos escravos dos Assumpção.  Em certo momento, Lalinho cogita a ideia de “enrrabar o Balbino”, já que este sempre fazia suas vontades e ficava rebolando para ele enquanto subia nas árvores, “estava claro para mim, que Balbino queria me dar a bunda” (HOLANDA, 2009, p. 20). Ele só esquece aquela ideia, pois conhece Matilde, que toma o lugar do negro Balbino e se assemelha a relação que seu avô possuía com as escravas.

Tanto Balbino quanto Matilde, enquadram-se dentro de um estereótipo que o brasileiro construí ante a figura do negro. Frantz Fanon (2008), em sua obra Pele negra, máscaras brancas, aborda a questão do sujeito no discurso estereotipado do colonialismo. Segundo ele “o negro permanece sempre um negro”, isto porque o estereótipo impede a circulação e a articulação e é fixo.  Eulálio faz algumas referencias a Balbino já adulto, “estava sempre rindo à toa e andava com umas calças roxas que nunca vi homem usar, mas caiu nas graças de Matilde” (HOLANDA, 2009, p. 84-85); “ver minha mulher nos braços daquele criolo, para mim foi a pior das infâmias” (IDEM, p.116).

Ao referir-se a esposa, em várias passagens ele afirma “minha mulher suava bastante, gostava de sol, voltava sempre afogueada das tardes no areal de Copacabana” (HOLANDA, 2009, p. 5-6). E sobre o suor excessivo de Matilde ele ainda relembra, “minha mãe certa vez chegou a me perguntar, se Matilde não tinha cheiro de corpo” (IDEM, p.29); “Matilde é o tipo de mulher de dançar maxixe e não beijar a mão”(IDEM, p.66).  O grande problema do estereótipo está na sua fixidez, onde Eulálio se utiliza, mesmo que inconsciente, da seguinte lógica: Balbino e Matilde são negros, logo como descentes de escravos, precisam estar sujeitos a todas as minhas vontades.

O conceito de fixidez é um aspecto extremamente importante no discurso colonial, pois através dele é construída a noção ideológica e de alteridade. Trata-se de um modo de representação paradoxal: conota rigidez e ordem imutável como também desordem e repetição demoníaca. (BHABHA, 1988).

O discurso colonial, manifestado pela família Assumpção, através do estereótipo social que construíram de tudo e de todos, objetivava a repetição em torno de conjunturas históricas e discursivas mutantes, fortalecendo a marginalização de determinados grupos, reforçando os estereótipos e a discriminação que embasam as práticas políticas e discursivas da hierarquização racial e cultural. (BHABHA, 1988).

 

EULÁLIO E MATILDE: A CONSTRUÇÃO DO MASCULINO E DO FEMININO

 

            Em vários momentos Matilde, não é considerada o modelo de mulher ideal para um Assumpção, pois não se enquadra no padrão esperado, principalmente por sua sogra. Dentro dos estudos de gênero, consideramos a unidade mulher é excludente e normatizadora “como se todas as mulheres o fossem de modo idêntico” (LOURO, 1995, p.115). Até mesmo as cores dos vestidos de Matilde, irritam profundamente Eulálio, sempre optando por cores vibrantes, ela adorava vestidos cor de laranja. Ao passo em que sua sogra e o próprio marido, sempre lhe presenteiam com vestidos beges, pois seria uma cor mais sóbria e digna da alta sociedade a qual a família pertence.

            O próprio narrador enfrenta problemas quanto a construção de sua identidade. Em primeiro lugar, pela posição social que sua família ocupa. Em vários momentos a história dos Assumpção nos é reforçada, e a todo um imaginário criado em torno deles. Assumpção, que se pronuncia com “p” mudo, como ele mesmo faz questão de ressaltar. Vieram para o Brasil em 1808, juntamente com a família real portuguesa, sempre tiveram muitos escravos, já na época da república o pai de Eulálio foi um grande político. Em função deste histórico, muitas coisas são esperadas de Eulálio, que nunca chegou a altura do pai, como ele mesmo afirma em diferentes momentos. Tanto ele quanto Matilde, precisam enquadra-se dentro do binarismo biológico, do que é esperado de um homem e de uma mulher. Assim, percebemos que “o reconhecimento de que o sujeito se constrói dentro de significados e de representações culturais, as quais por sua vez encontram-se marcadas pelas relações de poder” (MARIANO, 2005, p.486).

            O homem que se espera que Eulálio seja é o homem com H do iluminismo – branco, burguês, varonil, guerreiro, colonizador – e seu oposto, a mulher, instável, impregnada de fluidos sexuais, criatura do mundo de penumbras que é a vida privada, onde os homens recuperam a energia para retomar os embates da esfera pública e as guerras.  Percebemos que “o conceito de masculinidade é falho porque ele essencialista o caráter dos homens ou impõe uma unidade falsa a uma realidade fluida e contraditória” (CONNEL & MESSERSCHIMIDT, 2013, p.249). Por vários momentos Eulálio age autoritariamente e até ridicularizando a esposa, “apresso-me a corrigir sua pronúncia, desculpo-me por sua falta de gramática” (HOLANDA, 2009, pp. 110-111)

Matilde, era alegre e festeira, gostava de ir à praia e por vezes era considerada espalhafatosa. É acusada por Eulálio de ter abandonado a filha e desperdiçado o próprio leite. Episódio relatado onde Matilde está gemendo no banheiro, o esposo certo de que ela estava com um amante, abre bruscamente a porta e a encontra debruçada na pia chorando. Havia leite derramado por todo o banheiro. Isto reflete, uma normativa social, onde o status de mulher era definido pelo seu papel tradicional de “ocupações domésticas e cuidado dos filhos e do marido, das características próprias da feminilidade, como instinto materno, pureza, resignação e doçura” (PINSKY, 2017, p 608-609).

Entretanto nada nos leva a crer e apenas de passividade vivia Matilde. Em várias ocasiões também era criticada pelo esposo quando não seguia o que era esperado, “porque você era recém-nascida, e ela não podia largar a criança e coisa e tal, mas logo tomou um bonde para a cidade e cortou os cabelos à la garçonne” (HOLANDA, 2009, p. 11). Em outro trecho Eulálio destaca “estava muito corada, com rouge demais” (IDEM, p.12). Matilde nunca usava os vestidos de manga comprida que a sogra a presenteava, não gostava frequentava o casarão e não levava a filha Maria Eulália para a sogra ver.

A construção do feminino, inicialmente estava unicamente ligado a fatores biológicos, descartando totalmente qualquer influência cultural. Uma das primeiras discussões ase dá com Simone de Beauvoir em sua obra O Segundo Sexo, onde a autora afirma uma ruptura no que se refere o “ser mulher” entre os conceitos de “natural” e de “cultural”. Para a autora “Não se nasce mulher, torna-se mulher” (BEAUVOIR, 1980, p. 9). Entretanto Matilde também a adota uma postura passiva em vários episódios. Como quando ela se arruma para ir a um evento social, vai ao cabelereiro, coloca uma roupa nova e está ansiosa, esperando na porta de casa. Eulálio simplesmente decide não a levar, sem dar maiores explicações. Ou quando ele, com um chute, quebra a vitrola, de Matilde, pois a encontrou dançando com Balbino, após o ocorrido ele lhe traz flores e considera o assunto como encerrado. O mais curioso, é que no relato do personagem, ele está agindo corretamente, dentro do que se era esperado de um homem. Acompanhando a história, percebemos que a maneira com que o pai de Eulálio, tratava sua mãe, também não era diferente, ainda com o agravante dos vários casos extraconjugais que o levam a ser assassinado.

Hoje, dentro dos estudos de gênero, o compreendemos como sendo “todas as formas de construção social, cultural e linguística implicadas com processos que diferenciam homens e mulheres incluindo aqueles processos que produzem seus corpos, distinguindo-os e nomeando-os” (MEYER, 2004, p.15). A partir desta visão descontruída e descentralizada, começamos a compreender que jogos de poder estão por detrás da construção histórica e social e dos papeis que atribuímos a homens e mulheres. Então, percebemos que este constructo se dá de forma discursiva dentro da sociedade, que propaga um modo heteronormativo.

Começamos a perceber que o critério do que era esperado de Matilde, era muito diferente, do que se esperava de Eulálio, e esta disparidade se dava unicamente, por um ser mulher e o outro homem. Esta construção da feminilidade em contraponto, com a masculinidade, vigorou por muito tempo, como um dos principais binários sociais. A biologia categorizou o corpo da mulher como sendo inferior ao do homem e o “corpo passou a ser percebido como um representante da natureza, ele assumiu o papel de “voz” da natureza. [...] o corpo tinha que falar esta distinção de forma binária” (NICHOLSON, 2000, p.21). Compreendemos assim que o gênero se constrói através de:

 

[...]práticas sociais masculinizantes e feminilizantes, em consonância com as diversas concepções de cada sociedade, como também nos leva a pensar que gênero é mais do que uma identidade aprendida, é uma categoria imersa nas instituições sociais (o que implica admitir que a justiça, escola, igreja, etc, são “generificadas”, ou seja, expressam as relações sociais de gênero). (LOURO, 1995, p.103)

 

Ao lemos a obra é importante nos determos para analisarmos, como estas diferenças e desigualdade entre homens e mulheres são discursivamente construídas e não biologicamente determinadas. A mulher não é biologicamente subordinada e o homem um líder nato. Eliminar a essencialização e universalização é fundamental para compreender que o que se passa dentro desta relação são estratégias de poder que instituem e legitimam determinadas ações. (MEYER, 2004)

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao concluirmos a leitura da obra O leite derramado, com um olhar mais atento as questões de racismo de da construção do masculino e do feminino, começamos a tratar a obra literária, como uma espiã da sociedade. Através na narrativa de Chico Buarque, observamos várias características do imaginário social brasileiro. Conjunto de símbolos e signos que regem mediam como nos comportamos socialmente e que relações temos com o outro.

Dentro desta ficção, conseguimos observar a partir das falas de Eulálio, um racismo velado, que a muito tempo está arraigado dentro da sociedade brasileira. Onde acredita-se em o brasil é um pais pacifico, pois é originário de uma mistura de raças, e utopicamente, a casa grande e a senzala, conviveriam em perfeita harmonia. O personagem de Eulálio constrói-se discursivamente a partir do homem cordial, cheio de privilégios e seguro destes, uma vez que vem de uma determinada linhagem. Sua posição social privilegiada justifica todo e qualquer ato. Eulálio não se considera racista, nem machista nem violento. Suas ações justificam-se, por ele ser quem é, um Assumpção.

A personagem de Matilde, embora pareça secundária, é a grande protagonista da trama, tudo se dá a partir dela. Embora tente se enquadrar na categoria mulher, bela, recata e do lar, ela tem personalidade própria e por diversas vezes, de proposito, tem comportamentos subversivos, que irritam profundamente os Assumpção.  Percebemos também que tudo que ela faz, é controlado por todos, a sua volta, e ela é julgada e punida constantemente, unicamente por ser mulher.

Com isto concluímos que o campo de gênero e a construção da masculinidade e da feminilidade hegemônica, assim como o estereótipo racial, são um campo social de disputas de poder, assim como a própria cultura. Reconhecer estas categorias normativas como excludentes, fixas e problemáticas é o primeiro passo para darmos voz aos invisíveis da história e construirmos uma sociedade mais igualitária e democrática. O discurso, débil de Eulálio nos remete a preconceitos enraizados e naturalizados dentro da sociedade brasileira, que ocorrem em um campo de relações totalmente patriarcal e opressor.

REFERÊNCIAS

BEAUVOIR, S. de. O Segundo Sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

BHABHA, H. A outra questão: o estereótipo, a discriminação e o discurso do colonialismo. In: ___O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1988.

FANON, F. O negro e a linguagem. In: Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.

CONNEL, R. & MESSERSCHMIDT, J. Masculinidade hegemônica, repensando o conceito. Rev. Estud. Fem.Florianópolis, v. 21, n. 1, p. 241-282,  Abril, 2013 .   Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2013000100014&lng=en&nrm=iso. Acesso em 05 de novembro de 2018.

HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomas Tadeu da Silva e Guaracira Lopes Louro. 11ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

HOLANDA, C. B. de. Leite derramado. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

HOLANDA, S. B. de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

LOURO, G. L. Gênero, História e Educação: Construção e Desconstrução. Educação e realidade, Porto Alegre, v.20, n.2, 1995

MARIANO, S. A. O sujeito do feminismo e o pós-estruturalismo. Revistas Estudos Feministas, vol.13, n.3, 2005.

MEYER, D. E. Teorias e políticas de gênero: fragmentos históricos e desafios atuais. Brasília: Bras Enferm, 2004.

NICHOLSON, L. Interpretando o gênero. Revista Estudos Feministas. Florianópolis, vol. 8, n.2, 2000.

PINSKY, C. B. Mulheres dos anos dourados. In: DEL PRIORE, Mary (org). História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto/UNESP, 1997.

SCOTT, J. W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & realidade, Porto Alegre, v.20, n.2, 1995.

 

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