16/09/2022

ESGOTAMENTO PROFISSIONAL FRENTE AOS DESAFIOS CONSTANTES – SER PROFESSOR

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MENDONÇA, João Paulo Santos Neves.;

NEVES, Letícia Lopes Mendonça.;


          Não se trata de discutir o amor à profissão. Esta afirmação e todas as variações desta natureza são superiores e não são passíveis de discussão nestes escritos. O que ocorre na atualidade transcende o “amor à profissão”. É uma questão de ser e sobreviver enquanto professor hoje.

          A escola e a sala de aula têm sofrido constantes impactos das mais variadas ordens; desde a social, emocional, financeira e motivacional, o que tem alcançado alunos e professores nas mais diferentes gradações de intensidade. Porém, aqui abro este espaço para dar lugar àquele que sofre, mas precisa ser forte todos os dias, para “salvar” seu aluno das armadilhas sociais, àquele que precisa estar preparado para sua aula independente de suas emoções, frustrações, inquietações, angústias particulares e profissionais. O professor. Sim, aquele homem e aquela mulher que antes de ser professor – é ser humano.

          Um humano que também foi duramente impactado por tudo que a sociedade sofreu; ademais não digo que ele sofreu mais ou menos – ele sofreu. E aqui precisamos abrir espaço de fala, de desabafo frente aos inúmeros momentos que ele tem vivenciado e sendo cobrado equilíbrio emocional sem ser ouvido sobre esse tal emocional.

          Afina, o professor é o mestre, o líder, aquela pessoa que sabe administrar suas emoções e que vai com certeza levar seus alunos a melhorar suas condições de vida. Enfim, ele está preparado. Sim, nós estamos preparados para ministrar aulas, estabelecer relações com as áreas do conhecimento, promover uma educação ampla, que conecte o contexto e a realidade com àquilo que acontece dentro dos muros da escola. Mas, retomo a frase acima – somos humanos. E nossas emoções também sofrem abalos constantes e nos desafiam a sair do “equilíbrio emocional”.

          Apesar da paixão pelo ato de ensinar que não está em discussão aqui, pois frente aos desafios cotidianos de todas as formas já conhecidas pelos profissionais; àqueles que ainda persistem na profissão, amam, e amam muito o que fazem, apesar de minutos, horas e dias que vez ou outra nos causam mais indignação, ainda acreditamos na educação – não no sistema, mas sim na educação. Aquela educação que aprendemos nos bancos das Universidades. A que acolhe, conforta, integra e promove o ser humano à um status mais aprimorado frente ao conhecimento informal que ele mesmo levou ao ensino escolar formal.

          Enfim, muitos docentes estão desgastados pelo estresse e a dificuldade crescente em trabalhar dentro do ambiente escolar, levando muitos ao afastamento por diferentes motivos. Muito se discute acerca da agressividade dos alunos que cresceu assustadoramente nos últimos anos entre os estudantes; e isso tem tornado mais um desafio que o professor tem que lidar dentro da sala de aula. Além das obrigações dentro da sala de aula e as obrigações burocráticas, ele ainda se vê frente à problemáticas psicossociais que precisa encontrar caminhos – não respostas, mas caminhos para contornar tais comportamentos e atitudes cada vez mais recorrentes.

          Não se trata apenas de oferecer palestras e momentos pseudo-motivacionais com intuito de “estimular” os professores na carreira. É preciso mais, é preciso olhar para o ser humano antes do professor. É necessário se importar com o que ele sente, antes de lhe dar uma carga emocional para que ele oriente ou ajude a melhorar – como melhorar o emocional de alguém abalado, se o emocional do professor está deteriorado frente às inúmeras exigências que o fazem perder a noção de onde está, como vai seguir e aonde que chegar.

          Cito aqui a pesquisa feita pela Nova Escola publicada no Diário do Grande ABC em 17 de março de 2022; que apontou 28% dos docentes investigados com a saúde emocional avaliada como péssima, havendo considerável piora quando comparada no cenário pré-pandemia. Sabemos que hoje, em setembro de 2022 temos um cenário diferente do período mais crítico da pandemia, apesar de não ter atravessado ela por completo; estamos sentindo o impacto constante de seus efeitos colaterais.

          Mas, a pergunta que não conseguimos responder é... Como chegamos a este estado mental de ‘coisa’, onde a sociedade tem problemas recorrentes de saúde, os estudantes apresentam graus elevados de agressividade e os professores que enfrentam um estado mental que a maioria não consegue descrever em palavras suas angústias – que se misturam, ora pelas frustrações, pelo cansaço, pela cobrança excessiva, pela falta de sensibilidade humana, pelo estado constante de instabilidade emocional.

          Leitor, você deve estar se perguntando, como é possível até aqui não ter mencionado o aspecto financeiro. Na grande maioria das vezes a reclamação engendra vieses financeiros. E eu lhe respondo! De fato, o financeiro precário se tornou uma realidade em todas as camadas sociais do Brasil; em nós professores, não é diferente, mas não me propus a discutir as mazelas econômicas; mas de fato e tendo conversado com muitos colegas, a grande maioria nem cita os impactos financeiros – estão levantando de maneira preocupante e recorrente o seu estado de equilíbrio emocional – que aqui arrisco a dizer que com certeza afeta na capacidade administrativa e econômica dos lares destes meus colegas, inclusive a mim.

          Porém, quero trazer a discussão nosso estado emocional; nossa perda de identidade – esse estado em que fomos empurrados aos poucos e sem perceber fomos perdendo a capacidade de reconhecer o humano em nós mesmos. Não vim trazer soluções, mas levantar a discussão acerca desta problemática que na maioria das vezes ignorada, pelo discurso de que nós estamos preparados. Não, nós não estamos preparados para perder a nossa humanidade. E precisamos afirmar e lembrar que antes de ser professor, somos humanos e agimos como seres humanos, que pensam, que sofrem, que extrapolam seus limites, que afetam seus lares e seus familiares com a fadiga constante do ambiente escolar.

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