24/05/2016

Escolhas, Prioridades, Urgência e outros temas

Dênio Mágno da Cunha*

As impressões, sétimas, superaram outras ultrapassadas pelas escolhas. Têm sua fundamentação na imagem de monges estudando numa biblioteca medieval, em profundo silêncio, à luz de velas. Aprofunda-se na constatação da perda do significado da palavra Universidade e da relação profunda existente entre conhecimento e desconhecimento. Refere-se a imagens do filme e livro do escritor italiano Umberto Eco, “O nome da Rosa”.

O Ser nasce na mais completa ignorância. Surpreso ao aprender a primeira lição – existe vida fora do útero - chora. O derramar da lágrima passa de signo da dor, da ausência do calor do ventre materno, para significar a dor do aprendizado. Como nos deixa ver o vídeo ”todos morrem, mas nem todos vivem”:  para aprender é preciso sofrer a dor, ultrapassar o portal da ignorância ou viver o esforço de escalar uma montanha. A recompensa? A luz, a chama olímpica do saber.

Ao longo da vida, mais agora que ando na metade do caminho, aprendi que a ignorância protege mas escraviza e o conhecimento liberta mas não protege o Ser das dores do mundo.

Portanto, após esse preambulo entro no primeiro tema que é o das escolhas. E me dirijo a meus alunos que, ao entrarem em sala de aula, escolhem ficar do lado de fora, presos ao rastro eletrônico dos bits. Decidam, pois como nos diz o Livro Sagrado (Mateus, 6:24) “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou será leal a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mâmon.” Escolham, Mr. Whats ou Doctor Face? Se eu fosse vocês, escolheria a vocês mesmos; escolheria com toda a força de seu âmago, a luz do conhecimento à proteção do desconhecido; escolheria fazer bem aquilo a que se propuseram quando ingressaram na escola (lá na mais tenra idade): buscar o conhecimento, transformar a si mesmo em um Ser Humano completo, produtivo, livre por saber. Faria que nem José Saramago: viajar em busca de resolver um mistério infantil, mesmo que já velho, somente pelo prazer de viver a emoção de conhecer as cores da Terra de Siena. Escolheria pela sua mais natural razão de viver: a curiosidade de aprender, a emoção de conhecer. Se eu fosse vocês, deixaria a segurança uterina do desconhecimento e viria aqui pra fora. A vida está acontecendo a seu lado.

Após o primeiro tema, escolhido para ser primeiro por ser prioritário, entro no segundo imbricados que estão um no outro: a prioridade. Prioridade, dizem com razão das mais arrazoadas, é questão de escolha, fruto de decisão, consequência de uma preferência. Mais uma vez dirijo-me a meus alunos que elegem como prioridade seus estudos e os saúdo. Não há escolha mais adequada por séculos e séculos do que priorizar o conhecimento. Não defendo causa própria. Falo por experiência própria. Foi a curiosidade, a vontade de aprender, a dor de não saber, o conhecimento da ignorância, “o saber que nada sei” de Sócrates, o estudo e a aprendizagem aqueles que me possibilitaram os momentos mais felizes na vida. Mais uma vez, me vem as cenas dos monges e de Saramago. Se me fosse dado a oportunidade de aconselhá-los como um velho pai em seu leito de morte, eu sussurraria a seus ouvidos com voz cavernosa um segredo: estudem. Bem dramático para ver se todo mundo compreende a gravidade do momento. Estudem de todas as formas que há de amar.

E assim, adentramos no terceiro tema. E para não deixar dúvidas transcrevo uma definição repassada por uma amiga, que ouviu de um seu conhecido: “urgência, como diria um conhecido meu, médico, cirurgião cardíaco, urgência é quando meu bip toca. Isto significa que meu paciente está morrendo. O resto pode esperar”. Acredito que não há necessidade de perder espaço nesta coluna dizendo mais coisas a respeito da urgência, a não ser: se seu bip tocar, largue tudo e corra, do contrário não se mova. No entanto, alerto para um tipo de urgência muito comum nos nossos dias: a urgência repassada, transmitida de uma pessoa a outra, de modo que uma se livra do bip e outra assume em seu lugar. Cuidado com as urgências de outros. Alerto também para os falsos bips, conhecidos também como ansiedade. Metade da população do mundo sofre de problemas auditivos por ouvirem falsos bips e embarcarem no seu som, como ratos seguindo o flautista de Hamelim. Para não contrariar, dirijo-me a meus alunos, distraídos que ficam sem saberem distinguir coisas normais, cotidianas, daquilo que é urgente, transformando tudo em dramáticos bips, como se alguém a morrer estivesse. Aqui a cena é do mestre Yoda ensinando ao impaciente Luke Skywalker: que a força esteja com vocês.

Concluindo: os outros temas. São tantos e por isso deixo apenas uma pergunta que me intrigou durante toda essa semana: porque na biblioteca medieval reverenciamos o conhecimento, assumindo uma postura respeitosa e na sala de aula, lugar tão sagrado quanto, assumimos uma postura que beira ao desrespeito? Reverência será nosso próximo tema.

PS: No texto uso algumas referências, dever de casa para quem desconhece. Mas uma delas escolho como prioridade, com cara de falsa urgência e indico o caminho para alcança-la: Todos morrem, mas nem todos VIVEM.

Até a próxima.

* Professor: MBA Carta Consulta. Una/Unatec. Doutorando Universidade de Sorocaba.

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