10/06/2024

Escola Quintal e a Pedagogia Waldorf

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806

 

A pedagogia Waldorf se baseia no desenvolvimento da criança visando o físico, espiritual, intelectual e artístico, tendo assim um olhar mais holístico no processo educacional, incentivando e encorajando a criatividade, nutrindo a imaginação e conduzindo os docentes a um pensamento livre e autônomo que serão alavancas para o protagonismo.

Pode-se perceber que se trata de uma pedagogia a qual encontra-se inserida o desenvolvimento de habilidade sociais, motoras, cognitivas e emocionais da criança respeitando claro, suas especificidades.

Segundo a Federação das Escolas Waldorf do Brasil (FEWB)[1] a pedagogia supracitada trabalha na formação de pessoas livres, sensíveis e criativas tendo como cerne valores da fraternidade e responsabilidade, consciência de grupo, alimentação saudável e a relação respeitosa e produtiva com a natureza, divergindo assim da pedagogia tradicional que é mais conteudista, o que é corroborado por Silva (2015)[2] ao elucidar que nossa educação convencional é herdeira da tradição epistemológica racionalista e mecanicista.

Para a pesquisadora, ela reproduz fragmentos entre as instâncias da experiência humana tendo o seu ensino voltado apenas para aprendizagem cognitiva conceitual, promovendo a dissociação entre o pensar, o sentir e o fazer do educando, subtraindo toda experiência subjetividade, estética e lúdica no processo ensino-aprendizagem.

De acordo como blog Pitágoras[3] Os princípios da Pedagogia Waldorf sofrem influências da Ciências Sociais, dito isso, eles se fundamentam nos ideais da Revolução Francesa que tem como tríade a liberdade, igualdade e fraternidade, sendo assim, temos a liberdade de pensar, a igualdade de deveres e direitos e a fraternidade do respeito mútuo.

Piske e Stoltz (2021)[4] pontuam que natureza, universo, desenvolvimento cognitivo, emotivo e volitivo formam uma unidade na pedagogia Waldorf, sendo assim, não existe exclusividade em relação a intelectualidade, isso porque cada indivíduo é visto como um ser integral em todas as dimensões do desenvolvimento.

As pesquisadoras acima, esclarecem que a Pedagogia Waldorf é organizada de acordo com os setênios que são as fases do desenvolvimento humano, sendo que o primeiro ocorre entre os 7 primeiros anos de vida e nele são dedicados o “conhecimento e amadurecimento do corpo. A imitação é a base da aprendizagem. A criança elabora e cria brincadeiras diversas usando a imaginação”.

O segundo setênio, ocorre entre as idades 7 e 14 anos e nela as atividades artísticas afloram os sentimentos e emoções, desta maneira, faz-se necessário trabalhar atividades que envolvem o comportamento ético, sentimento de fraternidade e a forte relação entre pessoas e natureza.

Entre os 14 e 21 anos acontece o terceiro setênio e nele estão inseridos “os pensamentos, o raciocínio lógico, e o senso crítico em relação ao mundo começam a ser estruturados de forma abstrata”.

Com as observações acima, podemos fazer uma analogia com a denominada pelas autoras Martins e Fernandes (2024)[5] Escola Quintal, que tem como princípio a teoria construtivista.

Interessante constatar nas narrativas das pesquisadoras que este modelo de escola diverge do ritmo de vida conturbado de hoje em dia, que impõe uma volatilidade olvidando assim do essencial, que é ser criança, a inocência, a ingenuidade e o brincar.

Essa forma lúdica instiga os educandos a interagirem com um mundo voltado para a práxis, instigando em concomitância todos os sentidos e percepções interligados ao processo de conhecimento, assim sendo, é respeitado as singularidades de cada indivíduo quanto ao seu processo de ensino-aprendizagem.

Martins e Fernandes (2024, p. 90) acrescentam ainda que é por meio deste modelo de escola que é trabalhada a identidade de preservação “do território brincante, da cultura da infância, em um cenário histórico-urbano-cultural onde os espaços de brincar das crianças foram engolidos pela vida producente da capital”

Dito isso, pode-se afirmar que escola quintal converge com alguns princípios da Pedagogia Waldorf, já que esta pedagogia tem como fulcro o desenvolvimento de indivíduos livres, integrados, éticos, socializados e moralmente responsáveis, fazendo valer sua autonomia e protagonismo.

 

[1] https://fewb.org.br/pw.html

[2] SILVA, D. A. DE A. E .. Educação e ludicidade: um diálogo com a Pedagogia Waldorf. Educar em Revista, n. 56, p. 101–113, abr. 2015.

[3] https://blog.pitagoras.com.br/pedagogia-waldorf/

[4] PISKE, F. H. R.; STOLTZ, T.. Criatividade na pedagogia sociointeracionista e na Pedagogia Waldorf: implicações para o trabalho com superdotados . Educar em Revista, v. 37, p. e81545, 2021.

[5] MARTINS, Marina Pongeluppi; FERNANDES, Letícia Fonseca. Conhecendo o Centro Lúdico Interação e Cultura (CLIC!): Uma Escola quintal, onde brincam crianças de 4 meses a 11 anos de idade. In: NEVES, Inajara de Salles Viana; AMBRÓSIO, Márcia (Org.). Boas Práticas Pedagógicas e Gestão Inovadora. Coordenadora: Márcia Ambrósio. São Paulo: Pimenta Cultural, 2024. (Coleção Práticas Pedagógicas). p. 87-102.

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