ESCOLA EM TEMPO INTEGRAL – UM DESENVOLVIMENTO INTEGRAL OU A TRANSFERÊNCIA DE RESPONSABILIDADES?
Luci Mara Kumm
Licenciatura Plena em Pedagogia. Especialização em Ludopedagogia e Literatura na Educação Infantil e Anos Iniciais. Primavera do Leste - MT.
Edilene Regina da Silva
Licenciatura em Química. Especialização em Metodologia do Ensino de Química. Primavera do Leste - MT.
Joselâine Silva Lopes
Cursando Licenciatura em Pedagogia. Primavera do Leste - MT.
Juliana Gomes
Licenciatura Plena em Pedagogia. Especialização em Psicopedagogia e Educação Infantil. Especialização em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica. Primavera do Leste - MT.
Joana Souza Quinteiro
Licenciatura em Pedagogia. Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Primavera do Leste - MT.
A escola em tempo integral tem se tornado cada vez mais uma realidade nas cidades brasileiras. Os políticos e suas propostas educacionais tem se voltado fortemente para esta proposta; onde a maioria das ideias que envolvem educação, sempre se alinham a ideia da escola em tempo integral. Porém, vale traçar uma diferença latente entre a escola em tempo integral e a educação integral.
A escola em tempo integral buscar atender aos estudantes durante um tempo estendido, com a proposta de oferecer atividades extracurriculares; porém dentro do espaço escolar. Vem com a ideia do desenvolvimento pleno para a cidadania e a oferta de atividades diferenciadas das que são previstas na matriz curricular comum do país.
Já a educação integral, visa promover além do conhecimento sistematizado nas áreas do saber, a educação moral (que muitos atribuem como responsabilidade dos pais – o que concordamos). Entretanto, as propagandas tentadoras se apresentam carregadas das frases: “Você terá escolas em tempo integral para seus filhos; para que você possa trabalhar tranquilo enquanto seu filho está em um local seguro”. Vamos analisar esta frase, retirada de uma propaganda eleitoral de um candidato X de uma cidade do estado de Mato Grosso.
Na primeira sentença: “Você terá escolas em tempo integral para seus filhos [...]”, vem carregada de uma fundamentação especifica, onde oferece um espaço em tempo integral, ou seja, período estendido; e que logo se justifica a necessidade na sequencia a seguir: “[...] para que você possa trabalhar tranquilo enquanto seu filho está em um local seguro”. Perceba que a preocupação deste candidato, não se atém ao desenvolvimento das crianças. Ele reduz a escola a um espaço, onde será possível depositar a criança por um tempo estendido, onde os pais poderão se ausentar por mais tempo da vida das crianças sem muitos problemas, pois estarão em um ambiente seguro.
De fato, a escola é um ambiente seguro para que a criança se desenvolva; claro que não é completamente seguro, pois é um espaço inserido em uma sociedade que possui múltiplos valores e indivíduos com diferentes aspirações sociais e ideologias particulares. A questão aqui é tratar a escola como depósito de crianças, onde é possível deixar seu filho e se ausentar por mais tempo com a segurança de saber onde ele está.
Não somos contra a escola em tempo integral, muito menos a educação integral. Todavia, veemente contra o esquecimento das crianças neste ambiente para que seja terceirizada a responsabilidade de pais.
Acontece com muitos, onde o encargo da educação moral está sendo transferida totalmente para a escola, onde uma grande parcela acredita que ao deixar seu filho dentro da escola, ele deverá ser formado integralmente e devolvido aos pais com a moral, ética e educação completa; para que os pais apenas possam receber elogios aos seus filhos nas confraternizações com os amigos e familiares.
Não é novidade e nem realidade especifica de algumas cidades, onde os pais aparecem nas escolas apenas no momento da matrícula ou reuniões estritamente necessárias. Caos onde, a entrega de boletins de notas bimestrais já foi reduzida a duas vezes ao ano, para “facilitar” aos pais que não conseguem acompanhar bimestralmente o desenvolvimento de seus filhos. E até mesmo, pais que nunca apareceram em nenhuma entrega de notas ou reuniões que foram convocados.
Ou seja, a escola em tempo integral facilita o acesso dos estudantes a uma escola em tempo estendido; mas afasta cada vez mais a família do interior da escola, pois os pais estão regredindo ao entendimento primitivo da função da escola; ao qual era compreendida como um local onde se deposita a criança e quando termina o período, vai ate ela buscar o filho.
Muitas outras cidades, estão criando o entendimento que é necessário até a escola 24 horas, onde a criança vai poder dormir na escola, pois os pais precisam trabalhar; ou na necessidade poderão deixar seus filhos neste ambiente seguro. É claro que muitos pais não querem o peso da responsabilidade de serem pais. Educar, dá trabalho. Onde está ficando a outra função da escola, que é o ensinar?
Com tanta terceirização da responsabilidade dos pais, a escola realmente caminhará para a ausência cada vez maior dos deles dentro da vida escolar de seus filhos e iremos lutar sozinhos com a delinquência juvenil, a indisciplina sem solução e a intervenção pedagógica sem efeito, pois o poder parental não poderá ser requisitado, ou ficará ausente devido a “falta de tempo dos pais”.
Cabe a reflexão; a proposta da escola integral é para suprir a falta de tempo dos pais, ou ter mais tempo sem os filhos? A ausência dos pais na escola será justificada com a alta carga de trabalho que os pais serão sujeitos? Uma vez que a partir do momento que se coloca o filho na escola em tempo integral para trabalhar mais, qual tempo vai sobrar para ir até a escola?
Restará o sábado e o domingo; que talvez no futuro sejamos centros de evangelização aos sábados; ambientes de recreação aos domingos, ou até mesmo estender os estudos, afinal existem pais que trabalham aos sábados, domingos e feriados.
Quem sabe, o futuro caminha para a guarda compartilhada dos filhos com a escola, afinal ela assume cada vez mais funções parentais. Vale a reflexão.