Escola Democrática
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Muitos professores pleiteiam uma escola democrática, mas como ter uma escola democrática sendo que sequer pode-se escolher o seu diretor, já que em muitos lugares, trata-se de um cargo político baseado em trocas de favores nas quais a meritocracia deixa de ser um pré-requisito? Outras perguntas são levantadas por Souza em seu livro Introdução a Sociologia da Educação, publicado pela Autêntica em 2007. Para o autor, como a escola poderia ser moderna se ela continua se curvando ao tradicionalismo político? Onde está a sua autonomia? Que cidadãos autônomos, livres e participativos ela deseja formar se ela própria não é democrática?
Cabe-nos perceber que muitas gestões tem a marca da alteridade, e isso é uma forma de camuflar a insegurança e inabilidade dos gestores em lidar com pessoas.
Para Tomazi, em seu livro Sociologia da Educação, publicado pela atual em 1997, apesar das várias tentativas para democratizar o espaço escolar, isso é algo que fica apenas nos planos, ou seja, não sai da teoria, já que a imposição das autoridades se fazem presente na maioria das vezes nestas instituições e além do mais, os pais são os que mais desejam que a democracia não aconteça, já que ele quer que o professor faça o que ele não é capaz com seu filho, ou seja, impor limites e disciplina.
Baudelot no livro A sociologia da educação para quê?, publicado pela Pannonica Editora em 1991, o ato de democratizar o ensino implica em colocar a escola a serviço do povo e evitar de certa forma que os trabalhadores não recebam subprodutos das instruções reservadas aos futuros intelectuais.
O autor complementa que nesta democratização deve estar inserido o respeito pela razão, pela ciência, ideias e sentimentos que fazem parte da base da moral democrática.
Cabral em seu artigo intitulado A construção da escola democrática. Uma reflexão com base em Jacques Delors, publicado em 2007 [1] ressalta que escola democrática é uma construção jamais terminada e acrescenta que escola democrática deve ter por base a reinvenção participativa e autônoma da escola.
Obviamente que democratizar uma escola não deixa de ser um risco, mas este risco segundo a autora supracitada deve ser enfrentado. Deve-se instigar a participação da comunidade escolar para que o exercício da cidadania crítica seja efetivado.
Cabral ainda salienta que a edificação de uma escola democrática só acontece quando ocorre uma co-construção, o que exige uma atitude contra a centralização ou pode-se até contestar a alteridade em relação as tomadas de decisão, promovendo desta forma todo o potencial para uma intervenção social e cívico.
Democratizar a escola é redescobrir, partilhar, desenvolver e transferir o poder, e esta democratização acontecerá somente quando todos tiverem pleno conhecimento de que democracia na escola é uma invenção social.
Finalizando as falas acima, Lima em seu artigo A gestão democrática das escolas: do autogoverno à ascensão de uma pós-democracia gestionária?, publicado pela Educ. Soc., em 2014[2], esclarece que gestão democrática das escolas trata-se de uma complexa categoria político-educativo como também uma construção social como citado acima, o que não se pode dispensar a análise dos contextos históricos, dos projetos políticos e sua correlação com as forças em que ocorre.
Dito isso, que possamos sempre pleitear e efetivar o sonho de uma escola democrática, fazendo nossos alunos desenvolverem a cidadania crítica reforçando as falas da Harari em seu livro 21 Lições para o Século 21, publicado pela Companhia das Letras em 2018, quando afirma que toda democracia deve ser baseada no princípio de Abraham Lincoln de que "é possível enganar todas as pessoas por algum tempo, e algumas pessoas o tempo todo, mas não é possível enganar todas as pessoas o tempo todo", sendo assim, que nossos alunos não sejam enganados por este sistema político educacional, oferecendo a eles informações estéreis de forma a causar atrofia em seu pensar.
[1] Para mais informações vide CABRAL, Arlinda. A construção da escola democrática. Uma reflexão com base em Jacques Delors et al., Licínio Lima e Jaume Carbonell Sebarroja. Rev. Lusófona de Educação, Lisboa , n. 9, p. 181-185, 2007 . Disponível em <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-72502007000100012&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 24 mar. 2021.
[2] Disponível em https://www.scielo.br/pdf/es/v35n129/0101-7330-es-35-129-01067.pdf