03/12/2019

EPISTEMOLOGIAS E HERMENÊUTICA FILOSÓFICA

BRUM, Mara Lucia Teixeira *

RESUMO: O artigo se propõe a fazer uma breve retomada do caminho da episteme ao longo dos tempos, apontando os principais acontecimentos que promoveram as mudanças paradigmáticas é como esses vão aos poucos ganhando força uns sobre os outros, principalmente no que tange às ciências sociais e humanas novos métodos investigativos foram sendo retomados e aperfeiçoados na academia entre eles está a hermenêutica que tem se mostrado muito eficiente nas pesquisas bibliográficas qualitativa enquanto método de análise interpretativo no campo da educação, pois permite ao pesquisador obter uma compreensão dos significados dos fenômenos mais aprofundado, possibilitando ao pesquisador combinar a análise hermenêutica com outros métodos de análise  para fornecer mais precisão e poder melhor interpretar e compreender os significados do objeto estudado.

Palavras chave: Episteme, Hermenêutica método de pesquisa.

 

ABSTRACT: The article proposes to make a brief resumption of the episteme path through time, pointing the main events that promoted the paradigmatic changes and how those overpower each other slowly, specially in what touches the social studies new investigating methods which were resumed and perfected in the academy; among them is the hermeneutics, that has been shown to be very efficient in the qualitative bibliographic researches as interpretative analysis method in the education field, since it allows the researcher to comprehend the meanings of the phenomenons in depth, enabling the researcher to combine the hermeneutic analysis with other analysis methods to provide more precision and be able to better interpret and comprehend the meanings of the studied object.

 

KEY-WORDS: Episteme, Hermeneutics, research methods

 

Introdução

Ao começar a tecer este artigo, é preciso colocar que se acredita que em ciências humanas não pode haver separação entre pesquisador e pesquisado entre sujeito e objeto, porque a experiência e o significado atribuídos à experiência não são imediatamente observáveis e acessíveis a uma analise verdadeira ou falsa, portanto, estão fora dos limites de uma estrutura positivista. Daí a necessidade de buscarmos novos métodos de analise em pesquisa qualitativa na educação.

Portanto o objetivo desse artigo é mostrar a trajetória da episteme e os principais acontecimentos que deram origem às diferentes interpretações e divergências entre os pesquisadores no campo da pesquisa qualitativa, principalmente no campo da pesquisa em ciências humanas e sociais que muitas vezes são desvalorizadas em prol das ciências exatas por se trabalhar com pesquisa de natureza bibliográfica. Daí a necessidade de se ter métodos de análise que possibilita combinações com outros métodos para melhor compreender os fenômenos estudados que se apoie em paradigmas mais flexíveis capazes de dar conta tanto das questões filosóficas, jurídicas, estéticas e educativas. Para tal tarefa se busca apoio na perspectiva hermenêutica filosófica que tem se mostrado muito promissora em pesquisas educacionais, quando se busca interpretar e compreender a realidade dos autores assim  como sua visão de mundo,  auxiliando o pesquisador a compreender o texto e contexto das obras pesquisadas que são fundamentais quando se trata de  pesquisa bibliográfica qualitativa.

A metodologia usada para elaboração do artigo foi pesquisa bibliográfica nas principais obras ofertadas no Seminário Pesquisa I, e obras auxiliares sendo que o mesmo será dividido em duas partes e considerações finais. No primeiro momento se procura recuperar o sentido etimológico da palavra episteme, mostrando seu percurso ao longo da história, assim como os principais acontecimentos que levam às mudanças no campo epistemológico, bem como seus principais representantes nesse processo. O segundo momento trata dos caminhos da hermenêutica contemporânea em quanto metodologia de pesquisa em educação, delineando sua trajetória e sua importância no campo das ciências humanas e sociais, na visão de seus principais representante entre eles, Hans-Georg Gadamer, Friedrich Schleiermacher,   Wilhelm   Dilthey,   Heidegger   e   Paul   Ricoeur.  Por fim as considerações      finais     sobre     a    importância     da    hermenêutica      para     pesquisa educacional qualitativa.

A trajetória da Episteme na história

Antes de comerçar esse trabalho é preciso dizer que trabalhar com paradigmas nem sempre é tarefa fácil, porém necessária. Thomas Khun tem sido referencial importante na literatura contemporânea para abordar a questão. Para o autor, paradigmas são as “realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo fornecem problemas e soluções modelares aos praticantes de uma ciência” (1991, p.81). Já Capra (1988, p.17), ampliando este conceito, afirma que paradigma significaria a “totalidade de pensamentos percepções e valores que formam uma determinada visão de realidade, uma visão que é à base do modo como uma sociedade se organiza”. Um paradigma é apenas um referencial de análise e interpretação de uma realidade. Trata-se de uma construção teórica que tem o sentido de auxiliar a apreensão organizada das relações sociais, num tempo e num espaço que vem de séculos se modificando e se aperfeiçoando.

Para melhor entender como se deu esse processo é preciso voltar à origem, onde começaram os primeiros estudos sobre a episteme. A palavra grega episteme é a raiz da Epistemologia. Este termo filosófico é comumente associado à investigação da verdade e do conhecimento. Os filósofos gregos semearam o estudo e, a partir deste deu-se o crescimento de muitas ciências. O significado da palavra tem três distinções. Primeiro, a epistemologia pode ser a busca pelo conhecimento verdadeiro e científico em oposição à opinião ou crença. Em segundo lugar, a realidade é um corpo organizado de pensamento. Por fim, às vezes referida como a primeira filosofia é a compreensão do divino. A raiz da epistemologia está nos mínimos aspectos de nossa própria existência. A própria gênese de como a realidade é construída, deu origem a convenções para expressar nossa origem e as formas nas quais damos nomes às coisas. Assim brota uma reflexão crítica sobre a fonte e a essência do corpo sobrepondo-se ao nosso ambiente natural. Este processo de potencializar à realidade dá origem a raiz metafísica da epistemologia.

As reflexões sobre a natureza produziram questões conceituais que lançaram as bases para a filosofia num estudo não empírico da existência do conhecimento e dos valores. Os filósofos pré-socráticos depositam a origem da incerteza que se desenvolve no estudo da epistemologia; acreditavam que todas as coisas eram feitas de matéria e que somente através da razão das percepções dos sentidos pode ser encontrado o conhecimento. Na prática, o Método Socrático baseia-se na conceptualização de que a compreensão do seu conhecimento é limitada. Esta compreensão cria o terreno para uma busca interminável de conhecimento e, por sua vez, leva as pessoas à auto-realização. Platão, em sua busca pela justiça, estrutura o caminho da verdade e do conhecimento. Desde que a epistemologia de Platão evoluiu a partir da exploração do aparente, imaginado e lembrado. Seu principal objetivo era a ética, mas a partir dessa busca desenvolve-se a epistemologia. O primeiro argumento de Platão na epistemologia é feito entre a verdadeira crença e o conhecimento. Segundo ele um homem não pode inquirir sobre o que ele sabe, ou sobre o que ele não sabe; Pois se ele sabe, não tem necessidade de inquirir.

Aristóteles foi estudante de Platão por muitos anos e focou seus estudos no campo da biologia. Em Aristóteles, a razão era o caminho para o autoconhecimento, o movimento era causado por um primeiro princípio e, portanto, por nossa capacidade de atuar. Aristóteles faz a ponte entre a potencialidade e a realidade através da natureza, e com isso amplia os ramos da epistemologia. Sabe- se que a luta histórica pela valorização das ciências moderna passou por inúmeros e sangrentos esforços contra a ignorância da idade média, onde o paradigma de verdade estava embasado no dogma religioso e no conhecimento do senso comum.

A humanidade sofreu no século XVII uma grande transformação, foi o momento mais elevado do processo em que o homem revoluciona a ideia que ele tinha de si próprio e do mundo. O surgimento dos burgueses produz uma inovação cultural, a ciência física, que se revela é a matemática. A filosofia inicia um novo caminho reflexivo e passa questionar as bases dessa ciência. A revolução científica motivou a rompimento do padrão de inteligibilidade apresentada pelo aristotelismo, o que provocou, nos novos pensadores, o receio de enganar-se novamente. Talvez por isso o paradigma científico da modernidade tenha se firmado protegendo a neutralidade e negando o senso comum.  O método científico leva ao homem a ter mais fé na ciência para desvendar os segredos da natureza. Toda essa certa advém da ciência e do método científico que se generaliza e se mostrava capaz de tudo dar a conhecer servindo de modelo para outras ciências particulares que vão se destacando do corpo da "filosofia natural”. O século XVII ficou marcado pelo “divórcio” entre a filosofia e a ciência.

Nesse período se questionava qual seria o melhor método para se chegar o conhecimento das coisas. O conhecimento a priori é conhecimento adquirido ou justificado apenas pela razão, fora da influência direta da experiência. O conhecimento a posteriori é o conhecimento que se refere à experiência, ou seja, o conhecimento empírico. A questão fundamental era se existe um conhecimento a priori; Os racionalistas argumentaram que existe e os empiristas argumentaram que não existe. A questão então é como poderiam justificar as crenças. Os empiristas afirmam que o conhecimento é um produto da experiência humana. Mais especificamente, o empirismo ingênuo afirma que as ideias e as teorias precisam ser testadas contra a realidade para ver como elas correspondem aos fatos observados. Esta disposição está agregada a uma atitude positivista pela quais os métodos quantitativos são determinados. Isso causou desavenças que acabou gerando uma disputa ferrenha entre Racionalistas (Razão) e Empiristas (Experiência). Pode-se dizer que o racionalismo é o sistema que incide e limita o homem no domínio da própria razão, e o empirismo é o que o restringe na esfera do conhecimento sensível. Os empiristas vão dizer ao contrario, que a experiência é essencial, e a razão está a ela submetida.

Quanto ao resultado, os racionalistas acreditam na competência do homem de chegar à verdade universal, eternas, enquanto os empiristas questionam o caráter integral da verdade, já que o conhecimento esta numa transformação constante, sendo tudo relativo ao espaço, ao tempo, ao humano. O conhecimento passar a ser da realidade observada e submetida à experimentação. Desse modo, este saber deve retornar ao mundo para transformá-lo. Dá-se a aliança da ciência com a técnica. A questão agora era saber se homem é capaz de dominar todas as verdades relativas ao conhecimento. Deriva dessas questões epistemológicas, relativas ao conhecimento, a ênfase que marcará a filosofia daí por diante, gerando grandes mudanças no pensamento do século XVIII.

O século XVIII começa com três grandes acontecimentos: Iluminismo, Revolução Francesa, Revolução Industrial. Esses acontecimentos são frutos das mudanças do século XVII, que deram origem a uma nova classe social emergente: a Burguesia.  Com a ciência aliada à técnica faz surgir o modelo de um novo homem: o homem construtor, o artífice do futuro, que não mais se contenta em contemplar a harmonia da natureza, mas quer conhecê-la para dominá-la. A Revolução Industrial representa a materialização desse processo, ao passo que a união entre ciência e técnica provocou modificações nas relações entre o homem e a natureza, jamais vista antes. O século XVIII foi o auge da valorização da Razão. Com o Renascimento se desenrola a luta contra o princípio da autoridade e a busca dos próprios poderes humanos, pelos quais o homem tecerá a trama do seu destino.

Além disso, houve dois acontecimentos “arqueológicos” que abalaram profundamente a unidade do sistema do saber no século XVIII e que vão selar de vez o destino das ciências humanas na modernidade: “de um lado, na esteira de Newton, assiste-se no curso do século a elaboração de uma estratégia fenomenista, em substituição à via da redução às essências que comandou o sistema do saber no século XVIII”; de outro a “matemáticas, é a física que se eleva à condição de paradigma do conhecimento no campo das matérias de fato e de existência – desde as ciências naturais até as ciências humanas como tais”. (DOMINGUES, 1991 p.166).

Ainda no século XVIII, a estratégia discursiva é a via do ordenamento dos fenômenos, que “instala uma axiomática que associa o matematismo ao empirismo, e o divisor de águas é Newton”. (DOMINGUES, 1991 p.170). A idade das luzes, como diz Merleau-Ponty, “é a época do começo do fim da metafísica, o tempo em que a ideia de edificar um saber total da realidade total é vista como signo do delírio do espírito”.(DOMINGUES, 1991 p.172).  Conforme Domingues,

(...) ao invés de se apresentar como o arquétipo de um saber certo de si mesmo e livre de todas as ilusões (Aristóteles, Descartes, Leibniz e Espinosa), a metafísica se definirá a partir de então como o arquétipo de um saber ilusório, fundado não naquilo que há de mais excelente no espírito (a inquietude do Absoluto), mas no delírio do pensamento e na doença da linguagem. (DOMINGUES, 1991 p.171).

As leis de Kepler, o princípio da inércia, a lei de Boyle-Mariotte, a teoria da gravitação asseguram o sucesso do novo paradigma, cuja transparência inteligível, através de um efeito de retorno, põe em xeque a validade dos procedimentos utilizados pela teologia e pela metafísica.(DOMINGUES, 1991 p.173). A tarefa da desconstrução da metafísica e do sistema chegava, assim, ao fim: “o pecado do sistema é o apriorismo, e o da metafísica, o ontologismo – eis a suspeita e o motivo da condenação”. Ávida do absoluto e do transcendente, a metafísica construiu um sistema de pseudo conhecimentos que opera no plano do vocabulário e do vazio da linguagem, “postulando um em-si além da experiência (a coisa) e um salto da razão fora da experiência (a intuição), sem justificar nem este salto fora experiência nem este em-si além da experiência (apriorismo)”(DOMINGUES, 1991 p.176).  Mas de fato este monumento ao orgulho dos homens (o sistema) e esta atividade mais nobre do espírito (a metafísica), sem qualquer amparo da experiência, é uma construção artificial e um saber ilusório, e devem, portanto, desaparecer, cedendo seu lugar a algo bem mais modesto: o espírito positivo. (DOMINGUES, 1991 p.177). Nesse sentido o século XVIII sustenta o alicerce do conhecimento,

“(...) Ele busca uma outra concepção da verdade e da filosofia, que dá a ambas uma maior amplitude, uma forma mais livre e mais móvel, mais concreta e mais viva. A época das Luzes não toma de empréstimo este ideal de pensamento das doutrinas filosóficas do passado; ela o conforma à imagem da física, cujo modelo tem sob os olhos. (...) Os fenômenos são o dado; os princípios, o inquirido.” (DOMINGUES, 1991 p.179-180).

Assim, na esteira da reelaboração da noção de fenômeno e da ideia de lei, assistimos no curso do século XVIII ao triunfo do paradigma newtoniano no mundo da vida e dos homens. Mas este triunfo foi acompanhado de um rude sacrifício no campo das ciências humanas: (DOMINGUES,1991,p.199). Todos esses acontecimentos levam a uma ruptura no século XIX que foi marcado por grande avanço na ciência e na técnica, foi o tempo da revolução técnico científica, se teve avanço em vários ramos do conhecimento como na ciência naturais, matemática, surgimento da química orgânica e aplicada, descoberta da lei da conservação da energia, os domínios da física e da biologia. Além da do campo da ciência humanas que teve um salto quântico quando passa a criar um padrão de racionalidade próprio na história. Conforme Domingues, a “Episteme no século XIX prefere a vida ao agregado, o movimento ao repouso, e busca na história (devir) a chave do mundo da vida e dos homens”( DOMINGUES, 1991,  P.288). Já no século XX a Episteme sente-se mais à vontade com categorias orgânicas do que mecânica, e prefere a árvore a máquina: em biologia, fala-se do aparecimento, do desenvolvimento e do desaparecimento de espécies; em ciências humanas, das família e filiações linguísticas, das raízes do direito positivo nas regras não – escritas dos costumes, das séries temporais da história, da vida do espírito.

Todos esses acontecimentos afetaram o campo epistemológico, que vai adquirir mais cientificidade nos diversos campos do conhecimento, ficando a cargo da razão dar as cartas nesse processo; “tal é o sentido das obras de Darwin em biologia, de Marx em economia e de Bopp em filologia”. (DOMINGUES, 1991 p. 272). A dialética em Marx, a hermenêutica da compreensão em Dilthey, o método histórico-comparado em Bopp nos testemunhos esta inflexão, muito embora sem romper de todo com o paradigma biologicista a exemplo de Marx, que em mais de uma ocasião reconheceu suas dívidas para com Darwin. (DOMINGUES, 1991 p. 289).

Com o passar dos séculos o método experimental vai se aprimorando e vai sendo usado em outras áreas como na química, biologia, que vão aperfeiçoando as estruturas e desempenhos dos organismos vivos já no século XVIII. No século XIX, essas mudanças são visíveis tanto na área intelectual como industrial, novos elementos entram em sena o átomo, a luz, a eletricidade, ao magnetismo, a energia a navegações espacial e os transplantes a ciência deslancha com pesquisas em todos os campos da realidade.

Porém no na metade do século XX, com o avanço do conhecimento nas áreas humanas como ciências e as descobertas da relatividade das verdades construídas pela física mecânica, é que o método científico positivista começou a ser questionado, como o único capaz de validar o conhecimento sobre o homem e sobre o universo, passou a ser contestado pelas ciências exatas. Estas contestações provocaram críticas e estimularam a construção de novos paradigmas que melhor sejam capazes de responder aos desafios atuais e futuros do mundo contemporâneo, negando a neutralidade e as dicotomias próprias da concepção positivista de ciência.

Essas divergências entre as diversas correntes epistemológicas levam a o reordenamento dos campos do saber e abre espaço para retomada de novos paradigmas, isto é, métodos de análises que antes não eram tão usados nas pesquisas educacionais qualitativas, passam a ser usados de maneiras mais abrangente e discutidos por diversos autores que sob nova ótica, por serem métodos de análises mais flexíveis mais próximo da realidade das ciências humanos e sociais que levem em conta a historicidade, contextualidade e intersubjetividade dos sujeitos, nesse caso a hermenêutica é retomada como método de análise nas pesquisas qualitativas no campo educacional e social, conforme veremos a seguir. .

A ontologia hermenêutica

A Hermenêutica tem uma origem mitológica na figura do deus Hermes, deus mensageiro, aquele que lida com o significado. Ela emergiu como uma resposta às questões levantadas pelo debate da Reforma sobre o significado autêntico do texto bíblico e pelas perguntas do Iluminismo sobre epistemologia e filologia. Os reformadores desafiaram a compreensão católica romana de que o texto só poderia ser interpretado através da lente da tradição e que seu verdadeiro significado não era imediatamente evidente para o leitor individual. Afirmaram que a verdade era acessível ao leitor contemporâneo e que a base para a fé e a doutrina poderia ser desenvolvida sola scriptura sem referência à tradição. Segundo Hermann a “hermenêutica provém de uma longa tradição humanística, relacionada à interpretação dos textos bíblicos, à jurisprudência e à filologia clássica” (HERMANN, 2002, p. 15). Ao longo dos séculos, foram se desenvolvendo “várias hermenêuticas” e entre elas podemos citar a Hermenêutica jurídica, a Hermenêutica teológica e a Hermenêutica filosófica, esse último objeto do nosso estudo.

Como se pode notar a Hermenêutica não é considerada um conceito da atualidade, segundo o filósofo Hans-Georg Gadamer (1900-2002), autor da obra capital da hermenêutica do séc. XX, Verdade e Método, para quem a hermenêutica é tão antiga quanto à filosofia. O termo Hermenêutico, ou a “Arte de Interpretar”, provém do grego hermēneuein e significa declarar, anunciar, interpretar, esclarecer e traduzir e, por isso, em vários dicionários encontramos hermenêutica como a “a arte ou a  técnica  da  interpretação”.  Nadja  Hermann  (2002,  p.15)  afirma  que hermenêutica vai além da interpretação do sentido da palavra, segundo ela, é a “arte de interpretar o que está nos símbolos e também interpretação científica baseada na realidade humana”. No entanto a interpretação e a compreensão não são apenas formas de conhecer, são as formas pelas quais as pessoas lidam com a realidade. Gadamer (1998) afirma que a compreensão é o elo universal em toda a interpretação.  Para Gadamer (1998, P. 25) a hermenêutica não é uma “metodologia das ciências humanas, mas uma tentativa de compreender o que são verdadeiramente as ciências humanas para além de sua autoconsciência metodológica, e o que as liga à totalidade da nossa experiência do mundo”. Portanto a hermenêutica exigia uma compreensão da visão de mundo do autor de seu contexto e das ideias chaves particulares do autor que estão incorporada no texto.

É este movimento dialético entre texto e contexto, parte e todo, é o que se chamou de "círculo hermenêutico". Para Schmidt (2014), a noção do círculo hermenêutico é central para a compreensão hermenêutica. Tradicionalmente, o círculo hermenêutico significava um processo metodológico ou condição de compreensão, a saber, que a compreensão do significado de todo o texto e a compreensão de suas partes são sempre atividades interdependentes. Portanto dar um significado ao todo é dar sentido às partes, é captar o significado das partes para que o todo possa ter sentido. No entanto pode se dizer que o círculo tem dois polos, por um lado, o objeto de compreensão compreendido como um todo, e, por outro, as várias partes de que o objeto de compreensão é composto. Pode se dizer que o objeto da compreensão é tomado como um todo, é entendido pelas suas partes, e este entendimento envolve o reconhecimento de como essas partes são integradas no todo, isto é, as partes, uma vez integradas, definem o todo. Os dois polos do círculo hermenêutico estão, portanto, ligados em uma relação de esclarecimento mútuo. Para Friedrich Schleiermacher (1768-1834) a prática da hermenêutica não era tanto buscar o entendimento, mas evitar mal-entendidos. Foi uma tentativa de recriar, na medida do possível, a intenção original do autor libertado da contaminação das interpretações tradicionais e da cultura contemporânea. Sua abordagem dual "gramatical" e "psicológica" da interpretação reconheceu que o texto tinha que ser entendido como o autor teria pretendido, e isso exigiu rigorosa análise literária e histórica.

No entanto, a intenção do autor não podia ser totalmente transmitida através do idioma e, portanto, o intérprete teve que, na medida do possível, compreender a mente do autor. O que tornou possível esta reavaliação do pensamento do autor para Schleiermacher foi o espírito humano compartilhado do autor e do leitor, mas exigiu um método rigoroso para preencher a lacuna e evitar o mal-entendido que era a consequência inevitável de um laxismo da compreensão. A preocupação de Schleiermacher com a hermenêutica ainda era essencialmente fornecer um método de interpretação da escritura para a mente moderna de uma forma que tivesse integridade e relevância. Nesse sentido a hermenêutica filosófica marca sua posição contra um modo exclusivo de ter acesso ao conhecimento, admitindo outra “racionalidade em que o fundamento da verdade não está nem nos dados empíricos nem na verdade absoluta; antes, é uma racionalidade que conduz à verdade pelas condições humanas do discurso e da linguagem” (HERMANN, 2002, p. 20).

Outro autor que muito contribui para o desenvolvimento da hermenêutica foi Wilhelm Dilthey (1833-1911) que expandiu o horizonte da interpretação para incluir as ciências humanas e sociais. Dilthey dedicou grande atenção à experiência vivida (Erlebnis) e à possibilidade de interpretar expressões da experiência vivida porque todos os seres humanos participam de um espírito comum. Dilthey tinha um entendimento que os seres humanos são seres históricos em que a visão de mundo do indivíduo se desenvolveu dentro da sociedade e da cultura, de modo que as relações e as sensações e sentimentos engendrados por sua experiência no mundo contribuem para a sua visão de mundo. Os textos produzidos tanto escritos como artísticos representam expressões dessa visão de mundo, e a tarefa da hermenêutica era recriar na mente do leitor, a visão de mundo do autor. Esta compreensão da tarefa da hermenêutica mudou radicalmente no final do século XX, resultando particularmente do pensamento de Martin Heidegger (1889-1975).

Segundo Heidegger (Heidegger in Schmidt, 2014, p.136-137) "a interpretação não é uma atividade isolada, mas a estrutura básica da experiência"; Ser humano é ser um intérprete da experiência. A hermenêutica pressupõe um texto que, na compreensão de Schleiermacher, significaria o texto bíblico, e o texto se torna uma lente através da qual a experiência é interpretada, através da subjetividade do pesquisador.  A  partir  de  Edmund  Husserl  (1859-1938)  e  seu  estudante  Martin Heidegger, a noção de múltiplas subjetividades foi introduzida no início do século XX. Esta ideia argumentava que o mundo podia ser visto (construído) de várias maneiras diferentes, o que dependia da noção de realidade (verdade ou fato). Essas abordagens ontológicas de conhecer, perceber e interpretar o mundo são geralmente agrupadas em quatro categorias distintas: realismo[1], empirismo[2], positivismo[3] e pós-modernismo[4]. No entanto essas categorias não serão aprofundadas neste estudo, somente apresentadas. Os Hermenêuticos subsequentes reconheceram que os princípios da hermenêutica evoluíram das escrituras para interpretar diferentes contextos, podendo ser aplicada em qualquer texto, Ou mesmo nas obras de arte que são também expressões de significado.

Conforme Schmidt (2014) para Heidegger e Gadamer a circularidade da interpretação não é simplesmente um processo ou condição metodológica, mas também uma característica essencial de todo conhecimento e compreensão, portanto toda interpretação se baseia em outras interpretações. A interpretação é vista como uma característica inescapável de todos os esforços humanos para entender; "Não há nenhuma evidência especial, método, experiência ou significado que seja independente da interpretação ou mais básico a ele de modo que se possa escapar do círculo hermenêutico" (SCHMIDT, 2014, p.113). No entanto o círculo hermenêutico não é vicioso porque é alimentado constantemente com novas informações. Seguindo a trajetória da hermenêutica vamos encontrar outro autor que marcou presença nas discussões sobre a hermenêutica que foi Paul Ricoeur (1913- 2005) que sugeriu uma abordagem diferente, propondo que o texto precisa ficar sozinho como uma realidade objetiva, já que a mente do autor é inacessível ao leitor. Conforme o autor “a hermenêutica é a teoria das operações de compreensão em sua relação com a interpretação dos textos" (Ricoeur, 1990, p.17). Porque consiste na tentativa de exprimir e de dizer o sentido não dito, embora dizível, da existência e da vida. “E é justamente por isso que ela é essencialmente hermenêutica, vale dizer, interpretação e explicação de um sentindo pré-dado, de um sentindo que constitui a sedimentação de uma vida e o dom de uma tradição” (cf. Ricoeur, 1990,  p.7).

Acredita-se numa posição intermediária que leve a sério a intenção do autor e a sua situação de vida, mas que leva também a sério a capacidade do leitor de derivar significado contemporâneo do texto que pode ir além da compreensão do autor e do público original. É claro que os significados derivados neste processo ainda não reivindicam ser absolutos ou universais por causa das limitações da linguagem e o que Gadamer (1998) chamou de "horizonte de significado” dentro do qual as declarações foram colocadas. Ricoeur reconhece que o desejo de objetividade cria uma distância entre o leitor e o texto, particularmente se alguns pressupostos ou entendimentos falsos são reconhecidos na visão do mundo do autor.

No entanto, ele queria preservar a sensação de que a verdade em um texto ainda pode ser discernida, desde que a metodologia utilizada seja capaz de identificar e afastar qualquer coisa que surja de uma falsa consciência do autor - um processo que ele descreveu como "desmistificação". É claro que isso levanta a questão do que se entende por "verdade" e "falsidade" Uma questão que é mais do que semântica. No entanto a visão de mundo do autor precisa ser reconhecida; E explicado no processo hermenêutico. No processo de interpretação, também se deve ter em conta a visão de mundo do intérprete e reconhecer que tem limitações e erros, como o faz o autor. A subjetividade, segundo Gadamer,(1998) era um "espelho distorcedor"; A tarefa da hermenêutica era trazer uma fusão dos horizontes do passado e do presente, mas é o horizonte do passado que precisava informar o horizonte do presente. Nessa perspectiva, os textos são interpretados através da lente histórica e culturalmente situada da percepção e da experiência do pesquisador. Essa ênfase na historicidade e no significado da linguagem como veículo para os esforços interpretativos são dimensões-chave do pensamento de Gadamer.

Além disso, de acordo com Gadamer (1998), "a linguagem é o meio universal no qual a compreensão ocorre. Compreensão ocorre na interpretação" (p.389). Ele sugere que "para ser capaz de expressar o significado e o assunto de um texto, devemos traduzi-lo em nossa própria língua" (p.396). Gadamer enfatiza a interpretação verbal como a forma de toda interpretação, mesmo quando o que está sendo interpretado não é de natureza linguística. Assim, reconhece-se o papel da linguagem e o preconceito condicionado pelas circunstâncias históricas na análise interpretativa dos textos. Gadamer (1998, p.65) descreve a hermenêutica "como a habilidade de deixar as coisas falarem, que vêm a nós de uma forma fixa e petrificada, a do texto". O intérprete tem que modular, usar entonação. Ele compara a interpretação de um texto à arte da tradução, ressaltando que, em ambos os casos, se nós, como intérprete, queremos enfatizar uma característica que é importante para nós, então podemos fazê-lo apenas minimizando ou suprimindo outras características. "A tradução como toda interpretação é um destaque, um tradutor deve entender que destacar é parte de sua tarefa" (GADAMER, 1998, p.386). Isto gera uma limitação dentro dos estudos interpretativos, pois traz a ideia de que todas as narrativas contam uma história no lugar de outra história.

No entanto a hermenêutica abraça a ambiguidade. Segundo Gadamer (1998, p.70), a hermenêutica "é encarregada de tudo o que não é familiar e nos parece significativo". Uma visão hermenêutica resiste à ideia de que pode haver uma única leitura autoritária de um texto e reconhece a complexidade do esforço interpretativo. Por exemplo, Gadamer (1996, p.388) explica que na “análise textual, a partir de uma perspectiva hermenêutica, o significado de um texto não deve ser comparado com um ponto de vista fixo”. Em vez disso, entender um texto sempre significa aplicá-lo a nós mesmos e saber que, mesmo que ele sempre deve ser entendido de maneiras diferentes. Porque o núcleo da hermenêutica assenta-se na premissa de interpretações variadas e com isso há experiência subjetiva do pesquisador não é a única a ser levada em consideração, mas também a dos participantes. Pois a hermenêutica permite fazer interpretações e ganhar uma compreensão aprofundada do fenômeno pesquisado. Propicia interpretações subjetivas na pesquisa de significados de textos, arte, cultura, fenômenos sociais e pensamento. Pois a análise Hermenêutica permite combinar vários métodos de análise, os quais são baseados na interpretação, possibilitando incluir várias abordagens diferentes, permitindo obter uma compreensão aprofundada dos significados dos textos pesquisados e das suas principais ideias. Além do entendimento das práticas humanas, cultura, obras de arte e textos que fazem parte do contexto do estudo. O método hermenêutico dialético evita tomar um ponto de vista como absoluto renegando os demais. A utilização do método hermenêutico-dialético possibilita a realização de um processo dinâmico de pesquisa, sendo possível trabalhar de forma paralela dois métodos que facilitarão a construção de uma nova realidade do objeto estudado.

 

Considerações finais

A ciência nos moldes como se apresenta hoje, é recente só na idade moderna adquiriu o caráter científico que tem atualmente. Entretanto, desde o início da humanidade já se encontra os primeiros traço rudimentares de conhecimento e técnicas que constituirão a futuras ciências. A concepção positivista foi acusada pela solidificação dos paradigmas científicos atuais e, se por um lado esta foi uma ajuda importante, por outro, tornou a organização do conhecimento refém de seus princípios.

As relações que se estabelecem e as ações desenvolvidas na perspectiva de uma hermenêutica filosófica oportuniza ao aluno um processo de confrontação consigo mesmo, com suas crenças, preconceitos, e ideologias, permite um entendimento dos seus medos, das suas dúvidas, ou seja, a compreensão dos porquês e o aclaramento dos acontecimentos que atormentam sua vida e a partir desta compreensão se propõe uma nova construção do ser.

A Epistemologia e a Hermenêutica têm uma relação profunda com ajuda da analise de vários autores que trataram sobre esse conceito, como de suma importância para a transformação da realidade, e dependendo do ponto de vista, vai se trilhando um caminho para o aperfeiçoamento do ser humano, e como este pode conviver melhor com o outro. Não devemos esquecer que a educação deve ser refletida a luz dos paradigmas porque esses e que vão dar um norte ao objeto de pesquisa, sendo que a hermenêutica possibilidade uma interpretação, mais abrangente por se aliar com vários métodos de analise para chegar ao mais próximo da verdadeira essência do “ser”. Concluímos, então, que a filosofia Hermenêutica no que tange à Educação vem oportunizar uma retomada do diálogo e da reflexão, onde o processo de interpretação e compreensão exige uma abertura aos pensamentos e visões de mundo bem como das visões e pensamentos do outro. Portanto, avançar nas relações entre o pedagógico e o epistemológico constituiu-se numa significativa contribuição, pois entender que a percepção de conhecimento sustenta uma forma de ensinar e aprender. Ao passo que hermenêutica crítica no campo da pesquisa qualitativa proporciona um espaço de apropriação crítica desse conhecimento.

 

Referencial Teórico

Aranha, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando - introdução à filosofia . Ed. Martins. – São Paulo  Moderna, 1986.

CAPRA, Fritjof. Sabedoria incomum. São Paulo: Cultrix, 1988.

CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: Unesp, 1999.

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* Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da FaE/UFPel, Mestre em educação – UFPEL (2014); Especialista em Psicopedagogia Institucional pela UCB (2005) Especialista em Educação Infantil pela UCB (2004). Graduada em Pedagogia – FURG (1998), professora pesquisadora curso de Pedagogia EAD/UFPel ./ Pedagoga – Universidade Federal do Rio Grande – FURG . e-mail: marabrum@gmail.com

[1] O realismo preocupa-se com a noção de que existem verdades e fatos universais que podem ser descobertos através da exploração ativa. Esses fatos são independentes do contexto no qual eles são encontrados, de modo que os sistemas e hierarquias que eles permitem são essencialmente estáticos. (SCHMIDT, 2014).

[2] O empirismo rejeita a noção de verdades e fatos universais que simplesmente existem, mas sim postula que os fatos só podem tornar-se claros por uma observação cuidadosa e avaliação do mundo que nos rodeia. Esta ideia pressupõe que o mundo ao nosso redor é real, o que sabemos; E portanto não leva em conta a noção de percepções ou interpretações da realidade (SCHMIDT, 2014).

[3] O positivismo leva as ideias do empirismo um passo adiante, rejeitando a noção de fatos claros a serem encontrados, e se preocupa quase inteiramente com o que pode ser observado e, portanto, codificado. É através de uma análise dessas observações codificadas que alguma explicação (não necessariamente um fato) pode ser oferecida. Esta ideia é baseada na noção de que o que é real pode ser observado. (SCHMIDT, 2014 .)

[4] O pós-modernismo se preocupa com as próprias subjetividades postas por Husserl (e Heidegger), na medida em que os fatos não são rígidos, mas mudam de acordo com a interpretação individual do mundo que os rodeia. Portanto, há uma necessidade de uma maior compreensão dos sistemas e hierarquias 'indivíduos têm estabelecido para compreender o mundo. (SCHMIDT, 2014.p.78).

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