16/01/2018

Epistemologia de Popper - Conexões com a Biologia

EPISTEMOLOGIA DE POPPER – Conexões com a Biologia

 

                                                                                                                                         Peterson Ayres Cabelleira[1]

Resumo

O presente trabalho apresenta um ensaio da epistemologia de Karl Popper correlacionando com o conteúdo “Teorias de Origem da Vida”, resgatando segundo o referido autor as possibilidades de refutabilidade ou falseabilidade. Para tanto, após a análise das Teorias apresentadas em quatro páginas da internet: todamatéria[2], planetabiologia[3], brasilescola[4] e mundoeducação[5], resgatou-se o embasamento teórico da epistemologia de Popper que investiga a sequência de idéias em uma pesquisa científica.Segundo o epistemólogo ss refutações são de fundamental importância na medida que impulsionam o avanço rumo a melhores explicações.

Palavras-Chave: Epistemologia, Karl Popper, Biologia.

A epistemologia de Karl Popper

A seguir apresento um ensaio sobre as Teorias da Origem da Vida e as seguencias de refutabilidades que contribuíram para a evolução da pesquisa científica deste tema, que para Popper é a própria essência da natureza científica. Assim, uma teoria só pode ser considerada científica quando é falseável, ou seja, quando é possível prová-la falsa. Esse conceito ficou conhecido como falseabilidade ou refutabilidade. Inclino-me a afirmar que deveríamos tentar determinar o que eles [os cientistas] “devem” [“ought”] fazer. Esse “devem” obviamente não tem teor ético (embora a ética esteja também envolvida aqui), mas seria antes o “devem” de um imperativo hipotético. A questão é: “Como deveríamos proceder caso desejássemos contribuir para o crescimento do conhecimento científico?” E a resposta é: “Você não tem melhor alternativa que proceder conforme o método crítico de tentativa (conjectura) e eliminação do erro, procurando testar ou refutar suas conjecturas.” O argumento que suporta essa resposta pertence à lógica situacional. Não penso que devemos nos voltar para a questão (sociológica) sobre o que os cientistas realmente fazem ou dizem (POPPER, 1974b, p. 1036).

O interesse de Popper não era a busca por um método gerador de algo alcançado, mas sim uma metodologia que sustente processos de tópicos e metas empíricas, assegurando a crítica no âmbito científico. A falseabilidade é uma forma de elaborar critérios para avaliar a cientificidade de uma teoria, na medida em que ela é desenvolvida, podendo ser refutada, com base na experiência. Este critério popperiano – falseabilidade, parte do método dedutivo de prova, um procedimento crítico para testar e gerar hipóteses a partir de seu conteúdo. Segundo Popper, o que não é falseável ou refutável não pode ser considerado científico. Para tanto, estabeleci algumas relações com as teorias de origem da vida. Tais teorias seguiram seqüências de idéias, das quais foram sendo refutadas, originando novas propostas.

Entendendo as teorias de origem da vida

            No princípio acreditava-se que a criação do universo tivera sido por existência divina, essa teoria recebeu o nome de criacionismo. Já no tempo da Grécia antiga essa teoria não era satisfatória. De modo a contornar a necessidade de intervenção divina na criação das espécies, surgem várias teorias alternativas, baseadas na observação de fenômenos naturais, tanto quanto os conhecimentos da época o permitiam. Posteriormente Aristóteles elaborou uma dessas teorias, cuja aceitação se manteve durante séculos, com a ajuda da Igreja Católica, que a adotou. Esta teoria considerava que a Vida era o resultado da ação de um princípio ativo sobre a matéria inanimada, a qual se tornava, então, animada. Deste modo, não haveria intervenção sobrenatural no surgimento dos organismos vivos, apenas um fenômeno natural, a geração espontânea. Estas idéias perduraram até a era moderna, pois Van Helmont ainda considerava que os “cheiros dos pântanos geravam rãs e que a roupa suja gerava ratos, adultos e completamente formados”. Também era considerado correto pelos naturalistas que os intestinos produzissem espontaneamente vermes e que a carne em putrefação gerasse moscas – Teoria da abiogênese.

No século XVII o naturalista Francisco Redi posicionou-se contrário as idéias de Aristóteles, negando a existência do princípio ativo e defendendo que todos os organismos vivos surgiam a partir de inseminação por ovos e nunca por geração espontânea, provando isso através do experimento com carnes e o surgimento de vermes. Esta experiência parecia negar, inequivocamente a abiogênese de organismos macroscópicos, tendo sido aceito pelos estudiosos da época. No entanto, a descoberta do microscópio veio levantar a questão novamente. A teoria da abiogênese foi parcialmente reabilitada, pois parecia a única capaz de explicar o desenvolvimento de microrganismos não visíveis a olho nú.

Louis Pasteur pôs definitivamente termo à idéia de geração espontânea com uma série de experiências conservadas para a posteridade em diversos museus franceses. Pasteur colocou diversas infusões em balões de vidro, em contato com o ar. Alongou os pescoços dos balões á chama, de modo a que fizessem várias curvas, os chamados pescoços de ganso. Ferveu os líquidos até que o vapor saísse livremente das extremidades estreitas dos balões. Verificou que, após o arrefecimento dos líquidos, estes permaneciam inalterados, tanto em odor como em sabor. No entanto, não se apresentavam contaminados por microrganismos. Ficou definitivamente provado que, nas condições atuais, a Vida surge sempre de outra Vida, preexistente.

Dados obtidos a partir de diversos campos da ciência permitiram que na década de 30 o russo Alexander Oparin formula-se uma teoria revolucionária, que tentava explicar a origem da Vida na Terra, sem recorrer a fenômenos sobrenaturais ou extraterrestres. Sua hipótese se resume nos seguintes fatos: a vida teve origem a partir da evolução de compostos orgânicos, que se combinaram formando diversos tipos de moléculas orgânicas simples, como aminoácidos, carboidratos, bases nitrogenadas, etc., que por sua vez se combinaram formando moléculas mais complexas como lipídios, ácidos nucléicos, proteínas, que se agruparam formando estruturas complexas, dando origem aos seres vivos primitivos – os coacervados.

Oparin não teve condições de provar sua hipótese, mas, em 1953, Stanley Miller realizou em laboratório uma experiência. Colocou num balão de vidro: metano, amônia, hidrogênio e vapor de água, submeteu-os a aquecimento prolongado. Uma centelha elétrica de alta tensão cortava continuamente o ambiente onde estavam contidos os gases. Ao fim de certo tempo, Miller comprovou o aparecimento de moléculas de aminoácido no interior do balão, que se acumulavam no tubo em U.

Pouco tempo depois, em 1957, Sidney Fox submeteu uma mistura de aminoácidos secos a aquecimento prolongado e demonstrou que eles reagiam entre si, formando cadeias peptídicas, com o aparecimento de moléculas protéicas pequenas. As experiências de Miller e Fox comprovaram a veracidade da hipótese de Oparin.

Esta breve retomada nas teorias da origem da vida nos mostram que não somente os acertos impulsionam ao sucesso da ciência, mas as tentativas mesmo que refutadas contribuem para o andamento e a capitação de idéias e matérias para o avanço da pesquisa em qualquer área do conhecimento. Segundo Popper (1992, p. 134), o objetivo da ciência é “avançar para teorias de conteúdo cada vez mais rico, teorias com um grau cada vez mais elevado de universalidade, e com um grau cada vez maior de precisão”. Tal busca tem como meta encontrar explicações satisfatórias, isto porque uma explicação se dá a partir de leis, experimentos, rigorosamente testados. As refutações são de fundamentais, pois impulsionam o avanço e o melhoramento das pesquisas. Juntamente com Popper outro epistemólogo contribui para este estudo – Thomas Kuhn[6], trazendo um novo conceito – a ciência normal[7].

Quando se trata de teorias históricas [...] posso dizer com Sir Karl que cada uma delas foi dada por verdade em sua época e depois posta de lado por falsa. De mais a mais, posso dizer que a teoria mais recente é a melhor das duas como instrumento para a prática da ciência normal [...]. Podendo chegar a esse ponto, não me sinto relativista (KUHN, 1979, p. 326-327).

 

Considerações Finais

Desta forma, quando analisa o progresso de uma teoria,Thomas Kuhn compartilha com Popper o fato de que, em um determinado momento da história de uma ciência, mesmo quando uma teoria é considerada verdade, um novo momento pode surgir tornando-a falsa. Kuhn condiciona essas oscilações das teorias ao progresso científico.

Referências

KUHN, T.  “Reflexões sobre meus críticos”. In: LAKATOS, I. e MUSGRAVE, A. A crítica e o desenvolvimento do conhecimento: quarto volume da atas do Colóquio Internacional sobre Filosofia da ciência, realizado em Londres, em 1965. São Paulo: Ed. Cultrix, 1979, p. 285-343.

POPPER, Karl Raimund. “Replies to my Critics”. In: SCHILPP, Paul Arthur (org.). The Philosophy of Karl Popper (vol.II), p. 959-1197. La Salle: Open Court, 1974b.

POPPER, Karl Raimund. Realism and the Aim of Science. London and New York: Routledge, 1992.

 

[1] Acadêmico do Programa de Mestrado de Ensino da Ciência, UNIPAMPA – Campus Bagé, RS. E-mail: petersoncabelleira@hotmail.com

[2] Disponível em: https://www.todamateria.com.br/origem-da-vida

[3] Disponível em: https://planetabiologia.com/a-origem-da-vida-na-terra-resumo

[4] Disponível em: http://brasilescola.uol.com.br/biologia/origem-vida.htm

[5] Disponível em: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/biologia/origem-vida.htm

[6] Físico e filósofo da ciência estadunidense, dedicou-se aos estudos sobre história da ciência e filosofia da ciência, tornando-se um marco no estudo do processo que leva ao desenvolvimento científico.

[7]ciência normal é o período durante o qual se desenvolve uma atividade científica baseada num paradigma, estabelecendo três classificações possíveis para a constituição da ciência normal: determinação do fato significativo, harmonização dos fatos com a teoria e articulação da teoria.

 

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