ENEM é para os Melhores
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
O ENEM, conhecido como Exame Nacional do Ensino Médio é a principal forma de se ingressar nas universidades públicas (Federais e Estaduais), por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), e estas instituições de ensino superior determinam o que muitos determinam o corte, ou seja, a nota mínima no Enem, para que o aluno possa se ingressar.
Obviamente que dependendo do curso, o corte pode ser alto ou baixo, o que está ligado a demanda pelo curso.
Este método de corte ressalta que quanto maior for sua nota, mais chances terá de entrar no curso e ocupar uma cadeira em sala de aula.
Muitos vêem como uma forma democrática de entrar na universidade pública, entretanto a realidade brasileira mostra justamente o contrário.
O Enem ressalta o abismo que existe entre o ensino médio público e privado.
Embora para nosso governo e algumas pessoas que trabalham para ele, as pesquisas não tenham valia, para nós que temos pensamentos inteligíveis e desenvolvimento cognitivo normal, acreditamos que a ciência é o caminho para a evolução da sociedade, o que é corroborado Prates[1] em seu texto intitulado Ser de família rica ou pobre faz diferença brutal no Enem. Segundo o autor, a variação em relação a nota de redação varia 40%, entre uma família que ganha entre 15 a 30 salários e uma família ganha em média um salário mínimo
Interessante perceber que as desigualdades também são ressaltadas mediante a natureza das instituições educacionais. Para uma rede pública, a nota média é de 486 e nas privadas é de 612.
O problema maior está por vir, já que o governo quer aos poucos inserir o Enem digital. Cabe ressaltar que nem todos alunos têm uma infraestrutura para realizar este exame.
Como disse o ministro Weintraub sobre Enem: 'Não é para atender injustiças sociais, é para selecionar os melhores'. Infelizmente das muitas estultices que se lhe são comuns, esta ele está certo. O Enem realmente é para os melhores e nisso não está incluído o pobre, o negro, já que apenas 34% dos alunos de ensino superior são negros no Brasil[2]
Em 2011, aconteceu o 22º Congresso Anual de Educação, patrocinado e organizado pelo SINPEEM – Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo – SP, e o tema do Congresso era “O Cultural, o social e o político na Educação" e eu pude participar de uma mesa redonda com o tema : “Papel social da Escola na formação do cidadão crítico”. Observe que o tema citado diverge das falas de nosso ministro,
Durante minha palestra, falei da idiotização dos nossos alunos nas escolas publicas contribuíam com a eletização das universidades federais, já que a maioria que entre nestas universidades são oriundos de escolas privadas, cujo ensino e infraestrutura são melhores.
Agora, devido ao Coronavirus, imagine o Enem hoje o abismo que abriria entre um aluno de uma instituição pública e de uma instituição privada, já que a abrangência é muito baixa para os alunos beirando a 20% apenas sem contar com problemas na comunicação como disponibilidade de banda larga.
Realmente as injustiças sociais não devem ser atendidas no Enem, mas estas não poderiam em momento algum ocorrer e como ministro da Educação, este indivíduo deveria pensar em algo para equiparar a educação pública.
Por isso afirmo, a educação pública brasileira passar por problemas, um político pela falta de interesse e outro pelo social, já que se trata de uma educação excludente se comparado com o ensino privado.
Se houvesse uma vontade política, os parlamentares teriam aprovado o projeto de lei criado pelo então senador do Distrito Federal Cristovam Buarque (PDT). Este projeto obriga os filhos de políticos a estudarem em escolas do governo. Só assim as escolas teriam investimentos necessários e professores valorizados, o que seria a um bom começo. Infelizmente este projeto encontra-se engavetado há mais de 11 anos.
Por isso que Darcy Ribeiro afirmava que a crise na educação brasileira tratava-se de um projeto, e isso nos faz confirmar que a vontade política é ter o povo como "idiota útil" conforme as falas do governo.
[1] Para mais informações vide https://exame.com/brasil/ser-de-familia-rica-ou-pobre-faz-diferenca-brutal-no-enem/