01/07/2015

Em Nome de Deus ?

            A intolerância religiosa tem nos acompanhado a centenas de anos e feito parte da história da humanidade, matando-se muitos em nome de Deus, justamente um Deus que prega o amor ao próximo.

            O intuito aqui não é discutirmos religião, e sim, a sua intolerância, visto que muitas das religiões pregam os dez mandamentos de Deus.

            De acordo com Mateus 22, Jesus resumiu os dez mandamentos em apenas dois, sendo o primeiro “Amar ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento” e o segundo em “Amar ao teu próximo como a ti mesmo”. Observe que em momento algum ele disse no segundo amar ao teu próximo se e somente se, este for da mesma religião, ou seja, em momento algum, há espaço para essa intolerância.

            Em nosso país, a religião é muito diversificada e a sua liberdade é considerada um direito humano fundamental e amparado pela constituição brasileira de 1998. Em nossa Constituição Federal artigo: 5° VI, estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias.

            Entretanto, nem sempre tivemos este artigo para nos resguardarmos de agressões  oriundas de pessoas totalmente alienadas, que acreditavam ser a sua religião a única salvadora das almas amarguradas.

            De acordo com Bernardo (2015), em nossa 1ª Constituição Brasileira, no artigo 5º dizia que “a Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior do templo”. Obviamente, isso foi um estopim para o marco da intransigência religiosa em nosso país, originando a Revolta dos Malês na Bahia (1835), a primeira Guerra Santa na história de nossa pátria amada. Essa rebelião foi liderada por negros muçulmanos. Malês é o mesmo que muçulmano na linguá iorubá e foi a maior revolta de negros urbanos no Brasil.

            A história nos esclarece o quanto é maléfica a intolerância religiosa. A guerra santa, que de santa mesma nada tem, destina-se ao embate entre religiões e em estratégias para espalhar a crença, tentando com isso, aumentar o número de devotos ou até mesmo consolidá-los, não abrindo mão inclusive da violência.

            No século XVI, tivemos um triste exemplo na França que ficou conhecido como a Noite de São Bartolomeu. Foi uma verdadeira chacina dos católicos contra os protestantes, em que morreram milhares de pessoas.

            Outro fato triste que antecedeu nossa contemporaneidade, foi a Santa Inquisição. Fundada pelo papa Gregório IX, como um tribunal religioso na Idade Média, condenando todos aqueles que eram contra dogmas pregados pela Santa Igreja.

            Esse tribunal torturou e mandou para fogueira, milhões de pessoas que tinham pensamentos contrários a Igreja, seja por meio de outra religião ou práticas contrárias a igreja predominante.

            Essa Santa Inquisição não poupou nem as crianças, isso tudo, embasado por um argumento preconceituoso e por verdadeiras falácias. Nesta carnificina amparada por Deus, 80% das vitimas foram mulheres.

            Não querendo explicar o inexplicável e inaceitável prática da intolerância religiosa acima, podemos perceber o quão eram ignorantes nossos antepassados. Faltava-se de tudo, inclusive educação, o que reforçava cada vez mais a manipulação e alienação das pessoas, mas e nos dias de hoje? Qual poderia ser a explicação para tamanha imbecilidade? Porque vemos fieis de religião A, ou B, invadirem templos e quebrarem imagens, agredirem a pedradas pessoas de religiões afrodescendentes?

            Porque eu me sentiria no direito de agredir o meu próximo por ele ser praticante de uma religião com ideias opostas a minha, visto que nos encontramos em um mundo globalizado e isso implica no bom senso em respeitar credos, ideologias dentre outras culturas diferentes, e até mesmo divergentes às nossas.

            Giles (1983) ressalta que o homem se torna humano graças a educação. Essa fala é complementada por Souza (2007) quando aduz que a educação deve constituir como cerne para o desenvolvimento da solidariedade social, ou seja, coesão social, e essa coesão não se implica em imposições, e sim em lidar com diferenças e aprender com as mesmas, respeitando-as.

            Cabe a educação formar o ser social, ou seja, um indivíduo ajustado socialmente. Ela faz com que busquemos a liberdade, e um homem livre, prescinde da tutela ideológica.

            Estou certo de que a educação resolverá se não todos os males, grande parte destes, pois ela continua sendo a chave mestra para resolução dos maiores problemas sociais.

 

BERNARDO, André. Islã Proibido. Aventuras na História, São Paulo, edição 141, p. 33-41, abril 2015.

GILES, Thomas Ransom.  Filosofia da Educação.. São Paulo: EPU, 1983.

SOUZA, João Valdir Alves de,.  Introdução a Sociologia da Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

TAVARES, Wolmer Ricardo. Docência: Um Momento Reflexivo. São Paulo: Icone, 2007,

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×