19/01/2018

Educomunicacão

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br

 

            Se analisarmos os últimos 20 anos, a sociedade deu um salto relevante no quesito tecnologia. Para se ter uma idéia, em 1997, apenas 9% das pessoas possuíam um celular, e este não tinha conexão com a internet. Os computadores que tinham conexão era de forma discada e com uma velocidade de 56 Kbps.

            Uma pesquisa realizada pela FGV informou que até o final de 2017 o Brasil teria um smartphone por habitante e que existem 4 computadores para cada 5 habitantes.

            Uma reportagem realizada pelo Jornal da Band em 30/05/2017 ressaltou que o Brasil é o país que mais faz uso do celular. O brasileiro gasta em média 4horas e 48min e ganha em tempo de uso da China que gasta 3h e 3min, Estados Unidos 2h e 37min, Itália 2h e 34min e Espanha 2h e 11min.

            Esta reportagem reforça uma outra realizada pela Folha de São Paulo ao relatar em sua manchete a seguinte notícia: "Número de smartphones em uso no Brasil chega a 168 milhões, diz estudo" e ainda cita o IBGE quando este ressalta que o celular se torna o principal meio de acesso a internet nos lares.

            Assim sendo, os autores Bueno, Costa e Bueno no artigo intitulado A educomunicação na educação musical e seu impacto na cultura escolar, publicado pela Educ. Pesqui., São Paulo, Ahead of print, nov. 2012, esclarecem que as tecnologias e as mídias condicionaram a sociedade moderna, o que acarretou em novas sensibilidades humanas modificando a maneira de organizar as atividades. Os autores alertam a importância da educação estar atenta a estas mudanças, levando assim para salas de aula um trabalho que " contemple a inter-relação comunicação/educação, ou seja, a educomunicação".

            Caldas e Camargo através do artigo intitulado Mídia na escola e a leitura do mundo: a educomunicação como incentivadora de novos conhecimentos, publicado pela ComCiência no.154 Campinas dez. 2013, esclarecem que a educomunicação exige um novo perfil de educador, e este educador deverá ter conhecimento na área de comunicação, além de acompanhar as transformações políticas "que podem ser propiciadas pela escola e pelos efeitos da comunicação"

            Vale ressaltar que através da educomunicação as aulas não ficam limitadas ao instrucionismo que causa uma domesticação subalterna, e dessa forma, os autores Toth, Mertens e Makiuchi  no artigo Novos espaços de participação social no contexto do desenvolvimento sustentável - as contribuições da Educomunicação, publicado pela Ambient. soc. vol.15 no.2 São Paulo May/Aug. 2012, ressaltam que com a educomunicação pode-se fazer uma intervenção social através de questionamentos e busca de soluções para problemas sociais e ambientais por "meio do uso de recursos tecnológicos e de linguagens presentes nas relações da vida cotidiana".

            Para os autores, as áreas de intervenção da educomunicação são "análise das possibilidades das novas tecnologias em formas de aprendizagem dentro dos espaços educativos; análise crítica dos impactos da mídia na sociedade; ampliação das possibilidades de expressão comunicativa; assessoria aos sistemas educativos na gestão da comunicação; e reflexão epistemológica sobre as potencialidades da interface entre Comunicação e Educação"

            Os autores Caldas e Camargo já mencionados anteriormente aduzem que a educomunicação contribui para aquisição de novos conhecimentos através do uso das mídias, mas isso não pode ser visto como uma panaceia, já que os educadores precisam incentivar a leitura, para que os educandos consigam fazer uma releitura do mundo, entretanto para isso, precisamos fomentar o gosto pela leitura, já que os brasileiros leêm apenas 1,3 obra literária ao ano.

            É sabido que ler não se limita apenas a uma decodificação de símbolos, mas a sua interpretação e compreensão de forma a direcionar para uma intervenção no contexto do leitor.

            Interessante então é percebermos que para fazermos uso da educomunicação, precisamos fazer com que a leitura deixe um fator secundário, e desta forma, a mesma dará embasamento para uma melhor leitura do mundo em que o educando está inserido e de forma crítica, a intervir neste mundo, saindo de uma passividade e tornando-se agente cognoscente, isso porque através da educomunicação trabalha-se práticas colaborativas, diversidade cultural, fomenta a cultura da solidariedade e respeito pelas diferenças entre credos, raças, ideologias, etc.

            Com a educomunicação, os educadores conseguirão trabalhar uma cidadania crítica já há muito tempo perdida, reforçando desta forma a fala de Freire em seu livro Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa, publicado pela editora Paz e Terra em 1996. De acordo com Freire, precisamos criar possibilidades para que o aluno consiga a sua própria produção e construção do conhecimento, pois ensinar não é simplesmente transferir conhecimento, e a educomunicação irá propiciar esta construção tendo o uso dos celulares como uma ferramenta pedagógica que reforçará o fazer pedagógico, estimulando desta forma a investigação, reflexão e o seu próprio discernimento, pois teremos na pesquisa de acordo com Freire "pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo me educo e educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço"

            Comecemos assim, o ano letivo pensando em novas práticas pedagógicas que convergirão para o verdadeiro conhecimento, fazendo com que nossos alunos saiam desta domesticação subalterna em que se encontram inseridos.

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