29/09/2017

Educação, uma questão sociológica

 

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br

 

            A educação tem sido abordada por vários estudiosos, sejam educadores, filósofos e até pseudo-educadores, mas ninguém teve uma visão sociológica da educação como Durkhein e Baudelot.

            Durkheim conhecido como pai da sociologia moderna e criador da sociologia da educação parte do pressuposto que sem a socialização o homem seria considerado um animal selvagem e a educação é uma socialização desse homem, e corrobora com a seguinte afirmação O Homo Sapiens, é sempre e na mesma medida, homo socius.

            Para Durkheim, a educação é vista como uma coisa, ou seja, um fato social, o que implica em dizer que existe e independe a nossa vontade, autoridade, superioridade e coercitividade. Ela é a essência e difere da  existência. É um processo social.

            Segundo Durkheim, para uma melhor compreensão das coisas e fatos, faz-se necessário adentrarmos em sua historicidade, ou seja, toda a vida é um processo histórico e só conseguiremos entender a educação, situando na ordem social e econômica, por isso para ele encontrar uma educação absolutamente homogênea e igualitária, foi necessário retroceder até as sociedades pré-históricas, no seio das quais não existe qualquer diferenciação.

            Segundo a visão durkheimiana a educação é uma ação valorativa, e tem sua prática assentada em outra prática e aspectos uno e múltiplos. Uno de universal, ou seja, a escola deve oferecer uma educação homogeneizedora no qual deve ser ensinado algo em comum a todas as escolas, conhecido como ensinamentos básicos ou um núcleo comum.

            O aspecto múltiplo da educação está voltado para as variedades culturais, pois para Durkheim, cada sociedade tem um certo ideal de homem, do que ele deve ser tanto do ponto de vista intelectual, como do físico ou do moral; que este ideal é, numa certa medida, o mesmo para todos os cidadãos; que a partir de um certo ponto se diferencia consoante os meios particulares que cada sociedade compreende no seu seio.

            Baudelot tem uma visão mais marxista e faz uma analogia a função do sociólogo com a de um cartógrafo. Para o autor, o sociólogo deveria “levantar o mapa escolar, proceder ao levantamento topográfico do terreno e do relevo, representar na escola precisa os principais maciços da paisagem escolar, medir os caudais dos rios”. Esse mapeamento não é para guiar o profissional da educação, mas apenas orientá-lo.

            Nas visões de Baudelot, a educação segmenta ainda mais a sociedade. Para ele, é melhor conhecer e reconhecer que negá-la. E ressalta que a escola capitalista forma cerca de 20% trabalhadores intelectuais e cerca de 80% de indivíduo pouco ou nada qualificados, porque o mercado do trabalho está feito dessa forma. Assim como a sociedade é divida em classes, a escola não é diferente, visto que ela tem uma função reprodutora da sociedade, ou seja, é uma totalidade contraditória e conflituosa.

            Existem divergências nas linhas de pensamento entre um autor e outro. Durkheim tem uma linha mais positivista sendo que Baudelot tem uma visão mais dualista. Para Durkheim a educação deve implicar na construção e transformação do educando e para Baudelot a educação é apenas reprodutora e segmentadora da sociedade. Para a educação ser transformadora, segundo Durkheim, ela deve ser mais normativa e construtiva, e para Baudelot, faz-se mister que a educação seja mais crítica e ligada a práxis para não ser tão reprodutora de uma sociedade elitizada e manipuladora.

            Independente a linha de raciocínio que seguirmos, é imperioso observar que Durkheim se baseou em uma época mais remota que Baudelot que é nosso contemporaneo, e que Durkheim era pedagogo, tinha uma melhor visão da educação em sí, apesar de seu tempo não retratar com exatidão a nossa realidade.

            Durkheim e Baudelot não podem ser considerados dois opostos, visto que Baudelot usa como referência algumas linhas de pensamento de Durkheim e acrescenta algo ligado a uma ideologia mais marxista, sendo que para Durkheim cabia a escola preparar o homem para o tipo ideal que prega a sociedade, no ponto de vista intelectual, física e moral, o que irá diferenciar de sociedade para sociedade, para Baudelot, a escola apenas será apenas uma reprodução dessa sociedade, e ressalta que a realidade escolar, como parte da realidade social, não se muda nem pela boa vontade dos professores nem pelo decreto do governo.

            Cabe aqui aduzir que em termos sociológicos não existe a linha de pensamento correta e incorreta, cabe apenas tirarmos proveito e refletirmos a educação que desejamos e o que temos que fazer para alcançá-la.

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