Educação: Uma Analogia de Xena a Princesa Guerreira com a Mulher Brasileira
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
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Nem sempre a vida imita a arte, apesar do velho adágio que estabelece uma relação simbiótica na qual a realidade é o reflexo da criação artística e esta, por sua vez, molda a percepção da vida.
Entre os anos de 1995 e 2001, a TV brasileira transmitiu o seriado Xena: A Princesa Guerreira, que representava uma mulher em luta para compensar os pecados de seu passado violento, época em que era conhecida como a “Destruidora de Nações”. A série era, na verdade, um spin-off de Hércules, e seu gênero misturava fantasia, ação, humor e mitologia.
Para muitos, Xena era a "mulher perfeita", que vencia inimigos e enfrentava com êxito qualquer perigo. No entanto, sabe-se que obras de fantasia mexem apenas com a nossa imaginação; a realidade da mulher brasileira é completamente destoante, apesar de ela também ser uma guerreira.
De acordo com dados da FGV, só em 2022 o Brasil tinha 11 milhões de mães solo. A maioria dessas mulheres encontra-se nessa situação devido à negligência, à indiferença e ao mau-caratismo de parceiros que abdicaram do papel de pai. São mulheres que desempenham diversos papéis na sociedade: mãe, filha, trabalhadora (muitas vezes recebendo um salário inferior pelo simples fato de ser mulher) e dona de casa. São atribuições assumidas com dignidade, sem abdicar da atenção e do amor aos filhos.
Tais funções, se compartilhadas com o pai ausente, aliviariam o pesado fardo. Todavia, essa carga torna-se ainda mais opressora devido às pressões e ao descaso sofridos pelas mulheres. Temos uma sociedade que exige muito do sexo feminino e o ampara pouco, pois ainda estamos ancorados em um sistema patriarcal. Nele, predomina a banalização da violência contra a mulher, reforçada por movimentos misóginos propagados pela internet, com discursos preconceituosos que instigam o assédio e a agressão física.
A situação é perturbadora. Dados do Monitor de Feminicídios no Brasil (MFB) indicam que, apenas nos primeiros dez meses de 2025, foram registrados milhares de feminicídios consumados e tentados — e isso ocorre mesmo com o país dispondo de dispositivos como a Lei Maria da Penha para coibir tais atos. São violências causadas por homens que, muitas vezes, projetam em mulheres bem-sucedidas social ou profissionalmente a culpa por sua própria incapacidade.
Na série mencionada, a heroína vence as brigas e supera os obstáculos. Na vida real, o desfecho é frequentemente mais triste: a mulher perde a vida pelas mãos de quem deveria amá-la e dividir a tarefa de criar os filhos. O agressor opta, de forma bestial, por exterminá-la por motivos torpes. Nossa guerreira sofre, chora, cansa, sangra e morre diante da misoginia banalizada.
Nesse cenário, cabe à educação trabalhar a inteligência emocional dos educandos. É preciso que aprendam, desde cedo, a respeitar a mulher como ser humano e cidadã, reconhecendo-a como a engrenagem essencial para que esta sociedade seja, no mínimo, civilizada.