14/04/2021

Educação Sexual nas Escolas

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

             

A educação será sempre a chave mestra para abrir portas do conhecimento e é justamente o que está faltando em nossos jovens, já que a informação está divulgada em todas as mídias, falta apenas o discernimento, assim sendo, cabe a educação pública desenvolver em nossos jovens este discernimento para que os mesmos possam ter uma adolescência saudável, com saúde emocional e sem riscos de gravidez precoce ou até mesmo aliciamento sexual.

Dos problemas oriundos da falta de educação sexual, a gravidez precoce é a que mais reflete negativamente na sociedade, uma vez que jovens grávidas podem até correr o risco de morte, já que muitas engravidam ainda com 12 anos tendo assim uma desigualdade entre o tamanho da criança e da bacia da mãe, ocasionando em um parto de auto risco caso a mãe não tenha acesso a um atendimento pré-natal.

Obviamente este é apenas um dos males encontrados, sem contar também existem outros que também devem ser levados em consideração como problemas emocionais, sociais e econômicos, o que é corroborado por Araujo Silva et al no artigo Fatores de Risco que Contribuem para a Ocorrência da Gravidez na Adolescência: Revisão Integrativa da Literatura, publicado em 2013[1]., ao aduzirem que é Interessante perceber que a gravidez na adolescência, além de ser um problema social é também um problema de saúde pública, já que encontra-se em alta prevalência no país

Dias e Teixeira no artigo intitulado Gravidez na adolescência: um olhar sobre um fenômeno complexo., publicado em 2010[2], ressaltam que a gravidez é um fenômeno social e esclarecem que os contornos da adolescência não tem o caráter absoluto, já que depende do lugar em que está situada, assim como a cultura, entretanto, em nossa cultura, cabe ao adolescente viver a adolescência e não ser mãe, se privando desta fase da vida de descobertas.Partindo deste pressuposto, os autores elucidam que a gravidez na adolescência passa a ser visto como uma experiência indesejada, restringindo as possibilidades de exploração de identidade bem como preparação para um futuro profissional.

Araujo Silva et al corroboram com as falas acima e complementam que a gravidez nesta fase de vida, implica em muitas dificuldades como brusca mudança comportamental e atitudinal já que a mulher sai da condição de filha para ser mãe e geralmente, esta adolescente encontra-se totalmente despreparada nas suas condições física, psicológica, social, econômica para assumir o verdadeiro papel de mãe, bem como perdas como de identidade, expectativa do futuro, confiabilidade e proteção da família.

Para as autoras Santos e Carvalho, no artigo Gravidez na adolescência: um estudo exploratório, publicado em 2021[3], a gravidez na adolescência deve ser levada em consideração aspectos de origem inconsciente, já que esta gravidez é vista pela adolescente como uma auto-afirmação, uma forma de preencher uma carência afetiva e chamar a atenção dos pais para a desustruturação da família, e este comportamento é característico na adolescência, justamente por se tratar de uma fase de desorganização psíquica, é difícil para a maioria dos adolescentes lidar com conflitos.

As escolas precisam trabalhar a educação sexual, para que nossas jovens possam continuar sonhando com um futuro mais promissor, pois, de acordo com Luciano Huck, o Brasil é um dos países com maior taxa de gravidez entre adolescentes no continente. Para encontrar uma solução, só há um caminho: precisamos falar sobre isso[4].

De acordo com o apresentador, "no Brasil 930 meninas dão a luz todos os dias" e isso representa mais de 400 mil mães adolescentes por ano, o que eleva a taxa de gravidez em nosso país acima da média mundial.

A OMS complementa ao ressaltar que o Brasil tem gravidez na adolescência acima da média latino-americana.

Cabe ressaltar nas falas do apresentador supracitado, que algumas gravidezes ocorrem por meio da violência, visto que a cada hora, 4 crianças e meninas de até 13 anos são vítimas de violência, e é esclarecido pelo apresentador que qualquer relação entre um adulto e uma criança é considerado estupro.

Como visto no início do texto, a informação de qualidade é a forma de se precaver de uma gravidez precoce, mas não basta esta informação, faz-se necessário o seu discernimento, já que nossos adolescentes não se encontram com tal maturidade.

Por isso se faz importante a educação sexual nas escolas públicas, e isso tem ocorrido desde o século XX, conforme ressaltado por Furlanetto et al no artigo Educação Sexual nas Escolas Brasileiras: Revisão Sistemática da Literatura, publicado em 2018[5]. Para os autores, esta educação tinha um foco epidemiológico, com discursos repressivos, tendo como âncora a moral religiosa e reforçado pelo caráter higiênico das estratégicas de saúde pública.

Assim sendo, os autores reconhecem que hoje, a educação sexual se faz necessário quando usado como instrumento de transformação social que permita uma mudança comportamental e também de normas relacionadas à sexualidade.

Muitos políticos conservadores e hipócritas distorceram a educação sexual nas escolas públicas, e o governo além de xingá-la tenta propor que jovens não façam sexo[6]. As escolas ao ministrarem a educação sexual, não estão com isso fomentando a libertinagem e leviandade, e sim a responsabilidade mediante o corpo bem como suas consequências caso não sejam utilizados métodos contraceptivos.

A educação sexual nas escolas públicas é uma forma de minimizar este problema social e de saúde pública que dilacera sonhos das "meninas" que não se encontram preparadas para uma gravidez que consequentemente rompe toda estrutura familiar, já que a avó em muitas situações fará o papel de avó e mãe.

A educação é a solução para minimizar a gravidez na adolescência, já que os adolescentes saberão o que estão fazendo e suas consequências caso não haja uma prevenção.

 


[1] Para mais informações vide ARAUJO SILVA, Ana Caroline et al . FATORES DE RISCO QUE CONTRIBUEM PARA A OCORRÊNCIA DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA. Rev Cuid,  Bucaramanga ,  v. 4, n. 1, p. 531-539,  Jan.  2013 .   Available from <http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2216-09732013000100014&lng=en&nrm=iso>. access on  13  Apr.  2021.

[2] Para mais informações vide DIAS, Ana Cristina Garcia; TEIXEIRA, Marco Antônio Pereira. Gravidez na adolescência: um olhar sobre um fenômeno complexo. Paidéia (Ribeirão Preto),  Ribeirão Preto ,  v. 20, n. 45, p. 123-131,  Apr.  2010 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-863X2010000100015&lng=en&nrm=iso>. access on  13  Apr.  2021.  https://doi.org/10.1590/S0103-863X2010000100015.

[3] Para mais informações vide SANTOS, Andréia dos; CARVALHO, Cristina Vilela de. Gravidez na adolescência: um estudo exploratório. Bol. psicol,  São Paulo ,  v. 56, n. 125, p. 135-151, dez.  2006 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006-59432006000200002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  13  abr.  2021

[4] Para mais informações vide https://www.facebook.com/watch/?v=206585041269152

 

[6] Para mais informações vide https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2020/01/04/governo-quer-politica-publica-para-convencer-jovens-a-nao-fazerem-sexo.htm

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