Educação Refutando a Evidência Anedótica
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
Durante os anos que ministrei as disciplinas Metodologia da Pesquisa Científica nos últimos períodos dos cursos de Engenharia Industrial Mecânica e Engenharia de Segurança do Trabalho ou Métodos e Normas Acadêmicas nos primeiros períodos dos mesmos cursos uma afirmação que eu trabalhava era “cuidado com afirmações generalizadas”.
Isso é muito conhecido como evidência anedótica que é baseado em um relato pessoal, não sistematizado e sem qualquer verificação, isto é, subtraído de qualquer cunho científico, e serve como base para uma afirmação e muitas vezes está na subjetividade da pessoa que observou o fato e levianamente fez uma afirmação generalizada.
A evidência anedótica não oferece prova científica e é vista como uma história individual ou testemunho, cabe aqui lembrar que um testemunho tem intrínseco em si todo um aparato preconcebido e porque não afirmar, tendencioso, justamente para justificar ações até mesmo injustificáveis.
Um bom exemplo pode ser encontrado na filosofia e que ficou conhecido como “o homem de Platão”, já que o filósofo fez uma definição superficial de que o homem era um “bípede sem penas”.
Observe a afirmação platônica e se ninguém tivesse refutado, isso seria visto como uma verdade, já que Platão era um filosofo respeitado, tendo sido discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, todavia o filósofo cínico Diógenes resolveu depenar uma galinha e levá-la a academia dizendo: “Eis aí o seu homem, Platão”.
Veja que interessante, a afirmação de Platão foi por terra o obrigando a ressignificar e redefinir o conceito outrora afirmada e assim se faz o conhecimento.
Infelizmente nem todos têm esta criticidade e aceita como verdade imbecilidades ditas por influenciadores, políticos dentre outras pessoas que são vistas como referências públicas.
Um caso lastimável que pode ser visto como uma forma de instigar ainda mais a violência contra a mulher e até mesmo o feminicídio foi dito por uma vereadora da Câmara Municipal de Borba no interior do Amazonas.
É sabido que a função de um vereador é propor leis que sejam pertinentes a interesses do município como tributos, serviços públicos dentre outras que visem melhorar e/ou contribuir com o bem-estar dos munícipes.
Cabe a ele também votar leis e aprovar e/ou fiscalizar orçamentos, bem como acompanhar o executivo, analisar contratos e licitações, julgar irregularidades dentre outras funções.
Vale lembrar que a vereança é o elo entre o povo e o governo por isso a importância de uma boa escolha.
No caso da vereadora do Partido Republicanos – AM, foi dito: “com toda sinceridade, eu aprovo, eu sou a favor, da violência contra a mulher sim. Quando um homem bate na mulher eu aprovo”.
Em sua fala ela afirma que tem mulher que merece apanhar e se justifica por meio de evidência anedótica afirmando ter presenciado o caso da mulher “se bate ela mesma para condenar o homem”, ou seja, mulheres se machucam sozinhas para acusar homens de agressão[1].
Observe o absurdo dito por esta mulher. É uma banalização da violência e claro que já tivemos coisas piores como o caso de um deputado federal em 2014, afirmar que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) “porque ela não merece”[2].
Tanto a vereadora quanto o deputado acima incitam todos os tipos de crimes como violência psicológica, violência física, estupro e até mesmo ao feminicídio, e isso tudo por uma simples evidência anedótica.
Uma educação de qualidade que instiga a autonomia intelectual, o discernimento, o protagonismo cognitivo não deve nunca aceitar a evidência anedótica e fazer com que os cidadãos coloquem no esquecimento representantes que fazem uso dessa evidência em seu cotidiano, o que pode ser constatado que a evidência anedótica é a precursora das fake news.