30/03/2021

Educação Pública Promovendo a Saúde

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
 
A educação pública de qualidade será alcançada quando a mesma deixar um pouco o seu lado conteudista e trabalhar mais e melhor o seu lado humano.
De acordo com Freire em seu livro Pedagogia do Oprimido, publicado pela Paz e Terra em 1981, existe uma pedagogia do dominante que funda em uma concepção bancária que é oriunda do educador como sujeito a conduzir seus educandos a uma memorização mecânica de um conteúdo narrado pelo próprio educador e/ou sistema.
Um agravante nesta narração é que os educandos recebem esta narração de forma passiva, memorizam e fazem ecoar aos demais, fazendo atrofiar todo o seu discernimento.
Freire complementa em seu livro Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa, publicado pela Paz e Terra em 1996 que o ato referido acima, deforma a necessária criatividade do educando e do educador, e assim sendo, pode-se perceber que a narrativa imposta pelo professora diverge do diálogo, o que deve sempre imperar, pois para Freire, ele  é indispensável ao ato cognoscente.
Gadotti em seu livro História das Idéias Pedagógicas, publicado pela Atica em 2004 esclarece que o memoriza é uma forma de fossilizar a inteligência, a imaginação e também a criatividade, dito isso, o autor ressalta que a educação sozinha não pode transformar a sociedade, porém, ela exerce um papel fundamental para o processo de humanização e de transformação social.
Interessante perceber as falas de Delors em seu livro Educação: Um Tesouro a Descobrir, publicado pela Cortez em 2001, que a educação deve fomentar em seus educandos um novo humanismo com um componente ético essencial, "e um grande espaço dedicado ao conhecimento das culturas e dos valores espirituais das diferentes civilizações e ao respeito pelos mesmos para contrabalançar uma globalização em que apenas se observam aspectos econômicos ou tecnicistas" e com isso, a sua especial responsabilidade está na edificação de um mundo mais solidário.
Assim sendo, cabe perceber que a educação deve se relacionar melhor com o conhecimento e não ser tão e somente conteudista, já que o educar perpassa e também extrapola pela formação humana, fomentando em nosso educando um livre pensar.
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Ou seja, ela pregava a alienação, a subordinação e a total passividade, algo que nos dias de hoje, diverge da verdadeira educação, mesmo com suas falhas, muitos educadores lutam para que o educando seja cada vez mais crítico a ponto de se tornar protagonista e mudar o seu próprio contexto.
Por isso Darcy Ribeiro elucidava que a crise na educação era um projeto e não crise, pois as coisas são planejadas para não funcionarem do jeito que deve, tanto que uma das maiores brigas contra a cidadania foi a "escola sem partido", como se existisse um educar sem politizar.
Como ressaltado em meu livro Educação um Ato Político, publicado pela Autografia em 2019, toda educação é uma forma de politizar, isto é, deixar o aluno mais crítico e senhor de seu próprio destino, toda via, a escola sem partido não surtiu muito efeito com professores, pois de fato, não cabe a escola ideologizar seus alunos e sim fazê-lo pensar e desenvolver seu próprio discernimento.
Dito isso, perceberam que seria uma guerra inócua ao levantar a bandeira de escola sem partido, porque a escola nunca teve partido, apenas buscou contextualizar a realidade e fazer o aluno perceber toda manipulação em cima da realidade e as tendências para fomentar a esterilidade nesta seara.
Hoje a estratégia mudou e o governo quer impor uma agenda ideológica, pois ela acredita que o aluno tem muita informação desnecessária e acredita que seria mais útil falar em seus livros didáticos conteúdos como criacionismo, terraplanismo dentre outras imbecilidades que só néscios poderiam conceber.
Não precisamos ser contra o criacionismo, já que o argumento é que está nas escrituras sagradas, mas seria interessante mostrar também o evolucionismo e fazer o aluno pensar.
Observe, estamos regredindo no tempo e fazendo como o Papa Pio IX, que segundo HARARI em seu livro Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã, publicado pela Companhia das Letras em 2016, este papa realizou várias reformas e uma delas foi estabelecer o princípio da infalibilidade papal, ou seja, o papa nunca erra em questões de fé, esta ideia medieval se deu segundo o autor, 11 anos depois que Charles Darwin ter publicado A Origem das Espécies. 
Ideias estultas como esta agenda ideológica são válidas e reforçam as falas de Durkheim em seu livro Educação e Sociologia, publicado pela Edições 70 Ltda em 2007, já que o sociólogo afirmava que não há sociedade onde o sistema educativo não apresente um duplo aspecto: é, ao mesmo tempo, uno e múltiplo.
E se analisarmos, este duplo aspecto faz com que o aluno desenvolva seu poder de discernimento e aprenda e perceber os nuances de como ocorre o conhecimento, como ser crítico e principalmente, não acreditar em tudo que ler.
Por isso se faz mister ser um pouco subversivo e esta agenda e ecoar as falas de Freire que está em seu livro Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa, publicado pela Paz e Terra em 1996, quando elucida a importância em fomentar a pesquisa, pois "pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo me educo e educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço", e este conhecer me leva a criticidade e a um protagonismo cognoscente que imunizará o educando de qualquer alienação, já que ele terá resguardado o seu discernimento.
Vale ressaltar que esta agenda ideológica é uma afronta a educação de qualidade, pois trata-se de um ideário antiprogressista , indo na contramão dos países cuja educação está avançada, podendo constatar que tais países desenvolvem em seus educandos um livre pensar, embate intelectual e curiosidade que aguça a busca do novo e do conhecimento.
Esta agenda ideológica blinda qualquer ato citado acima por meio de conservadorismo hipócrita e manipulador, todavia, nosso governo se esqueceu que nesta equação existe uma variável de suma importância denominada professor e este com toda certeza, não assumirá este papel retrógrado com seu educando, já que a principal função da educação é libertar o aluno para o conhecimento, assim sendo, que sejamos protagonistas desta libertação. 

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