Educação Pública, Pensamento Crítico e as Normas Coletivas
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
Um dos questionamentos de Luiz Felipe Pondé, doutor em filosofia está em saber se o pensamento crítico pode libertar o indivíduo do pensamento coletivo das normas coletivas.
Para o filósofo isso não passa de uma utopia, isso porque desde sempre, desde Sócrates que foi condenado pela assembleia democrática e seus juízes, assim sendo, este pensamento crítico não te liberta da percepção coletivo, já que é um mito a liberdade de que você é plenamente livre.
Ao analisarmos as falas de Pondé, não precisaremos de muitos argumentos para corroborá-las, basta analisarmos a obra de minha autoria intitulada Docência um Momento Reflexivo, publicado pela Ícone em 2007.
Nesta obra eu pontuo personagens na história da humanidade que pensaram diferente das normas coletivas e consequentemente foram penalizados de alguma forma, como caso citado anteriormente e referido a Sócrates.
As pessoas que tem um conhecimento “corrosivo”, aquele que questiona o status quo muitas vezes são perseguidas e/ou eliminadas, como aconteceu também com Hildegard Von Bingen (1098-1179) que foi uma grande pensadora, filósofa e teóloga. Os sermões públicos que Bingen fazia sempre atraíam multidões em razão do carisma e beleza física da oradora. Em virtude de sua coragem e visão das coisas, sempre foi atacada pelos seus contemporâneos.
Seu maior erro foi desafiar a Igreja, que na época tinha mais poder que os reis. Entre outras coisas, Bingen acreditava que Deus seria Pater-Mater e que o Deus supremo teria também um lado feminino, ou uma "natureza feminina", algo considerado completamente absurdo pela sociedade machista da época.
Outro que tinha um conhecimento com dimensões revolucionárias foi o Mestre Eckhart (1260-1327). Autor de várias obras, nas quais sempre esteve presente a unidade entre Deus e o homem. Para ele, não existia um mal absoluto, existia tão somente o erro na busca da evolução da alma.
Eckhart pregava que tínhamos um poder e que o mundo sempre seria para nós aquilo que dele pensássemos. Tais pensamentos encadearam a infalibilidade papal. Após sua morte, grande parte de suas obras foi considerada herética ou escabrosa e temerária.
Leonardo da Vinci (1452-1519) foi pintor, escultor, arquiteto, engenheiro, cientista, inventor e escritor. Sua arte influencia toda a história da pintura que se segue. Graças ao vasto conhecimento de que era possuidor, da Vinci superou o pensamento medieval, dominado na época pelo poder eclesiástico e colocou o homem no centro da criação, envolvendo-se assim em várias intrigas religiosas com a Igreja.
Nicolau Copérnico (1473-1543), matemático e astrônomo, foi o pai da teoria heliocêntrica, que diz ser o Sol o centro do Universo e também o verdadeiro centro do Sistema Solar e não a Terra, como se acreditava na época. Copérnico era um homem temente à autoridade religiosa e por isso apresentou sua teoria apenas para os astrônomos da época, em um manuscrito em latim: Revolutionibus Orbium Coelestium, o que limitava o acesso a uma elite letrada. Mesmo assim, foi advertido pela Igreja por estar se intrometendo em assuntos religiosos. Faz-se necessário frisar que para a época, alguns assuntos eram de responsabilidade apenas eclesiástica.
Giordano Bruno (1548-1600) foi ordenado sacerdote e sempre teve uma mente inquieta e totalmente independente e isso acarretou vários problemas com seus superiores e por isso foi processado por insubordinação. Senhor de uma mente brilhante e com excelentes dotes intelectuais, Bruno teve admiradores e também inimigos, o que o obrigou a fugir de vários lugares.
Ele pregava a pluralidade dos mundos habitados, sendo a Terra apenas mais um entre vários planetas que giram em volta de outros sistemas. E por essa e outras ideias Giordano Bruno foi condenado a morrer queimado.
Logicamente tivemos outros personagens em nossa história o que não cabe mais dissertar sobre eles, apenas para complementar as falas de Pondé que por meio de uma pergunta retórica esclarece que o pensamento crítico “tem um efeito. Levar o ser a um limite de sua capacidade de suportar o pensamento coletivo, fazendo com que você tenha mal-estar em relação as normas do pensamento coletivo”.
Observe, todos os pensadores acima divergiram das normas do pensamento coletivo, ou seja, aquela norma que tenta te obrar a fazer parte da massa de manobra, sem discernimento e sem criticidade.
E assim sendo, para o filósofo Pondé, o pensamento crítico não te libertará, todavia te fara pensar um pouco diferente e você automaticamente se subtrairá de qualquer poder de manipulação.
Dito isso, cabe a educação pública, mesmo com seus reveses, conseguir fazer o maior número de alunos com pensamento crítico para que estes consigam pensar “fora da caixa” e ser um diferencial para a sociedade.