20/07/2021

Educação Pública Minimizando a Violência

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmdeer.pro.br

 

A ignorância tem imperado sob o discernimento. Defender indígenas, imigrantes, mulheres, homossexuais, idosos, moradores de periferias e/ou favelas, portadores de deficiências, moradores de rua, lutar pelos direitos trabalhistas, pela equidade para minimizar as diferenças sociais, por mais ênfase em projetos sociais, foco na ciência, incentivo à cultura não tem nenhuma relação com o comunismo, e sim uma simples questão de humanismo.

Senso de justiça social e o coletivo acima do individual é algo que deveria imperar em nossa política, todavia, pessoas que pensam desta forma, são tachados de esquerdistas e/ou comunistas, só que nem sempre, estas pessoas tem uma ideologia partidária para defender tal causa, elas vêem nos outros um semelhante, necessitado de atenção.

Azambuja em seu livro Introdução a Ciência Política, publicado pela Globo 2003, esclarece que quando o poder no seu exercício não tem o bem público como o seu objetivo, deixa de ser um poder do Estado e passa a ser apenas força, a violência dos homens que estão no poder.

E a violência neste contexto é apresentada de várias formas, como aumento dos alimentos e o congelamento dos salários; o atraso na aquisição das vacinas por motivos de negociatas ressaltando a corrupção deveras escondidas; o descaso com a saúde pública e o sucateamento da educação pública, são demonstrações perversas de violência com o povo.

Harari em seu livro 21 lições para o século 21, publicado pela Companhia das Letras em 2018, ressalta a importância em se governar mediante o amor e o prazer ao invés do medo e violência, e esta última palavra tem sido a constante na vida dos brasileiros.

Minayo e Souza no texto Violência e Saúde como campo interdisciplinar e de ação coletiva, publicado pela Hist. cienc. saude-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 4, n.3, p. 513-531, nov. 1997, elucidam que violência é representada por qualquer ação intencional, independente se quem a perpetrou foi um indivíduo, grupo, instituição, classe ou nação, e esta ação direcionada a outrem, ao causar prejuízo, danos físicos, sociais, psicológicos e/ou espirituais é considerado uma ação violenta.

Complementando as falas acima, Krug et al, no texto Relatório mundial sobre violência e saúde, publicado pela Geneva: World Health Organization, 2002, salientam que violência é vista como um uso intencional da força ou do poder, e esta violência pode ser efetivada na forma real ou com ameaças contra si próprio, outra pessoa, grupo ou uma comunidade e que tenha como consequências lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação.

Na atual conjuntura, privação é o que o povo mais tem passado. Privação em se alimentar com qualidade, em se locomover e privação em conseguir um emprego digno.

O povo encontra-se privado até mesmo de seus direitos, pois estes foram cortados com as reformas trabalhistas e previdenciárias.

Ele tem sofrido todos os tipos de violência neste governo, e cabe a educação pública encontrar formas de desenvolver o discernimento para que o povo possa se libertar deste destino algoz.

Vale salientar que maior violência está na miséria, já que de 2020 para 2021 o número de pobres saltou de 9,5 milhões para 27 milhões, pesquisa realizada em fevereiro, e obviamente, hoje é um número bem mais expressivo, resultando na seguinte manchete: "Brasil começa 2021 com mais miseráveis que há uma década[1]"; "Aumento da miséria extrema, informalidade e desigualdade marcam os dois anos da Reforma Trabalhista[2]".

A situação é tão precária que segundo Cavallini[3], em 2020 as famílias em situação de extrema pobreza inscritas no Cadastro Único em outubro de 2020 tinham uma renda per capita de até R$ 89,00.

Infelizmente pesquisas apontam para uma realidade de que até o final do ano, a pobreza e extrema pobreza atingirão 61 milhões de brasileiros e isso não é consequência da pandemia, é apenas um ato violento deste desgoverno.

Já dizia Jean-Jacques Rousseau: a miséria é a mãe dos grandes crimes; são os soberanos que fazem os miseráveis.

Santos em seu livro Introdução a Sociologia da Educação, publicado pela Autêntica em  2007, cita a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, e nele afirma-se que “a ignorância, o esquecimento e o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas  das desgraças públicas e da corrupção dos Governos”

Dito isso, cabe a nós educadores trabalharmos conceitos de violência e lutar por uma educação com um pouco mais de qualidade, mesmo que nos seja negado condições para efetivação de tal ato, mas como dizia Cecília Meireles, "não venci todas as vezes que lutei,mas perdi todas as vezes que deixei de lutar", então, que tenhamos sempre forças para lutar pelos menos favorecidos e oprimidos, pois a única coisa que liberta o povo da miséria e o conhecimento adquirido com a educação.

 

[1] Para mais informações vide https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/01/brasil-comeca-2021-com-mais-miseraveis-que-ha-uma-decada.shtml

[2] Para mais informações vide:

https://www.unicamp.br/unicamp/index.php/ju/noticias/2019/11/11/aumento-da-miseria-extrema-informalidade-e-desigualdade-marcam-os-dois-anos

[3] Para mais informações vide: https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/01/06/mais-de-14-milhoes-de-familias-vivem-na-extrema-pobreza-maior-numero-desde-2014.ghtml

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×