26/02/2016

Educação Pública e os Projetos Educacionais

            Em nossa contemporaneidade, a educação pública tem limitado nossos jovens a uma grande e maciça massa de manobra. Como afirmava Trasímaco da Calcedônia, “o certo é o que é bom para o mais forte.” (BURKE, ORNSTEIN: 1998, p. 95).

            Assim tem sido nossa sofrível educação pública, ela está sendo a educação certa, para que uma minoria elitizada se perpetue cada vez mais, deixando o povo as ordens de um destino cruel e implacável, tudo isso porque nosso sistema educacional engessa os professores e consequentemente, nosso educandos.

            A preocupação com uma educação que fuja a estas amarras já era trabalhada no fim do século XIX por John Dewei que foi um filósofo e pedagogo considerado uma referência da escola progressiva ou escola nova, que visava um combate mais efetivo quanto as desigualdades sociais e, trabalhava uma maior autonomia por parte dos alunos. Tivemos no Brasil o educador Anisio Teixeira que impulsionou esta ideia e serviu de referência para muitos outros como outro ícone da educação Darci Ribeiro.

            Apesar de muitas críticas para época, percebe-se hoje que trabalhar autonomia do aluno é singular para a construção de um conhecimento relevante ao seu contexto e John Dewei acreditava muito nisso, pois ele via os projetos como um recurso pedagógico na construção de conhecimentos, embora hoje, muitas escolas públicas trabalhem com projetos que, infelizmente, não agregam nada a vida de nossos educandos, sendo que se resumem a projetos estéreis, além de fomentar o plágio, como acontece com muitos projetos impostos por pseudoeducadores que ocupam cargos que exigem competências que estes não têm.

            Tais cargos não são mais que favores políticos, e estes pseudoeducadores impõe seus projetos totalmente descontextualizados da realidade das escolas e dos educandos, utilizando de um silogismo fundamentado em uma falácia; e estes mesmos oportunistas pseudoeducadores, impõe como certo suas imbecilidades, fazendo-se valer as falas acima de Trasímaco da Calcedônia.

            Como dizem alguns observadores, a história se repete, pois já no século II os pensadores gnósticos afirmavam que a erudição e o autoconhecimento seriam o caminho da salvação, o que consequentemente teve uma repercussão ruim para a igreja que detinha o poder, e fez com que todos os conhecimentos explicitados por estes pensadores gnósticos fossem queimados ou proscritos, o que reforçava o eco estratégico do corte-e-controle. (BURKE, ORNSTEIN: 1998)

            Deve-se perceber que o projeto é uma maneira de tornar a aula mais agradável e participativa de forma com que o aluno atue e seja o protagonista de sua vida, mas para tal, estes projetos devem estar vinculados a solução de problemas que fazem parte da realidade social enfrentada pelos educandos ou comunidade escolar, ou seja, é a educação dando força para solução de problemas sociais, como afirma Teixeira (2010) ao aduzir que a escola deveria ser uma instituição capaz de solucionar os problemas sociais, a partir “do aumento da produtividade econômica e da melhoria das qualidades individuais e técnicas do cidadão” (TEIXEIRA: 2010, p. 26).

            Percebe-se com isso que uma escola ao  trabalhar com projeto, desenvolve autonomia do educando, o que é corroborado por Freire (1996) ao esclarecer que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.

            Para o autor, fomentar a pesquisa nas escolas, através de projetos e soluções de problemas que fazem parte do contexto dos educandos, é uma forma dos mesmos intervirem e se educarem, isso porque um projeto educacional permite ao educando sair da inércia e da alienação imposta pelo sistema que hoje representa o eco estratégico de corte-e-controle, isto é, controlar a massa para que não deixe de ser uma massa amorfa, ou simplesmente gado de manobra.

            Com o ensino utilizando a pedagogia de projetos educacionais, os educandos saem do controle de conteúdos prontos e manipulados para a resolução de problemas significativos fazendo com que os mesmos percebam a verdadeira realidade e nessa possam intervir.

            Nesta pedagogia, o professor deixa de ser o centro, o senhor da razão e do conhecimento e passa a ter um papel como mediador, criando situação que auxiliarão aos educandos na solução de problemas, introduzindo informações semânticas que contribuirão para uma melhor compreensão da realidade, de forma com que o educando seja protagonista de seu próprio saber, isso porque a construção deste mesmo conhecimento está inserido no contexto que lhe dá sentido, visto que, a ausência de projeto educacional, enrijece os conteúdos das disciplinas impedindo inclusive de uma interdisciplinaridade.

            Por vivermos em sociedade esta pedagogia é totalmente aplicável, visto que será através dela que nossos educandos aprenderão o sentido da cooperação e das múltiplas relações, dessa forma, eles aprenderão a lidar com os confrontos de opinião e com a solidariedade, além de servir como estímulo ao pensamento crítico, promovendo idéias e fomentando a autonomia, a autoconfiança e o senso de responsabilidade.

BURKE, James e ORNSTEIN, Robert.  O Presente do Fazedor de Machados – Os dois gumes da história da cultura humana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998, 350 p.

FREIRE, Paulo.  Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996

TEIXEIRA, Adla Betsaida Martins organizadora. Temas atuais em Didática. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. 

 

Autor: Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade – www.wolmer.pro.br

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