Educação Pública Brasileira e os Focinhos de Porcos
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br
O atual sistema não gosta de pessoas curiosas, tanto que reforça o dito popular "a curiosidade matou um gato" para simplesmente alertar as pessoas que poderá ocorrer um mal se as pessoas forem curiosas.
Este ditado é da época da Idade Média e em tal época existia uma crença forte de que os gatos representavam maus agouros, principalmente os negros, com isso, as pessoas para evitá-los, preparavam armadilhas que acabavam levando-os a morte.
Cabe perceber que é graças a curiosidade que o mundo evolui e continuará evoluindo, o que é corroborado pelo escritor argentino Alberto Manguel quando esclarece que é a vontade de se saber mais, que possibilita descobertas.
Para o escritor, a curiosidade também é uma ação transgressora e nessa afirmação, encontramos a força do ditado acima, curiosidade mata realmente gatos, porque o sistema não quer transgressores, e por causa das transgressões e transgressores que alguns aviões caem.
Ao analisarmos a educação pública, perceberemos que nosso alunos são preparados desde cedo a não fazerem perguntas, e caso as mesmas sejam feitas, nem todos professores saberão as respostas, porque muitos também não ousam transgredir.
A curiosidade é realmente uma fonte para descobertas científicas, seja de maior ou menor grau, logo, porque as escolas não fomentam esta curiosidade em seus alunos?
Será que a nossa educação pública se preocupa em criar porcos como em Nova Guiné? Para Harari em seu livro uma breve história da humanidade, em sua 18 ed. publicado pela editora L&PM em 2016, narra que a riqueza de um homem em Nova Guiné é traçada pelo número de porcos que esta pessoa tem, e existe uma prática utilizada ao norte de Nova Guiné para garantir que estes porcos não fujam empobrecendo seus donos, de arrancar um pedaço do focinho do animal.
Esta mutilação causa intensa dor no pobre animal toda a vez que este tenta cheirar, impedindo-o de encontrar comida e inclusive, de se orientar no espaço sem cheirar, causando total dependência de seus proprietários.
Para o autor, em outra região de Nova Guiné, costumam-se arrancar os olhos destes animais para que estes nem mesmo, consigam enxergar para onde estão indo.
Claro que as mutilações causadas pela educação pública são mais sublimes, nela mutila-se a curiosidade ou qualquer idéia transgressora, e dessa forma, a repercussão ceifará os sonhos, perspectivas e oportunidades de grande parte dos alunos.
Interessante perceber as falas de Freire em seu livro Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa, publicado pela Editora Paz e Terra em 1996, quando adverte que a função do professor libertador e emancipador é justamente instigar a curiosidade epistemológica, migrando de uma consciência intransitiva mágica para uma consciência transitiva crítica, ou seja, fazendo com que o educando aprenda a ser critico e protagonista.
Morin em seu livro Pedagogia dialógica publicado pela Editora Cortez em 2002, reforça que a educação deve fomentar o uso da curiosidade para sanar problemas essenciais de forma correlata e estimulando o uso total da inteligência geral.
O autor explica que curiosidade é a faculdade mais expandida e viva na infância e adolescência e que, com freqüência, a instrução a extingue, sendo que a mesma deveria ter o objetivo estimular ou até mesmo despertar tal curiosidade.
Então, cabe a nós professores mais uma vez, observarmos as falas do escritor argentino Alberto Manguel e estimularmos a transgressão em nossos alunos para que estes possam incorporar algo que não seja real graças a sua imaginação, e também a não aceitarem quaisquer idiotices como queda de avião justamente quando um dos mortos iria delatar muito mais políticos.
Essa mesma mídia hoje representa o braço de ferro do sistema manipulador, usurpador e corruptor
Que nossa transgressão nos leve a curiosidade que nos ilumina e se faça valer como a Música de Caetano Veloso, ao relatar que a " luminosidade, alheia a qualquer vontade há de imperar, há de imperar" e não mais ao medo do gato morrer.