Educação Pública, Autismo e Preconceito
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
É muito comum ouvir imbecilidades até mesmo de educadores dizendo que autismo hoje está na moda, tudo é autismo, e pior, quando uma pessoa recebe um laudo tardio, dizem em bom tom “você não tem cara de autista”.
A falta de conhecimento é normal para todos nós, afinal de contas, como já dizia o filósofo Sócrates “só sei que nada sei”, mas se achar especialista em google e sair diagnosticando ou tirando todo o trabalho de um profissional que estudou por anos em uma universidade, com cursos de especializações em doenças, distúrbios, síndromes, comorbidades, transtornos, dentre outros conceitos que fogem a “realidade” imposta pela sociedade é querer muito.
Não se trata de modismo, é só uma questão de entender o contexto histórico, já que as crianças autistas eram rotuladas como esquizofrênicas, não mostrando afeto aos seus entes queridos e tampouco contato visual.
Alguns ignorantes, chegavam a culpar aos pais pela má educação de seu filho e grosseria, o que na verdade não se trata de má educação e sim, sinceridade, objetividade, foco e não se sentir à vontade com pessoas estranhas.
Leo Kanner, um psiquiatra austríaco radicado nos Estados Unidos foi um dos primeiros estudiosos a perpassar pelo Transtorno do Espectro Autista, e as pesquisadoras da Universidade Federal de São Paulo, Tamanha, Perissinoto e Chiari[1] no artigo Uma breve revisão histórica sobre a construção dos conceitos do Autismo Infantil e da síndrome de Asperger, publicado pela Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia em 2008, elucidam que este psiquiatra definiu o autismo em 1943, “sendo inicialmente denominado Distúrbio Autístico do Contato Afetivo, como uma condição com características comportamentais bastante específicas, tais como: perturbações das relações afetivas com o meio, solidão autística extrema, inabilidade no uso da linguagem para comunicação, presença de boas potencialidades cognitivas, aspecto físico aparentemente, normal, comportamentos ritualísticos, início precoce e incidência predominante no sexo masculino”.
Observe que foi na década de 40 que o conceito de autismo eclodiu em nosso país, fomentando cada vez mais o Holocausto Brasileiro, já que esquizofrenia era tratada em hospícios.
Para os preconceituosos de plantão, o denominado Holocausto Brasileiro foi mais uma triste história a manchar o nosso país, já que se tratava de uma clínica psiquiátrica na cidade de Barbacena Minas Gerais, conhecida como Hospital Colônia.
Para as pesquisadoras Isabela Miranda, Julia Tortoriello e Victória Abreu, na revista digital Esquinas, publicado pela Faculdade Cáspar Líbero[2], o Holocausto Brasileiro representa a morte de mais de 60 mil pessoas no Hospital Colônia, e nele as internações eram feitas a revelia, já que cerca de “70% dos pacientes não tinham diagnóstico prévio”.
Este Hospital era visto como um depósito da “escória da sociedade” representada por “epiléticos, alcoolistas, homossexuais, prostitutas, gente que se rebelava, gente que se tornara incômoda para alguém com mais poder. Eram meninas grávidas, violentadas por seus patrões, eram esposas confinadas para que o marido pudesse morar com a amante, eram filhas de fazendeiros que perderam a virgindade antes do casamento. Eram homens e mulheres que haviam extraviado seus documentos. Alguns eram apenas tímidos. Pelo menos trinta e três eram crianças” e como visto também, autistas vistos como esquizofrênicos.
Voltando ao tema sobre autismo, temos ainda enraizado alguns preconceitos e um dos para a década de 40 era de culpabilizar os pais pelo Distúrbio Autístico do Contato Afetivo, por demonstrarem pouca afetividade com os filhos.
Enfim, mesmo com pesquisas acadêmicas de cunho científico o preconceito ainda é predominante na sociedade.
Pais de crianças autistas sofrem com descasos e exclusões sociais em relação a seus filhos, sem contar aquelas pessoas que são autistas e sequer receberam laudo e vivenciam conflitos sociais afetando sua qualidade de vida, sua profissão e até mesmo seus relacionamentos.
A única coisa que salva o preconceito é o conhecimento por meio da educação e cabe a nós professores, trabalharmos o respeito e a diversidade entre as pessoas para que elas possam viver e conviver uma com as outras.
[1] TAMANAHA, A. C.; PERISSINOTO, J.; CHIARI, B. M.. Uma breve revisão histórica sobre a construção dos conceitos do Autismo Infantil e da síndrome de Asperger. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, v. 13, n. 3, p. 296–299, 2008
[2] https://revistaesquinas.casperlibero.edu.br/politica/direitos-humanos/a-ouviu-falar-do-holocausto-brasileiro-conheca-a-historia-do-hospital-para-pacientes-psiquiatricos-de-barbacena-mg/