16/11/2017

Educação Politécnica: Um Caminho Para a Educação Brasileira?

STEPHANIE FREIRES BASTOS

 

Na sociedade capitalista sempre pode-se perceber que as regras são ditadas a favor do interesse do capital, principalmente no campo educacional, onde prevalece a necessidade constante da formação de força de trabalho necessária ao sistema produtivo, sendo esta relação estabelecida entre educação e trabalho, subordinado ao capital. Neste cenário, para compreensão da proposta de educação politécnica, é necessário compreender as relações entre trabalho, educação e ser humano ao longo da história. Conforme apresentado por Saviani, várias mudanças ocorreram no modo de produção capitalista,
com isso novas formas de organização social surgiram e foi necessário reestruturar o papel do Estado. Este artigo, tem por objetivo levantar algumas questões sobre o modelo de educação profissional no Brasil que vem sendo desenvolvido ao longo da história e suas relações com a sociedade brasileira. Trata-se de uma revisão bibliográfica que trouxe os principais autores que tratam sobre a politecnia com foco na discussão sobre o modelo educacional da sociedade moderna. Organizado em seis tópicos, o artigo inicia apresentando os conceitos sobre trabalho e sua relação com o processo de humanização do ser humano. Muitos autores buscam identificar e reconhecer como a relação trabalho e educação dividiu-se ao longo do tempo, porém esse entendimento pressupõe a definição de ser humano. Segundo Saviani (2007, p. 152), trabalho e educação são atividades especificamente humanas, ou seja, apenas o ser humano trabalha e educa, a principal característica do ser humano se dá a partir desta explicação. Segundo Gramsci, o trabalho é a essência do ser humano, que se torna ser humano ao longo da sua vida, através do processo educativo. Quando do surgimento do ser humano, o que o diferencia dos animais é a sua capacidade de adaptar a natureza a si, ou seja, o ser humano é obrigado a adaptar a natureza para existir e produzir sua própria vida. O ato de agir sobre a natureza é o que conhecemos por trabalho, todo esse processo de hominização ocorre através da educação. Na sequência apresenta-se a relação entre educação e trabalho, marcada pela divisão de classes que contribuiu para a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual, divisão essa que cresceu e fortificou-se ao longo dos anos. Na sociedade capitalista a produção desloca-se do campo para a cidade, com o aumento da indústria os ofícios foram simplificando-se reduzindo a necessidade de qualificação específica, que foi viabilizada pela máquina. Neste processo pode-se perceber uma nova relação da educação com o trabalho, com o caráter abstrato do trabalho e o caráter abstrato próprio das atividades intelectuais, ou seja, a máquina viabilizou a materialização das funções intelectuais no processo produtivo, tornando a escola a via para essa objetivação. Além do trabalho com as máquinas, surgiram novas necessidades que exigiam determinadas qualificações especificas, obtidas por um preparo intelectual também específico, surge então espaço para os cursos profissionais organizados no âmbito das empresas ou do sistema de ensino, sendo determinados pelo processo produtivo. Diante deste cenário, no terceiro e quarto tópicos busca-se apresentar como a escola  brasileira se organizou ao longo do tempo, sempre determinada pelos interesses do capital. No Brasil, as políticas de educação escolar e de formação técnico-profissional que se consolidaram na hegemonia neoliberal buscaram a produção das qualificações necessárias para a sociedade que serve o capital. Neste contexto, o sistema de ensino dividiu-se em escolas de formação geral e escolas  profissionais, focadas nos aspectos operacionais do processo produtivo. Modelo que começou a ser questionado a partir de 1980 com o surgimento de agendas que discutem a educação escolar unitária e politécnica, “cujos eixos centrais são o não-dualismo e a fragmentação e a união entre formação intelectual e produção material.” (FRIGOTTO, 2007, p. 268). Esses debates articularam três razões: a incorporação do pensamento de Marx nas ciências sociais e na educação; as mudanças cientifico-técnicas vinculadas aos processos produtivos; a conjuntura da década de 1980 com as lutas pela redemocratização, fim da ditadura e início do processo constituinte. O debate sobre a dicotomia entre educação profissional e educação intelectual, ou seja formação geral, trouxe a necessidade da proposta de uma nova educação, a politécnica. Neste modelo educacional, ocorreria a especialização dos fundamentos científicos e das diferentes técnicas utilizadas na produção moderna, o que proporcionaria o domínio sobre o trabalho. Segundo Frigotto (2007, p. 244), politecnia significa especialização como domínio dos fundamentos científicos das diferentes técnicas utilizadas na produção moderna. Baseado no pensamento de Gramsci, que entendia a escola de ensino médio de formação geral, como uma escola do tipo “desinteressado”, o auge da escola ativa era a escola mediante a qual os educandos passariam da anomia a autonomia, cabendo a educação superior a tarefa de organizar a cultura como forma de possibilitar a participação plena da vida cultural, independente da tarefa que o indivíduo exerça. Neste cenário inicia-se a apresentação sobre a relação entre tecnologia, trabalho e educação. As mudanças cientifico-técnicas e tecnológicas estão cada vez mais dentro da lógica de dominação do capital, concentrada nas mãos de poucos. Finalmente, a conclusão reforça que, apesar das várias discussões, o modelo de educação continua sendo de uma educação focada nos interesses do processo produtivo e, como forma de superação indica-se a politecnia, baseada no trabalho como princípio educativo, como um caminho a ser percorrido para o atingimento de uma educação mais unitária, porém, diante da realidade da sociedade brasileira percebe-se que esta trajetória está longe de ser iniciada.

Referências:
FRIGOTTO, Gaudêncio. Fundamentos científicos e técnicos da relação trabalho e educação no Brasil de hoje. In: LIMA, Julio Cesar França; NEVES, Lucia Maria Wanderley. Fundamentos da Educação Escolar do Brasil Contemporâneo. São
Paulo: Fiocruz/EPSJV, 2007, p. 241 – 287.
MOURA, Dante Henrique; LIMA FILHO, Domingos Leite; SILVA, Mônica Ribeiro. Politecnia e formação integrada: confrontos conceituais, projetos políticos e contradições históricas da educação brasileira. Rev. Bras. Educ., Dez 2015, vol. 20,
n. 63, p. 1057 – 1080;
SAVIANI, Dermeval. Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos. Rev. Bras. Educ., Jan/abr 2007, vol. 12, n. 34, p. 152-165;
NOVO ENSINO MÉDIO – DÚVIDAS. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=40361#nem_01>. Acessado em: 15/06/2017.

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