Educação para Combater a Psicose Coletiva
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
Conhecimento é poder, e ciente disso, as escolas devem trabalhar o discernimento que tem como pedra angular o próprio conhecimento, dessa forma, cabe ao professor fomentar a autonomia cognitiva, instigar cada vez mais a leitura e a curiosidade epistemológica que segundo Romão em seu livro Pedagogia Dialógica, publicado pela Cortez em 2002, leva a consciência transitiva crítica.
Para o autor, quando se exercita esta consciência, está estimulando o uso total da inteligência.
Veja que interessante, Harari em seu livro Sapiens – Uma Breve História da Humanidade, publicado pela L&PM em 2016, faz uma analogia da curiosidade aplicada ao carneiro. Segundo o autor, pastores que criam ovelhas sacrificavam sempre os carneiros mais agressivos por mostrarem resistência ao controle humano como também as ovelhas mais curiosas e magras.
Isso se dava porque estes pastores percebiam que a curiosidade levava as ovelhas para longe do rebanho, desta forma, a cada geração que passava, os rebanhos tornavam-se mais gordos, mais submissos e menos curiosos.
Temos como exemplo a teoria criacionista, que metaforicamente é representada pelo Jardim do Éden. Para Harari em seu livro Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã, publicado pela Companhia das Letras em 2016, os humanos foram punidos por sua curiosidade, pelo simples desejo de adquirir conhecimento, em contrapartida, no Jardim de Woolsthorpe, Isaac Newton não foi punido por sua curiosidade, na verdade foi graças a ela que o ser humano adquiriu uma compreensão melhor do universo, dando um passo ao paraíso tecnológico.
Observe que a curiosidade e a busca de respostas fazem as pessoas pensarem de forma diferente do rebanho, e é neste ponto que a educação tem que focar o seu alicerce, que é fazer o educando pensar de forma diferenciada, sem a hipocrisia dos manipuladores dizerem que é doutrinação, já que foi esclarecido por mim no livro Educação e a Não Neutralidade, publicado pela Ícone em 2024 que não existe neutralidade, isto é, ou fazemos o aluno pensar por si só, ou fazemos dele as ovelhas citadas por Harari: passivas, sem curiosidade e totalmente manipuláveis.
O problema é que pessoas que não pensam, tendem a ser manipuladas, e esta manipulação pode até ser uma fonte para uma psicose coletiva, que se trata de uma espécie de epidemia de loucura, que é quando uma sociedade inteira tende a perder o contato com a realidade e passa a mergulhar em delírios.
Para Pinheiro em seu artigo A “loucura das Multidões”. Crítica e autocrítica em Euclides da Cunha, publicado por Estudos Avançados em 2024, é esclarecido que na psicose coletiva ocorre a loucura imposta, isto é, uma loucura comunicada em que os dois membros da relação são alienados, acometendo assim em um “estádio social inferior” e “bárbaro”[1].
Dando continuidade as falas do pesquisador, nesta psicose existe uma produção de crenças e comportamentos uniformes em uma massa inconsciente e bruta.
Observe que não se trata de mera semelhança, já que outrora, tivemos dezenas de milhares de pessoas fazendo sinais com as lanternas dos celulares nas cabeças para os alienígenas interferirem na situação política do país, tivemos pessoas orando para pneus, enfim, tivemos e ainda temos uma sociedade composta por mais de 50 milhões de pessoas mentalmente doentes.
O pensador Gustave Le Bom (1841-1931) teve o seu estudo baseado nas multidões e com propriedade ele afirmou que “as massas nunca tiveram sede da verdade. Elas se afastam de evidências que não são do seu gosto, preferindo deificar o erro, se o erro os seduzir. Quem quer que possa lhes fornecer ilusões é facilmente seu senhor; quem tenta destruir suas ilusões é sempre sua vítima.”
Há de convir que se não tivéssemos a curiosidade em pesquisar, esta fala poderia ter sido creditada por contemporâneo que luta contra o fascismo e/ou a ultradireita, todavia, é uma fala que tem quase duzentos anos.
A sociedade, se estudarmos a sua história, perceberemos que por várias vezes atravessamos a psicose coletiva, como a Noite de São Bartolomeu, a Caça às Bruxas, a Santa Inquisição, o totalitarismo dentre outros males que foram e ainda são as causas de muitos genocídios.
Como ressaltado pelo pensador Gustave Le Bom, as massas não buscam verdades, buscam ilusões que dão suportes as suas crenças nas quais a ficção se sobrepõe aos fatos e o delírio ocupa o lugar da realidade, bem como, todas as provas que refutam suas falácias, são na verdade, invenções.
Como observado acima, as pessoas que estão nesta psicose coletiva perdem completamente o discernimento, sucumbindo assim a loucura que leva a todos para uma regressão moral e em concomitância, ficam mais irracionais, impulsivos e irresponsáveis a ponto de cometerem crimes sem remorsos quando está no meio de seus pares insanos.
O irracional é a regra para psicose coletiva e quem usa do poder do discernimento, é visto como inimigo, correndo grande risco de ter a vida ceifada pelo simples pensar, como os carneiros citados por Harari.
Pessoas mediante a psicose coletiva são incapazes de enxergar a própria loucura e morrerão defendendo as atrocidades que cometeram achando algo natural e com grande chance de tornar mito a pessoa que iniciou toda esta febre de loucura, isso porque estas pessoas são tão vis quanto o que instigou a tudo isso.
Assim sendo, que nós docentes, possamos por meio de uma educação crítica e de qualidade, fazer com que esta geração não seja vítima das imbecilidades que a psicose coletiva proporciona.
Que possamos difundir cada vez mais o conhecimento pertinente, libertador e crítico, para que nossos alunos possam vislumbrar sua plena liberdade intelectual e perceber que nosso legado está intrinsecamente ligado as nossas escolhas, e uma boa escolha se faz com conhecimento.
[1]Para mais informações sobre Psicose Coletiva, vide https://www.scielo.br/j/ea/a/vB4gsWdt8cHvCnnSWsk8dNn/#