Educação Infantil no Século XXI: Desafios Contemporâneos e Caminhos Possíveis
Denilsa Vicente da Silva Araujo
Licenciatura em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia e Educação Infantil. Primavera do Leste, MT.
Elizandra Bravo
Licenciatura em Pedagogia. Especialista em Docencia da Educação Infantil e dos Anos Iniciais. Primavera do Leste, MT.
Raquel Bernardo Costa
Licenciatura em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia e Educação Infantil. Primavera do Leste, MT.
Cirlei Alves Borges
Licenciatura plena em Pedagogia. Especialista em Contação de Historia e Musicalização na Educação Infantil. Primavera do Leste, MT.
Maria Regina Gomes Moreira Duque
Licenciatura plena em Pedagogia. Especialista em Autismo. Primavera do Leste, MT.
A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem ganhado crescente atenção no debate educacional contemporâneo. Esse período, que abrange crianças de 0 a 5 anos, é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social, sendo considerado por estudiosos como uma fase decisiva na formação de indivíduos críticos, criativos e empáticos (CAMPOS, 2010). No entanto, apesar de avanços normativos e curriculares, a educação infantil ainda enfrenta desafios significativos no Brasil e no mundo.
Um dos principais entraves é a desigualdade de acesso e qualidade. Embora a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/96) assegurem a educação infantil como um direito da criança e dever do Estado, a oferta de vagas em creches públicas ainda é insuficiente, sobretudo em regiões periféricas e rurais. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2022) indicam que apenas cerca de 37% das crianças de 0 a 3 anos estão matriculadas em creches, o que evidencia um déficit preocupante.
Além disso, os desafios se estendem à formação e valorização dos profissionais da educação infantil. Muitos professores atuam em condições precárias, com salários baixos, jornadas extensas e pouca formação continuada. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada em 2017, propõe uma abordagem centrada nas interações e brincadeiras como eixos estruturantes do processo educativo, exigindo práticas pedagógicas que valorizem a escuta, a observação e o respeito à infância (BRASIL, 2017). Contudo, sua implementação tem sido heterogênea e, muitas vezes, desvinculada das realidades locais.
O cenário contemporâneo também é marcado pela influência crescente das tecnologias digitais na infância. Embora esses recursos possam ser aliados no processo educativo, especialistas alertam para o risco do uso excessivo ou inadequado, que pode comprometer o desenvolvimento motor e afetivo das crianças (FONSECA, 2019). A pandemia de COVID-19 intensificou essa realidade, evidenciando a exclusão digital e as lacunas na formação docente para o uso pedagógico das tecnologias.
Frente a esses desafios, é urgente repensar políticas públicas que garantam financiamento adequado, formação docente contínua e gestão democrática das instituições de educação infantil. A valorização da escuta das crianças, o respeito à diversidade e a construção de propostas pedagógicas contextualizadas são caminhos essenciais para uma educação infantil mais justa e transformadora.
Como aponta Barbosa (2015), “educar na infância é, antes de tudo, reconhecer as crianças como sujeitos de direitos, capazes de produzir cultura e sentidos sobre o mundo”. Assim, os desafios da contemporaneidade não podem ser enfrentados apenas com reformas normativas, mas requerem um compromisso ético, político e pedagógico com a infância.
Referências
BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Educação infantil: para além dos discursos. Porto Alegre: Penso, 2015.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação, 2017.
CAMPOS, Maria Malta. Educação infantil: política e qualidade. São Paulo: Cortez, 2010.
FONSECA, Débora. Infância e tecnologia: dilemas e possibilidades. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.
IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 2022.