Educação Elucidando o Racismo Recreativo
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
Afirmar que nosso país não é racista, é o ápice da hipocrisia, basta analisarmos as estatísticas de pessoas abordadas e alvejadas pela polícia ou observarmos as oportunidades de emprego em que se necessita de visão estratégia e/ou tomadas de decisão e/ou certa liderança, ou infelizmente, irmos ao Rio Grande do Sul e constatarmos que o racismo lá é totalmente explicito[1].
É sabido que o racismo é crime no Brasil e consta na Constituição Federal na Lei nº 7.716/1989, que afirma ser um crime inafiançável e imprescritível.
Uma alteração legislativa mais recente (Lei nº 14.532/2023) equiparou a injúria racial ao crime de racismo, aumentando a pena e garantindo que atos de discriminação individual também sejam punidos de forma severa.
Pessoas afirmam que não tem racismo no Brasil, mas todos sabem que ele acontece de forma implícita, o que chamamos de racismo estrutural, tema já explorado no texto Educação Desnaturalizando o Racismo Estrutural[2], todavia, cabe agora um entendimento sobre racismo recreativo, o que é ainda mais comum, banalizado e desagradável para qualquer ser humano.
Para o advogado, mestre e doutor em Direito, Adilson Moreira[3], “o humor racista é um tipo de discurso de ódio”. “É um tipo de mensagem que comunica desprezo, que comunica condescendência por minorias raciais”.
Para Adilson, no racismo recreativo está inserido uma política cultural que por meio do humor, destila o ódio e a hostilidade além de fomentar o racismo, mas tem aí toda uma estratégia que é banalizar o preconceito, afinal de contas é só uma piada.
Não se trata de liberdade de expressão e sim de humilhação por meio da subjetividade, com comentários que tem a intenção de parecer inofensivos, todavia intrínseco nele a maldade e a prepotência.
É uma forma de banalizar o racismo e fazê-lo cada vez mais recorrente na sociedade.
É uma afronta a dignidade do ser humano que nesta “brincadeira” é estereotipado e humilhado em público.
Nas falas de Adilson, racismo e humor são produções culturais, sendo que o primeiro tem a premissa de que raças humanas não têm o mesmo valor, quanto a esta afirmação, basta analisarmos a história para constatarmos que na época do colonialismo, o negro sequer tinha alma. Era visto como uma propriedade do homem branco e sua vida valia menos que a de um cão.
E pensamentos assim não foram erradicados, eles apenas se camuflaram com práticas discriminatórias e formas de garantir vantagens culturais e materiais para a elite dominante e para os negros, como no Brasil Colônia, o resto do que sobrar, caso sobre.
Nas falas de Adilson, “o humor racista é uma das formas que pessoas brancas utilizam para referendar o sistema de opressão social que as beneficiam, mas elas sempre argumentam que ele é algo benigno”.
O problema no racismo recreativo está na covardia de quem pratica e de quem acha graça a humilhação direcionada a pessoa, como no caso de uma figura pública que foi multado em um milhão, por em cadeia nacional dizer comparar o cabelo de uma pessoa negra a um “criatório de baratas", e todos riram acompanhando o seu riso.
Nas falas do desembargador: “trata-se de comportamento que tem origem na escravidão, perpetuando um processo de desumanização das pessoas escravizadas, posto em prática para justificar a coisificação de seres humanos e sua comercialização como mercadoria”, disse o desembargador”[4].
Assim sendo, que a educação pública possa trabalhar cada vez mais a intolerância com qualquer tipo de preconceito, porque está em sua ação o poder transformador da sociedade.
[1] https://www.cnnbrasil.com.br/colunas/mauricio-pestana/nacional/contrapontos-de-um-estado-tido-como-racista-e-conservador/
[2] http://gestaouniversitaria.com.br/artigos/educacao-desnaturalizando-o-racismo-estrutural
[3] https://www.cartacapital.com.br/justica/adilson-moreira-o-humor-racista-e-um-tipo-de-discurso-de-odio/
[4] https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2025-09/bolsonaro-e-condenado-pagar-r-1-mi-em-indenizacao-por-racismo