Educação e Renato Russo
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
Educar pela música não seria algo novo, e é uma forma de instigar a criticidade do aluno, fazendo-o desenvolver o discernimento diante da realidade que está sendo vivenciada.
Infelizmente, muitas músicas de hoje são pobres em poesia, em mensagens, melodias e são na verdade, alienantes e “emburrecedoras”, com palavras de baixo calão, adjetivos pejorativos, inferiorização da mulher, com músicas que instigam violência e até mesmo estupros dentre outras bestialidades.
Burke e Orsntein em sua obra intitulada O Presente do Fazedor de Machados – Os dois gumes da história da cultura humana, publicado pela Bertrand Brasil em 1998, evidencia que a educação acontecia mesmo antes das pessoas serem alfabetizadas, assim sendo, para entender um pouco mais sobre a importância da música, os autores supracitados, salientam que a educação se *dava por meio oral e ocorria por meio da memorização pela música e pela poesia, isto é, na recitação e no canto, que segundo os autores, eram formas de registro a passar de geração a geração, dito isto, a os fatos eram memorizados por meio da rima, por exemplo.
Corroborando com as falas acima, Ferreira elucida em seu Trabalho de Conclusão de Curso intitulado A importância da música na educação infantil: estratégia de ensino e aprendizagem, apresentado na Universidade Federal de Goiás em 2021[1], que alguns educadores têm aproveitado para inserir a música no meio educacional e com isso, trabalhar os diversos conteúdos com as crianças da Educação Infantil, podendo proporcionar um resultado positivo no processo ensino-aprendizagem, e porque não usar a música como ferramenta de interdisciplinaridade conforme ressaltado em meu livro Educação um ato político, publicado pela editora Autografia em 2019, trabalhando interpretação de textos, sociologia, filosofia, história, política, etc...
Romão em sua obra Pedagogia Dialógica, publicado pela Cortez em 2002, faz uma referência a Paulo Freire, nosso Patrono da Educação, que com o seu saber norteador, mostra-nos que a sua voz que fala, tem outra música, e esta música representa a “resistência, a indignação, da justa ira dos traídos e dos enganados, do seu direito e dever de rebelar-se contra transgressões éticas de que são vítimas cada vez mais sofridas”, e com base nestas falas, pontuaremos um grande músico e poeta Renato Russo, vocalista da Banda Legião Urbana que o Brasil teve nos saudosos anos 80.
Em uma de suas músicas intitulada Será, ele diz “viveremos entre monstros da nossa própria criação, serão noites inteiras, imaginando alguma solução, para que este nosso egoísmo, não destrua nosso coração”.
Observe a profundidade desta letra, na política, criamos nossos próprios monstros que destroem sonhos, reverberando por gerações as ações narcisistas, nefastas e fascistas.
Na música Índios, ele fala “quem me dera ao menos uma vez, como a mais bela tribo, dos mais belos índios, não ser atacado por ser inocente”, e pouco tempo atrás tivemos uma tribo indígena quase dizimada pela ganância e embora tenhamos espelhos, nem todos viram um Brasil doente.
Na música que País é Este, novamente ele faz menção aos índios, primeiro falando que a sujeira está desde a favela ao senado e ninguém respeita a constituição e quanto a isso, tivemos vários exemplos, sendo o último ocorrido dia 08 de janeiro com um ataque direto a democracia, invadindo e vandalizando Prédios dos Três Poderes em cena de ódio, refutando assim os resultados das urnas.
Voltando a música, com a política destes últimos anos, o Brasil virou piada no exterior e procuraram faturar um milhão vendendo todas as almas dos índios em um leilão “para os garimpeiros”.
Na música O Senhor da Guerra é pontuado por Renato Russo que a arma dá mais lucro que comida, e assim tivemos por dia entre 2019 e 2022, 1483 estabelecimentos de tiro esportivo abertos, ou seja, um por dia em contrapartida[2], e em concomitância o Brasil voltava ao mapa da fome[3] com 33 milhões de brasileiros.
Mais uma vez Renato Russo brilha com sua Música Tempo Perdido falando que “nosso suor sagrado, é bem mais belo que este sangue amargo, e tão sério”, e nosso suor representará nosso trabalho para reerguermos a Brasil e fazê-lo ser novamente respeitado no exterior.
A música Mais uma vez, elucida que tivemos uma escuridão que endoudeceu gente são, gente que machucou gente, gente que se dizia Cristã e que não sabia amar.
Enfim, são muitas músicas que podem ser trabalhadas alavancando o discernimento, criticidade, fomentando uma sociedade mais justa, todavia, o que nos resta hoje são músicas degradantes representando a escória de uma cultura alienante a alimentar uma nova massa de manobra, tendo nós educadores como profissionais rebelados com esta cultura ou coniventes?
[1] FERREIRA, Gesiel. A importância da música na Educação Infantil: Estratégia de ensino e aprendizagem. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal de Goiás. Goiânia, 2021. Disponível em: <https://repositorio.bc.ufg.br/bitstream/ri/19926/3/TCCG%20-%20Pedagogia%20-%20Gesiel%20Ferreira%20-%202021.pdf>
[2] https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/01/22/em-quatro-anos-governo-bolsonaro-abriu-um-clube-de-tiro-por-dia.ghtml
[3] https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/relatorio-da-onu-mostra-que-brasil-voltou-para-o-mapa-da-fome-em-2021/