Educação e o Problema Social das Bets
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
Está comum em nossos dias ouvir relatos de pessoas que encontram-se endividadas devido ao uso excessivo de jogos eletrônicos bets, cujo termo em inglês é oriundo do verbo to bet que significa apostar.
Para Oliveira, Silveira e Silva (2008)[1] as apostas têm implicado em custos sociais e econômicos já que as dívidas relacionadas ao jogo tem tido impactos em diversas áreas com drásticas consequências.
Zorzetto e Orlandi (2024)[2] elucidam melhor a realidade do povo brasileiro, visto que as apostas ultrapassam os valores de R$ 20 bilhões por mês nas plataformas digitais e em concomitância, passou a existir uma demanda maior por tratamento para dependentes, visto que o vício tem dizimado famílias e vidas, o que é corroborado por Oliveira, Silveira e Silva (2008) ao esclarecerem que a depressão e o índice de suicídio tem uma relação três vezes mais alta em relação a população geral, e isso tem se tornado um problema social, já que o sonho de enriquecer de forma “simples e rápida”, faz com que as pessoas percam o próprio sustento, como relatado por Zorzetto e Orlandi (2024) quando ressaltam pesquisas constatando que somente em agosto deste ano, foram utilizados por 5 milhões de beneficiários da bolsa família, o equivalente a R$ 3 bilhões em apostas.
Oliveira, Silveira e Silva (2008) já alertavam para uma patologia ligada as apostas, e corroboram este alerta afirmando que hoje existe como patologia o Transtorno do Jogo (TJ) ou ludopatia, com isso, Khatibhttps (2024)[3] acrescenta que o TJ é um transtorno de dependência (DSM-5) por ter “caraterísticas similares com transtornos deste tipo como os causados por uso de substâncias, tendo prejuízos para a vida do indivíduo e para a sociedade como um todo”
Para Zorzetto e Orlandi (2024) as bets tem alto poder viciante e não existe um padrão para que as pessoas tenham a ilusão de controle. Não existe a mínima possibilidade de previsão já que as variáveis relacionadas são sempre improváveis.
Como ressaltado anteriormente por Oliveira, Silveira e Silva (2008), o poder viciante contido em tais jogos faz com que as pessoas ajam como dependentes químicos, a ponto de cometerem atos ilegais para sustentarem seus vícios.
Infelizmente existe de forma intrínseca o que denominamos Espiral do Silêncio que segundo Openai (2024)[4] trata-se de uma teoria da comunicação proposta pela socióloga alemã Elisabeth Noelle-Neumann em 1974.
Segundo a socióloga este fenômeno faz as pessoas esconderem suas opiniões, de forma a silenciar mediante um problema e/ou assunto, quando percebem que suas crenças são minoritárias ou não se encontram em conformidade com a opinião pública dominante.
Para a Openai (2024), “esse comportamento ocorre por medo de isolamento social, de rejeição ou de ser socialmente marginalizado”.
Um fato que corrobora é que outrora, influenciadores e/ou pessoas famosas faziam e/ou fazem propagandas das bets com o intuito de influenciar seus seguidores a jogarem, e muitos destes influenciadores afirmavam ganhar altas quantias com os jogos e que todos poderiam se tornar ricos.
E o silêncio causa a banalização das bets, já que existe uma estratégia de influenciadores a instigarem pessoas a buscarem uma vida fácil, projetando uma realidade ilusória e com zero probabilidade, já que é sabido que o lucro é sempre da casa de apostas e as vezes o ganhador é apenas uma isca para conquistar novos apostadores.
Pastore (2024)[5] elucida que os jogos eletrônicos atingem especialmente as pessoas mais jovens e de famílias de baixa renda, o que agrava a pobreza e desigualdade repercutindo em toda a economia com alto índice de inadimplência, redução do poder de compra dos jogadores e seus familiares, queda da produtividade por parte dos jogadores, aumento do absenteísmo e desemprego devido a falta de compromisso no trabalho.
Labronici (2019)[6] esclarece que empréstimo e a acumulação da dívida é um fator essencial para se analisar uma vez que já foi advertido por Oliveira, Silveira e Silva (2008) que o aumento da depressão associada aos jogos tornou-se corriqueiro e em concomitância, o alto índice de suicídio.
Com isso, que nós educadores possamos preparar nossos alunos por meio do discernimento para que eles tenham consciência de que a vida não faz ninguém enriquecer da noite para o dia e que a probabilidade de isso acontecer seria na mega sena em que a probabilidade é de 1 em 50.063.860, sem comprometer a renda familiar, a saúde emocional ou danos nos relacionamentos familiares e/ou sociais.
[1] OLIVEIRA, M. P. M. T. DE .; SILVEIRA, D. X. DA .; SILVA, M. T. A.. Jogo patológico e suas conseqüências para a saúde pública. Revista de Saúde Pública, v. 42, n. 3, p. 542–549, jun. 2008.
[2] ZORZETTO, Ricardo; ORLANDI, Ana Paula. Proliferação das bets aumenta gastos de famílias e risco de problemas com o jogo. Pesquisa Fapesp. Economia, Saúde Pública e Direito. Ed. 344, 2024. Disponível em: <https://revistapesquisa.fapesp.br/os-efeitos-nocivos-dos-jogos-on-line/>
[3] KHATIBHTTPS, Ahmed Sameer El. Diversão ou Armadilha? Um estudo exploratório das ApostasEsportivas (Bets) entre Universitários Brasileiros sob a Lente da Teoria do Comportamento Planejado (TCP). 2024. Scielo preprint. < https://preprints.scielo.org/index.php/scielo/preprint/view/10133/18655>
[4] OPENAI. ChatGPT. Versão GPT-4. 2024. Disponível em: https://www.openai.com/chatgpt. Acesso em: 8 nov. 2024.
[5] PASTORE, José. ‘Bets’, pobreza e desigualdade. FECOMERCIO, São Paulo. 2024. Disponível em: < https://www.fecomercio.com.br/noticia/bets-pobreza-e-desigualdade>
[6] LABRONICI, R. B.. A Dívida Galopante: A Economia das Apostas e os Significados dos usos do dinheiro no Turfe. Sociologia & Antropologia, v. 9, n. 1, p. 185–209, jan. 2019