09/02/2021

Educação e o Neoliberalismo

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

Todos falam sobre neoliberalismo, mas na verdade o que isso implica na educação? Antes de mais nada, faz-se necessário entender este conceito e como o mesmo influencia a economia, bem como a vida das pessoas.

Lopes e Caprio no artigo As influências do modelo neoliberal na educação[1], enfatizam que neoliberalismo é um conjunto de ideias políticas econômicas que prega o Estado mínimo, ou seja, a não participação do Estado na economia. Para as autoras,  esta ideia teve o seu cerne na crise econômica dos anos 60, no qual o Estado foi acusado por isso.

Segundo as autoras acima, com o neoliberalismo a educação deixa de ser parte do campo social e político, o que justifica para nós o sucateamento das escolas públicas e a desvalorização dos professores.

Um ponto negativo a ser levantado pelas autoras em relação a educação escolar, está em submetê-la ao mercado de trabalho e a pesquisa acadêmica de acordo com as necessidades da livre iniciativa. Isso empobreceu em demasia a nossa educação pública, já que Freire em seu livro Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa, publicado pela Paz e Terra em 1996 é enfático ao afirmar que não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.

Infelizmente nós educadores temos percebido que as pesquisas não têm recebido as atenções necessários do Estado, o que é corroborado Saldaña em seu artigo afirmando que Orçamento de do Governo Federal em 2020 tirou a metade dos recursos do MEC para pesquisa[2], e como se isso já não bastasse, o próprio Governo ainda faz apologias a anticiência.

Vale ressaltar que o sucateamento citado acima é para direcionar a educação para o mundo empresarial, já que este deseja mão de obra qualificada.

Outro ponto a ser analisado segundo as autoras é a adequação da escola à ideologia dominante, ou seja, formar seres totalmente domesticados e subalternos, para que possam ser manipulados e imbecilizados com tem acontecido em nossa atual conjuntura na qual ódios são normais e mortes são banalizadas. Isso fez o sistema se apropriar de duas coisas importantes que são a dignidade e o humanismo.

Sabendo que toda ideologia tem intrínseco uma manipulação, assim sendo Silva em sua monografia intitulada A influência neoliberal na educação, defendida em 2010, faz uma interessante observação de que o neoliberalismo apoiado a sua ideologia, fomenta um pensamento para o fortalecimento da classe dominante, e em concomitância, faz com que a sociedade acredite que é o caminho mais viável a se seguir, efetivando assim  a sua dominação[3].

Observe que Souza em seu livro Introdução a Sociologia da Educação, publicado pela Autêntica em 2007, elucida algumas características neoliberais, que são a reforma e redução do Estado, privatização de empresas estatais, produtivas ou não, e pode-se afirmar que para convencer a sociedade de que será interessante para a mesma, o Estado simplesmente sucateia para justificar tal ato.

O neoliberalismo quer deixar o Estado mais leve em relação a suas responsabilidades gerando mais lucros. Dito isso, os cortes sociais representam o começo desta política desumana, já que o Estado se exime de suas verdadeiras atribuições.

Darcy Ribeiro já enfatizava que a crise na educação no Brasil não era uma crise e sim um projeto, e tal ideia é justamente complementada por Silva supracitada, ao afirmar que "o valor real do ensino e da pesquisa está submetido ao descaso e ao abandono" e isso se dá devida a "discrepância desse sistema tendo como base a organização das leis educacionais".

Tais falas acima são corroboradas por cardozo et al no artigo Educação e neoliberalismo em contexto brasileiro: elementos introdutórios à discussão[4]. Para os autores quando a educação é subjugada pelo neoliberalismo, isso faz com que esta ideologia seja fortalecida mantendo sucessivamente os privilégios de uma classe hegemônica com total controle em relação as tomadas de decisões do país.

Assim sendo, que nós educadores possamos rechaçar toda esta ideologia e fazer com que nossos alunos desenvolvam suas autonomias, transformando-se verdadeiros protagonistas cognoscentes.

 

 

[1] Para mais informações vide https://www.fclar.unesp.br/Home/Departamentos/CienciasdaEducacao/RevistaEletronica/edi5_artigoedianelopes.pdf

[2] Para mais informações vide https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/09/orcamento-de-bolsonaro-para-2020-tira-metade-dos-recursos-do-mec-para-pesquisa.shtml

[3] Para mais informações vide http://www.ffp.uerj.br/arquivos/dedu/monografias/SDS.2.2010.pdf

[4] Para mais informações vide https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/25724_12514.pdf

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