Educação e o Mito do Selfe-Made Man
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
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O poeta inglês John Done (1572-1631) certa vez disse de forma enfática: "nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma. Todo homem é um pedaço de continente, uma parte da terra firme" e isso comprova que somos seres sociais, o que reforça uma das falas de Souza (2007, p. 74)[1] quando elucida que uma das funções da educação é fazer com que o homem se socialize, isto é, “tornar o ser egoísta que somos ao nascer em um indivíduo socialmente ajustado”.
CHINOY (2006) [2] corrobora com as falas de John Donne complementando que sem sociedade o indivíduo não sobrevive, e que a individualidade é um produto da vida social, ou seja, precisaremos sempre um do outro.
Dito isso, podemos perceber que o próprio conceito de educação põe a terra todo o mito de “Selfe-Made Man” que é usado para descrever quando uma pessoa alcança o sucesso e diz que tal sucesso foi mérito próprio, isso é, não dependeu de qualquer ajuda externa.
Ledo engano, estamos sempre precisando dos outros, como exemplo, para qualquer profissional chegar ao seu estado de excelência, precisou se socializar, precisou de sua network, precisou de seus professores, da ajuda dos amigos e principalmente dos familiares, enfim, é completamente errônea a afirmação ao se tratar que “nunca dependi de ninguém para chegar onde cheguei”.
Milionários não se tornam milionários da noite para o dia, exceto quando se ganham na loteria que a probabilidade é de 1 em 50.063.860 com uma aposta simples de 6 números.
Chega a ser grotesco e até mesmo ilógico pessoas afirmarem que têm o que tem graças ao próprio esforço.
Algumas pessoas enriquecem devido ao uso da mais valia que segundo a teoria marxista, representa a disparidade entre o salário pago e o valor produzido pelo trabalho.
Peguemos outros exemplos, e constataremos que as pessoas mais ricas em nosso país foram as pessoas cujos familiares exploraram e bem a mão de obra escrava e se enriqueceram às custas de sangue, suor, lágrimas e vidas, muitas vidas.
No Brasil os mais ricos são em sua maioria os “afro-beneficiários”, e se estudarmos a fundo a bancada rural em nosso congresso perceberemos que a sua formação e patrimônio se deram devido ao legado duradouro da escravidão e encontra-se ainda tão enraizado tal legado que esta bancada é o maior empecilho no combate ao trabalho análogo a escravidão[3].
Para termos ideia, a pessoa mais rica do mundo foi simplesmente herdeira de um minerador de esmeraldas na África, ou seja, muita exploração. Seu pai simplesmente deu para cada filho, no total de 12 filhos, uma quantia a equivalente R$ 97 bilhões[4], assim sendo, ela não ficou rico sozinho.
O mesmo acontece com os que se auto denominam influenciadores, muitos ficam ricos graças ao déficit cognitivo de seus seguidores, sem entrar no mérito dos políticos sendo que muitos enriquecem devido a corrupção que acontece de várias formas como rachadinhas, propinas, desvio de verba pública, etc...
Enfim, é uma falácia ouvirmos a afirmação de que não dependemos de ninguém para chegarmos onde chegamos, assim sendo, enriquecer é uma coisa, agora enriquecer com a consciência tranquila, consciência de classe, dignidade, ética é outra coisa.
Dito isso, que a educação possa por meio de seus profissionais, desenvolver a socialização de seus educandos e fazer com que estes não percam o que se tem de mais valioso no ser humano que é a sua humanidade.
[1] SOUZA, João Valdir Alves de,. Introdução a Sociologia da Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
[2] CHINOY, Ely. Sociedade: Uma introdução à sociologia São Paulo: Cultrix 2006
[3] Bancada ruralista cresce 58% e barra combate à escravidão. Disponível em: <https://ww2.contag.org.br/bancada-ruralista-cresce-58--e-barra-combate-a-escravidao-20071021>
[4] https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/06/26/herdeiro-de-minerador-de-esmeraldas-e-pai-de-12-elon-musk-tem-r-97-bilhoes-para-cada-filho-veja-fortuna.ghtml