Educação e o Anel de Giges
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
Como esclarecido por mim no livro Gestão Pedagógica: Gerindo Escolas para Cidadania Crítica, publicado pela WAK em 2009, a técnica de storytelling busca difundir valores, e também conhecimentos adquiridos por meio de narração de histórias, já que story significa historiar, narrar; e telling, significa de forma eficaz, notável, surgindo então a palavra storytelling, ou seja, a arte de narrarmos um fato de forma eficaz assegurando a assimilação dos ouvintes.
Claro que esta técnica pode ser usada nas diversas áreas, sejam nas organizações empresariais, nas instituições educacionais, nas reuniões familiares enfim, em qualquer situação que se deseje passar ideias motivacionais e/ou valores.
Observe uma situação interessante ocorrida no ano de 2017, a qual houve uma paralização da Polícia Militar no Estado de Espírito Santo, ocasionando em mais de mil ações penais[1].
Interessante pontuar que o simples fato da polícia estar presente já intimida qualquer contravenção, dito isso, é verdade uma teoria levantada de que justiça e virtude estão nas pessoas quando elas são observadas por terceiros ou vigiadas perante a Lei, e dessa forma, é sabido que muitas pessoas acreditam ser mais importante apenas aparentar ser um homem virtuoso e justo, já que estas qualidades não são desejáveis pelas pessoas.
Tais falas pontuam que as pessoas fingem ser o que não são por medo da punição e/ou consequências negativas e não por caráter ilibado que tem como foco a própria evolução moral.
Quando se tem a certeza da completa imunidade à punição, os valores, a ética e a moral passam a ser meros caprichos, o que podemos pegar como contraexemplo nossos próprios políticos.
A quase certeza da impunidade faz com que eles se abstenham da ética, do humanismo e até mesmo da própria dignidade, o que é esclarecido em uma história contada por Platão no livro A República (2:359a–2:360d) em que cita um artefato utilizado por Giges.
Uma versão dessa história relata que Giges era visto por sua comunidade como um bom homem, querido por todos, e ao encontrar certo artefato, descobriu que ao colocá-lo entre as mãos, a pessoa que o colocou ficava invisível, e este artefato era nada menos que um anel que lhe proporcionava o poder da invisibilidade.
Ciente deste poder, Giges começou cometendo pequenos delitos e sabendo de sua imunidade, sua máscara de hipocrisia foi ao chão, tornando-se um facínora, um ser execrável, vil, mesquinho e que tudo fazia sem qualquer filtro pudor.
O fato é que o anel não tinha o poder de mudar a sua personalidade, a sua personalidade já era moldada por seu caráter falho, o anel apenas fazia aflorar o seu verdadeiro ser, quando lhe dava o poder de ficar invisível a sociedade.
Assim são os nossos políticos que, com a sua plena consciência de impunidade, cometem atos contra a humanidade, abstendo de tudo que nos diferenciariam dos seres mais bestiais.
Giges na verdade, não era este ser bondoso, ele só tinha medo de ser punido. Ele era o que o anel explicitou, e temos muitos Giges na política, nas instituições militares, nas instituições educacionais e até mesmo na própria família.
Dito isso, que nós educadores possamos trabalhar em parceria com a família, os verdadeiros valores que são inquestionáveis e inegociáveis em um homem de bem e que nossa ação seja o reflexo de um medo relacionado a degradação moral e não a punição.
[1] https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/crimes-cometidos-na-greve-da-pm-geraram-mais-de-1-mil-acoes-penais-diz-mp-es.ghtml