Educação e Drapetomania

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806

Como ressaltado no texto Educação Desnaturalizando o Racismo Estrutural[1], existe todo um processo histórico para que ele ainda permaneça, fazendo com que uma parte da sociedade brasileira imponha sua força, explorando uma classe subordinada e subtraindo toda a sua dignidade.

Ao buscarmos as fontes desta falta de humanização com os pretos, perceberemos a hipocrisia dos brancos e sua ganância em ficar cada vez mais ricos com a mão de obra escrava em tempos remotos ou análoga à escravidão nos dias de hoje, por algumas empresas, fazendas e até mesmo em casa de desembargador[2].

Tivemos representantes políticos como certo vereador do Rio Grande do Sul, que declarou que os negros já estão quase brancos, estão saindo com loira, estão comendo em restaurantes[3], ou um parlamentar que ao assumir a Presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, dizer não ter nenhum tipo de preconceito. “Na minha secretaria, vou atender negros e gays como se fosse qualquer pessoa normal”, e falas tão imbecis quanto essas foi a de nosso ex-presidente, quando ainda deputado ressaltar que seus filhos não se casariam com uma negra por terem sido bem educados[4], enfim, para estes representantes, a hipocrisia impera, e isso faz com que as pessoas pretas se sintam constrangidas em se denominarem pretas.

Uma informação desconhecida por muitos aconteceu em 1851, e observe que naquele tempo, não existia as tecnologias de Informação e Comunicação como temos atualmente, mas mesmo assim, tal pensamento enraizou por todo país e por gerações.

Foi neste ano que um médico estadunidense que se dizia cristão e morador de Louisiana, desenvolveu e propagou o conceito drapetomania, afirmando que o desejo por liberdade seria apenas um desvio psicológico, e com seus estudos, difundiu esta devassa ideia, o que claro, encontrou adeptos oportunistas para poderem continuar explorando o preto e assim perpetuarem seus desmandos, suas opressões e barbáries.

A parte triste desta ideia aconteceu há praticamente 100 anos depois, quando determinada corrente médica e psiquiátrica sustentou que tanto a insatisfação quanto a resistência dos descendentes de africanos escravizados poderiam ter sintomas de transtornos psicológicos.

No Brasil não foi diferente, já que em 1900 tivemos o darwinismo social e a eugenia que afirmavam “cientificamente” que os pretos eram inferiores aos brancos e em 1934, reforçado pela própria constituição acontecia o movimento do bem-nascido que culminou no embranquecimento do povo brasileiro.

Observe que são anos de ódio, preconceito, omissão e exclusão e o próprio povo preto passou a odiar a própria cor e em concomitância a negar a própria raça.

Tem uma fala de Malcolm X que diz que “sempre que você se levantar para lutar pelos direitos do seu povo preto e estiver notável progresso, começarão a se levantar contra você e a inventar mentiras a seu respeito. E os primeiros a fazer isso são os “pretos domésticos””, e estes pretos domésticos são os que defendem os brancos, os que negam a raça.

Dito isso, as escolas precisam trabalhar com seus alunos o letramento racista e mostrar que a história do preto é uma história de sangue, sofrimento, dor, castigo e morte o que reverbera em nossa contemporaneidade.

As escolas devem ser instituições prontas a combater qualquer tipo de discriminação, desenvolvendo em seus alunos consciência social mais abrangente e consciente de forma a construir uma sociedade mais justa e igualitária e inclusiva.