21/06/2022

Educação e Criticidade para os Paradoxos Brasileiros

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

É notório perceber os percalços que os bons professores passarão para desenvolver a criticidade em seus alunos. Digo bons professores porque os sofríveis por serem assim, tornam-se coniventes com a realidade vivenciada em nosso país, quiçá, contribuíram com esta nefasta realidade, elegendo um chefe de Estado deveras desumano, incapaz, desprovido de ética e com grande desvio de caráter.
De acordo com Souza em seu livro Introdução a Sociologia da Educação, publicado pela Autêntica em 2007, estamos em plena modernidade, e ela é marcada pelos paradoxos, e desta forma o autor faz uma citação de Berman (1988) ao elucidar que ser moderno é viver uma vida de paradoxos e contradições.
Seguindo este raciocínio, Berman pontua que ao mesmo tempo em que se está fortalecido pelas organizações burocráticas que detêm o poder, existe em contrapartida, uma necessidade de controlar e destruir comunidades, valores e vidas.
Desta forma, dando continuidade ao exposto acima, a modernidade é sobretudo, paradoxo, contradição, ambiguidade. Em suas palavras, “ser moderno é encontrar-se um ambiente que prometa aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas ao redor – mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos”. (BERMAN, 1988, P. 15).
E assim tem sido o Brasil, um país com tudo para continuar promissor, como foi quando ocupou a 6ª posição da economia mundial e hoje sequer ocupa as 10 primeiras posições, o que é corroborado pelo economista Leonardo Pereira ao afirmar que encontramo-nos na 13ª posição.
Cabe pontuar que este paradoxo foi algo planejado de forma bem estratégica, pois houve um aparelhamento na Funai (Fundação Nacional do Índio) para beneficiar a invasão de terras indígenas por agricultores querendo expandir o seu agronegócio, por grileiros querendo viver de seus latifúndios, por madeireiros a desmatar e enriquecer-se com nossas florestas, as mineradoras a devastarem todo o ambiente, aos garimpeiros em busca de ouro e fazendo o que for preciso de forma escusa para conseguir tal intento e aos contrabandistas para roubarem e venderem as riquezas.
Em relação ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais), o aparelhamento foi justamente para defender as devastações de florestas e poluição dos rios, sendo assim o braço forte de uma Funai aparelhada.
E para efetivar este plano nefasto, nosso chefe de Estado exonerou e continua exonerando e/ou afastando delegados que defendem territórios indígenas e terras demarcadas para conservação ambiental contra, principalmente garimpeiros.
Para complicar ainda mais, pessoas que trabalham a favor das demarcações e dos povos indígenas são assassinadas cruelmente por alguns dos beneficiados acima, como aconteceu com o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira, e o governo de forma desumana deixa claro que em relação ao jornalista, justifica a atrocidade com a infeliz fala: "Esse inglês era mal visto, fazia muita matéria contra garimpeiros, na questão ambiental, então, naquela região que é bastante isolada, muita gente não gostava dele".
Tivemos mais dois homicídios dos inúmeros que ocorreram e foram ignorados por nosso governo. 
Foram mais dois seres humanos que lutaram por vários outros seres humanos, que para nosso chefe de Estado, são vistos como vagabundos, sem cultura, e que não contribuem em nada para o país, como ressaltado por ele mesmo em suas falas: “Os índios não falam nossa língua, não têm dinheiro, não têm cultura. São povos nativos. Como eles conseguem ter 13% do território nacional?”, ou para mostrar toda a sua falta de humanismo e excesso de preconceito, “Com toda a certeza, o índio mudou, tá evoluindo. Cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós.”
Observe que as falas acima, justificam o aparelhamento da Funai e do Ibama, pois para nosso governo, os índios já deveriam ter sido extintos do Brasil, já que o mesmo foi enfático ao elogiar a cavalaria americana, lamentando que a nossa cavalaria não fez o mesmo: “Pena que a cavalaria brasileira não tenha sido tão eficiente quanto a americana, que exterminou os índios”.
Será que este é o preço da modernidade? Um governo que faz a Funai ser contra os índios, o Ibama ser contra a natureza, o Incra ser contra a reforma agrária, o MEC ser contra as universidades, a Fundação dos Palmares ser contra os negros, a Cultura ser contra artistas e porque não dizer, o presidente que infelizmente foi escolhido por uma massa que não tem nenhum poder de discernimento e realidade social ser contra a democracia.
E para ressaltar o paradoxo em que vivemos, o Brasil bate recorde na produção de grãos, exportação de carne bovina e tem em seu território mais de 33 milhões de brasileiros passando fome, o que tinha sido praticamente erradicado.
Realmente nós educadores teremos que nos desdobrar e novamente buscar forças hercúleas para explicarmos tais paradoxos a nossos alunos para que ele entendam e não cometam os mesmos erros de seus antecessores, e que nossos educandos jamais deixem de perceber a importância do bem coletivo e a consciência de classe.

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