Educação e a Triste Romantização da Docência
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
Aposentar é o sonho de todo trabalhador e esta fala me remete a um passado em que meu pai dizia que quando se aposentasse, iria viajar, passear bastante, obviamente isso é o sonho de milhões de brasileiros, todavia, a realidade falou mais alto, o que concomitantemente representa a vida de milhões de brasileiros que perceberam que ao aposentar, é que começa a luta pela sobrevivência, com a queda de salário, perda de direitos e a realidade crua e nua de quem depende do Estado.
Por isso que muitos aposentam e continuam trabalhando, não porque amam trabalhar, mas por ser uma questão de sobrevivência, de honrar com os compromissos em relação as dívidas como aluguéis, vestuários, remédios, boletos, planos de saúde para uma minoria, enfim, quase uma infinidade de contas.
Assim como acontece em muitas profissões, não é diferente na área da docência, que chega a ser mais ingrata por ter muitas de suas instituições educacionais públicas sucateadas, e mesmo as escolas privadas, que cobrando altos valores em suas mensalidades, se dizem filantrópicas justificando o salário de seus professores com o mínimo exigido pelos acordos sindicais a seus professores, e ainda se acham no direito de exigir cada vez mais destes professores.
Para muitos a educação virou comércio e talvez por este motivo, a segurança, e talvez a disciplina nestas instituições são levadas mais a sério, enquanto que nas instituições públicas, elas são simplesmente ignoradas.
Muitos políticos e pseudo-educadores dizem que o professor tem que trabalhar por amor a educação o que é um absurdo tal pensamento, pois trabalhamos sim por amor, mas só o amor não paga as contas citadas acima.
A docência é uma classe de trabalhadores desprestigiados pela sociedade na qual vira a justificativa para as frustrações dos pais em relação a vida errônea de seus filhos, deixados pelos próprios familiares a deriva entre indiferença e o aliciamento de uma vida promíscua e marginalizada pelas drogas, violências, homicídios, furtos e latrocínios.
A família está falhando em sua primordial missão que é ser o esteio da sociedade, pois é ela uma instituição que remonta às origens da humanidade e assim tem sido por milênios, preservando seus essenciais valores que têm se perdido.
Esta mesma família está se corrompendo e perdendo por completo o que lhe é direcionado de mais sagrado, que é a criação e educação de seus filhos que deverão ser a perpetuação de sua linhagem.
A família muitas vezes por comodismo, se abstraiu de sua sagrada missão e direcionou para a escola, que por mais que tente, não conseguirá suprir o amor materno, a autoridade do pai, a cumplicidade dos irmãos e a afetividade dos laços familiares.
Em um passado remoto, ser professor era orgulho para os profissionais e tinha em tal época um glamour, ou seja, o mesmo status que um médico nos dias de hoje, porque cuidávamos do futuro do país, do futuro de nossas crianças.
Hoje para um professor ter um salário um pouco mais digno, tem que se desdobrar em vários turnos, dobrando sua carga horária, sem contar que é um dos únicos profissionais em que seu trabalho não acaba com o fim do expediente, pois geralmente quando acaba o expediente na escola, começa o de casa, com planejamentos para as próximas aulas, preparação de provas, correções, reuniões infrutíferas fora de horário, lançamentos de diários, fechamento de notas além de outros problemas estressantes como assédio moral de diretores incompetentes que encontram-se como gestores não por competência, mas por troca de favores políticos quando não por favores escusos, sem contar com retrabalhos que estes mesmos professores têm por pedagogos que desconhecem a realidade em sala de aula e ficam em um país de Alice.
É justamente por este salário mais digno que muitos professores se sujeitam a trabalhar mesmo tendo se aposentado em um de seus cargos.
O problema é que a sociedade busca romantizar as mortes dos professores, como se este fosse um herói solitário a lutar por vidas negligenciadas, e com isso, banaliza a situação tornando como um caso isolado.
A realidade é que estamos desamparados pelo Estado e também pela sociedade, já que a violência contra o professor se banalizou e os infratores quando denunciados pelos docentes aos órgãos competentes, estes mesmos profissionais têm que aprender lidar com o descaso e esperar que se efetivem as ameaças e os medos, isso porque existe uma certeza por parte destes infratores que não haverá punição administrativa ou até mesmo judicial em relação as indisciplinas cometidas por eles, o que encoraja a outros infratores a cometerem atos semelhantes ou até mais nefastos, como uma competição de quem é mais ousado e temido..
Cada professor que sofre com a indiferença e com a violência nas salas de aulas é uma que chaga a sangrar na sociedade, assim sendo, que possamos como profissionais da educação, darmos o nosso melhor sem abstermos de nossa saúde mental e bem-estar físico.
Que a sociedade possa despertar desta letargia e cobrar do Estado a dignidade que o mesmo usurpou de seus profissionais da educação, pois enquanto isso em Minas Gerais, o seu governador justifica a necessidade de aumentar o seu salário e de seus secretários em 298%, e este mesmo governador se nega a fazer o rateio do Fundeb, mesmo tendo dinheiro, ele “se recusa a fazer uma proposta real de valorização dos profissionais da educação”.