Educação e a Pedagogia do Coturno
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
Ao falar da pedagogia do coturno faz-se necessário perceber a gritante diferença entre escola militar e militarização das escolas públicas.
Na primeira, a qualidade do ensino é inquestionável, exigindo disciplina e estudo, dedicação, professores bem preparados, boa estrutura dentre outras vantagens relacionadas a uma escola pública.
Como afirmado, a qualidade das escolas militares como ESA, EPCAR, Escola Naval, Colégio Naval e outras mais, têm a sua qualidade alicerçada na disciplina e no próprio perfil do corpo discente, já que se trata de um alunado que pleiteia a carreira militar.
O mesmo não acontece com escolas militarizadas que outrora eram escolas públicas sucateadas pelo sistema com o fim de justificar sua militarização, oferecendo-as a militares que sequer tem noção de educação.
Será um momento impar para aumentar as milícias, já que ela atua nas comunidades “oferecendo” todos os tipos de serviços, a educação será outro braço para formação de milicianos, alienados e imbecilizados, que seguirão ordens de militares covardes e corruptos.
Para Santos e Alves (2022)[1], as escolas militarizadas buscam formas para driblar as normas jurídicas nacionais para a educação, o que é caracterizado um desrespeito aos preceitos legais para a educação pública defendida e ressaltada pelo Art. 205 da Constituição Federal de 1988 e também pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996, principalmente no que diz respeito à gratuidade, à gestão democrática, aos profissionais habilitados para atuarem no campo educacional, bem como a liberdade de aprender e ensinar e à igualdade de acesso e permanência do corpo discente.
Para Alves e Tochi (2019)[2], a militarização das escolas troca a democracia pela seletividade, disciplina por medo, como estratégia de controle que desconsiderará a pluralidade e a subjetividade dos alunos.
Cunha e Lopes (2022)[3] elucidam que a militarização das escolas implica em uma forte ameaça ao Estado Democrático de Direito além do risco à formação cidadã, a dignidade da pessoa humana, ao pluralismo político bem como a construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
As falas dos autores acima convergem para afirmar que a simples ideia de militaraização das escolas públicas contribuirá com o comprometimento da democracia bem como o respeito as diversidades e o aumento da exclusão social, algo que tem sido trabalhado para sua total erradicação.
Dito isso, por meio de falácias, políticos defendem a militarização e para justificarem suas ideias, causam o sucateamento das escolas, desvalorizam os profissionais da educação além de corromperem o sistema educacional com conteúdos insípidos e estéreis, fazendo com que a educação pública brasileira tenha uma avaliação abaixo do esperado.
Interessante pontuar que para melhorar a educação pública, não precisa em momento algum a sua militarização, basta erradicar o analfabestismo político, trabalhando e desenvolvendo a politização do educando para que ele aprenda a votar em quem acredita no poder transformador da educação e com ela se encontra comprometido.
Vale ressaltar que a militarização das escolas públicas será uma oportunidade para que militares na reserva e sem o mínimo de conhecimento relacionado ao ato de educar, tenham outra fonte de renda e banalizem as milícias aumentando sua seara e em concomitância o medo como controle da população.
Como dizia Paulo Freire, educar é um ato de amor, pois em suas falas é elucidado que “eu nunca poderia pensar em educação sem amor. É por isso que eu me considero um educador: acima de tudo porque eu sinto amor”.
[1] SANTOS, E. J. F.; ALVES, M. F.. MILITARIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL EM 2019: ANÁLISE DO CENÁRIO NACIONAL. Cadernos de Pesquisa, v. 52, p. e09144, 2022
[2] ALVES, Miriam Fábia; TOSCHI, Mirza Seabra. A militarização das escolas públicas: uma análise a partir das pesquisas da área de educação no Brasil. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, Goiânia , v. 35, n. 3, p. 633-647, maio 2019 . Disponível em <http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2447-41932019000300633&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 03 jun. 2024. Epub 21-Jul-2020. https://doi.org/10.21573/vol35n32019.96283.
[3] CUNHA, Viviane Peixoto da; LOPES, Alice Casimiro. Militarização da Gestão Das Escolas Públicas: A Exclusão da Atividade Política Democrática. Educ. Soc., Campinas, v. 43, e258252, 2022. Disponível em:<https://www.scielo.br/j/es/a/QjXXtGBRt8JHqsyKn335nWK/?format=pdf&lang=pt>