29/10/2025

Educação e a Metáfora dos Nossos Tempos

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806

 

Robin Williams foi certeiro em algumas falas durante sua vida. Duas delas foram: “as pessoas não fingem depressão, elas fingem estar bem” e “costumava pensar que a pior coisa da vida era terminar só. Mas não é. O pior da vida é terminar com alguém que te faz sentir só”.

Vendo as redes de relacionamento me deparei com uma triste notícia a qual informava que o corpo de um idoso foi encontrado em sua casa após 15 anos, ou seja, foram dias de solidão antes deste idoso vir a óbito.

Ninguém sentiu falta dele, nem familiares, nem amigos e tampouco vizinhos, visto que ele morava em um apartamento e a única companhia era a solidão que se encarregou de apagar seu legado, seus feitos e toda sua existência.

Ele simplesmente deixou de existir e a vida simplesmente continuou, e vem a seguinte pergunta: em qual momento a sociedade falhou? Porque se analisarmos a etimologia da palavra sociedade, ela nos remeterá ao latim societas, que tem o significado de associação amistosa com os outros.

Para Castro (2000)[1], a sociedade é uma condição universal da vida humana e o que confirma as falas de Souza (2007)[2] quando elucida que fora do convívio da sociedade o indivíduo não se constitui um ser social.

Isso porque a sociedade se baseia em um grupo de indivíduos que partilham território, cultura, norma de convivência e objetivos comuns, formando assim um sistema organizado e interligado para garantir a sobrevivência e o bem-estar coletivo.

Observe que existe no caso deste idoso, uma falha no ser humano em entender os conceitos acima. Não houve no caso supracitado partilha de território, objetivos comuns, bem-estar coletivo, sobrevivência, ou qualquer outro termo que elucida de forma efetiva o conceito de sociedade.

Houve o descaso, o ostracismo, a solidão e talvez, a falta de utilidade por parte do idoso, visto que para muitos, somos lembrados apenas por nossa utilidade, reforçando a seguinte pergunta; “será que somos amados ou apenas úteis para os outros?”.

Temos muito a aprender com o Japão, visto que é um dos países com maior proporção de idosos no mundo o que tem a sua explicação na baixa taxa de natalidade e alta expectativa de vida.

Uma curiosidade interessante é que neste país existe um número recorde de pessoas centenárias e este número tem crescido anualmente por décadas e a educação preocupada com isso, tem trabalhado em seus alunos a empatia com os idosos, o que é feito por meio de uma abordagem prática e vivencial com apoio dos profissionais de saúde.

A educação se dá por meio de trajes de simulação de envelhecimento, fazendo com que as pessoas experimentem diretamente as dificuldades e limitações da velhice, como perda de visão, redução da força, rigidez nas articulações dentre outras comorbidades oriundas da velhice.

Além de uma melhor compreensão, as crianças desenvolvem uma melhora no cuidado além do respeito ao idoso, isso porque encontra-se enraizado na cultura japonesa e bem representando pelo termo omoiyari, que valoriza a importância de se colocar no lugar do outro. Essa filosofia permeia a sociedade e reforça a necessidade de empatia e cuidado com a população idosa.

Que a nossa educação pública possa desenvolver em nossos alunos esse olhar empático voltado para os idosos que são referências em sabedoria, experiência e que servem como base na transmissão de valores que têm se perdido em nossa sociedade.

 

[1] CASTRO, Eduardo Batalha Viveiro de. O conceito de "sociedade" em antropologia: um sobrevôo. Teoria e Sociedade. Revista dos Departamentos Ciência Política e de Sociologia e Antropologia. Jun. 2000. Disponível em: <https://acervo.socioambiental.org/sites/default/files/documents/K1D00058.pdf>

[2] SOUZA, João Valdir Alves de,.  Introdução a Sociologia da Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

 

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