20/06/2024

Educação e a Ignorância Literária

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806

Todos educadores conhecem o braço forte do sistema educacional e o seu poder de manipulação, todavia, é inaceitável quando este autoritarismo vem alicerçado pela ignorância literária, aliás, são justamente os ignorantes e incultos que criam problemas relacionados a educação.

É sabido que a leitura fomenta o conhecimento e em concomitância a autonomia e o discernimento.

O escritor Jorge Luis Borges certa vez disse que o livro é a extensão da memória e da imaginação e como pontuado por mim no livro Educação um Ato Político publicado pela Autografia em 2019, essa mesma leitura também nos leva ao tesouro de Bresa.

Ao analisarmos as falas acima, percebemos que realmente a leitura passa a ser uma ameaça a este sistema manipulador e uma forma de invalidar esta ameaça é coibir certas leituras que tenderão a levar o caro leitor a um pensamento mais crítico do status quo, isso porque a leitura te liberta das crendices, das falácias e de qualquer tipo de inverdades.

Em menos de um ano, tivemos por alguns governos duas obras tiradas dos acervos como bibliotecas das escolas e bibliotecas públicas, e ambas retratando bem o racismo.

Isso nos remete a pensarmos nos fatos históricos como ocorreu em Roma no século XII a. C. que por meio de uma ordem de Augusto, obras oraculares e proféticas foram queimadas já que o imperador não queria ter suas ideias questionadas.

Em 1933 a história se repetiu quando foram queimados mais de 25mil livros não alemães por estudantes universitários, propiciando o início a uma era de censura política e controle cultural, oportunizando uma das piores ideologias políticas de nosso tempo, denominada nazismo, que dizimou milhões de vidas[1]

Estamos retrocedendo no quesito cultura, pois o Brasil também tem contribuído com perseguições, não queimando livros, mas coibindo a leitura e retirando-os do acesso dos leitores.

Das obras censuradas no Brasil, a primeira é do escritor negro Jeferson Tenório e que foi eleito como patrono da Feiro do Livro de Porto Alegre e que publicou um romance literário intitulado O Avesso da Pele.

Nessa obra, ele aborda o racismo estrutural oriundo da falsa abolição, a importância de se resguardar a própria identidade como negro, a violência contra os negros sofridas por instituições que deveriam resguardar a integridade de todo cidadão (polícia militar) além de abordar a defasagem em que se encontra a educação no Brasil.

O motivo é linguagem imprópria que simplesmente acoberta o falso moralismo de uma sociedade hipócrita e doentia, que em nome de uma moral e bons costumes se acham no direito de decidir o que devemos ou não ler.

Vale ressaltar que o livro supracitado ganhou o prêmio Jabuti além de ter seus direitos vendidos para Portugal, Itália, Inglaterra, França, Suécia, China, Bélgica e Estados Unidos, só que em contrapartida, no seu país de origem, ele não é uma leitura aceita pelo sistema manipulador.

No Estado de Minas Gerais, estão proibindo leitura até de obra infantil, publicado por Ziraldo, autor que recebeu vários prêmios como 2 Jabutis, Merghantealler, Andersen - Il mondo dell'infanzia, Ordem do Mérito Cultural, Prêmio Ibero-Americano de Humor Gráfico, dentre outros reconhecimentos.

No caso de Ziraldo, sua obra “proibida” é intitulada O Menino Marron, cuja mensagem principal é sobre racismo, pontuando que ele é construído com base em classificação de cores como negativas e positivo.

Obviamente o texto usa de uma linguagem peculiar do nosso grande escritor e criador do Menino Maluquinho, todavia é extraído de sua obra frases descontextualizadas e a partir daí, usa-se como argumentos imbecis para sua censura.

O fato é que não se trata de uma ignorância literária e sim, de uma horrenda e vil manipulação mascarada com o fulcro de manter o povo desinformado.

É sabido que uma criança que lê com certeza será um adulto com grande poder de discernimento, isto é, um agente protagônico cognoscente, e cabe aos professores não ceder a essas manipulações, instigando sempre seus alunos a lerem, pois já afirmava Monteiro Lobato que quem não lê, mal, fala, mal ouve e mal vê.

 

[1] Para mais informações, vide: https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/documenting-numbers-of-victims-of-the-holocaust-and-nazi-persecution

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