01/03/2024

Educação e a Dissonância das Avaliações

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente

Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806

www.wolmer.pro.br

 

Não precisamos pesquisar nos alicerces da educação o engodo que muitas vezes é a gestão da qualidade na educação, isso porque por meio de falácias, pessoas afirmam que a qualidade da educação se resume a números de aprovações.

A gestão da aprendizagem não pode se prender as estatísticas em salas de aulas com altas aprovações e gráficos pontuando o andamento da turma, pois elas podem ser utilizadas para influenciar as opiniões públicas, camuflando os verdadeiros resultados.

No caso da educação e de suas avaliações internas, os números mentem e isso fomenta a produção de resultados positivos sem ao menos contemplar o mínimo exigido no quesito qualidade.

A qualidade na educação e em concomitância na aprendizagem deve ocorrer mediante avaliações externas e não por pressões aos professores para que estes alcancem metas de aprovações.

Programas de Gestão pela Aprendizagem é uma forma que os governos têm de idiotizar seus alunos, já que os avaliadores sejam por intimidação ou por persuasão, fazem os professores dizerem o que eles querem ouvir e fazerem o que eles insinuam, ou seja, inverdades em relação as avaliações dos materiais oferecidos, a produção de resultados forjados para que as metas sejam batidas e um efeito dominó que futuramente elitizará cada vez mais o ensino superior, já que estes jovens não estarão aptos a concorrer com escolas que não se limitaram a metas fabricadas.

Cabrito[1] em seu artigo intitulado Avaliar a qualidade em educação: avaliar o quê? Avaliar como? Avaliar para quê?, publicado em 2009 por Cadernos CEDES, elucida que “quando cedemos a tentação da medida esquecemos a especificidade do processo educativo, sempre único e original, dificilmente enquadrável” para medição de objetivos, já que as avaliações foram uma migração da economia e finanças para a educação.

Para Cabrito, tais avaliações tinham como foco a produtividade e se baseavam na competitividade e satisfação do cliente, o que diverge da educação, uma vez que ela não trabalha com produtividade e sim, desenvolvimento das habilidades de seus alunos.

Cappelletti[2] em seu artigo Os conflitos na relação avaliação e qualidade da educação, publicado em 2015 pela  Educar em Revista, explica que avaliação e qualidade da educação devem ser vistas pelo prisma da “racionalidade emancipatória, considerando a educação como espaço da crítica histórico-política, da construção coletiva do conhecimento, da libertação humana do homem como agente de transformações sociais”, com isso, pode-se perceber que não se deve apoiar a resultados almejados por empresas que querem simplesmente criar estultos e elitizar as instituições superiores, fazendo com que os alunos da educação pública se limitem a base da pirâmide social.

Na verdade, a educação não precisa de muito como empresas de consultorias em educação, estatísticas mentirosas, resultados forjados causando efeito cascata em nossa sociedade, ela só precisa que os parlamentares aprovem e efetivem o projeto criado pelo então Senador Cristovam Buarque que criou o Projeto de Lei do Senado Nº 480, de 2007[3] que se baseia na obrigatoriedade de todo político eleito (vereador, prefeito, Deputado, etc.) matricular seu filho na escola pública.

Peguemos como exemplo a Finlândia[4] que é a primeira no Ranking dos dez países com melhor educação do mundo, e neste país apenas 2% das escolas são particulares.

Para “Jaana Palojärvi[5], diretora do Ministério da Educação e Cultura da Finlândia, a conquista deste ranking “não tem nada a ver com métodos pedagógicos revolucionários, uso da tecnologia em sala de aula ou exames gigantescos como Enem ou Enade. Pelo contrário: a Finlândia dispensa as provas nacionais e aposta na valorização do professor e na liberdade para ele poder trabalhar”.

Observe as duas variáveis importantes, valorização do professor e liberdade para poder trabalhar e geralmente estas empresas de consultoria fazem justamente ao contrário, com seus “métodos pedagógicos” elas engessam o professor inibindo-o de qualquer autonomia quanto ao desenvolvimento das habilidades de seus alunos.

Que possamos continuar a luta mostrando que o importante é o aluno aprender e não produzir números para agradar uma elite que não quer que filho de pobre tenha as mesmas oportunidades que seus filhos, concorrendo de igual para igual.

 

[1] CABRITO, B. G.. Avaliar a qualidade em educação: avaliar o quê? Avaliar como? Avaliar para quê?. Cadernos CEDES, v. 29, n. 78, p. 178–200, maio 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ccedes/a/zLzLGpYQGc3ycFYC4f4PhZL/#

 

[2] CAPPELLETTI, I. F.. Os conflitos na relação avaliação e qualidade da educação, publicado em 2015 pela  Educar em Revista, n. spe1, p. 93–107, 2015. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/er/a/yK836B9TTvYnGvbx78ywdfx/#>

[3] https://www.jusbrasil.com.br/noticias/projeto-obriga-politicos-a-matricularem-seus-filhos-em-escolas-publicas/2147411

[4] https://www.sonoticiaboa.com.br/2023/02/27/ranking-10-paises-melhor-educacao-mundo-ricos-poderosos

[5] https://www.professorfiorin.com/2013/06/pais-com-melhor-educacao-do-mundo.html

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