Educação e a Aporofobia
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
A obra de Rodrigues, intitulada Ética e Cidadania, publicada pela Moderna, teve como entrevistado nada mais nada menos que Herbert de Souza, conhecido como Betinho, um dos maiores sociólogos que o Brasil teve, e neste colóquio com Betinho, foi aduzido por ele que a arte tinha o poder de transformar, nem que seja primeiro na ficção ou seja, na imaginação.
O sociólogo continua a elucidar que foi no mundo da cultura que se aceitou o desafio de mudar. Foi ela que criou outro Brasil, um país sem pobreza, sem arrogância dos ricos, sem miséria, e um Brasil totalmente simples, porém radicalmente humano, todavia este humanismo perdeu-se nos sonhos.
A nossa realidade é representada pelo personagem criado por Chico Anísio e denominado Justo Veríssimo a espelhar uma parcela considerável dos políticos brasileiro. Era comum o parlamentar dizer "Quero que pobre se exploda", e é justamente isso que tem sido realçado em nossa atual política.
A aporofobia é gritante em nossa política, e a omissão com as classes sociais mais baixas explicitam o descaso e a aversão ao pobre.
Cabe salientar que aporofobia é derivada da palavra “áporos” que é pobre, desamparado e “fobia”, medo, aversão, e desta forma, a nossa atual política explicita seus preconceitos com os pobres.
Vimos no atual Ministro da Economia, na época que o dólar estava valendo R$ 1,80 e hoje está na casa de R$ 5,047 (até o momento em que se escreveu este texto), uma fala preconceituosa dizendo "todo mundo indo pra Disneylândia, empregada doméstica indo pra Disneylândia, uma festa danada” o que para ele é um absurdo, assim como também é absurdo filhos de porteiros irem para faculdade.
É sabido que a educação é uma forma de minimizar a pobreza e a miséria, fazendo valer a justiça social, o que pode ser corroborado por Souza em seu livro Introdução a Sociologia da Educação, publicado pela Autêntica em 2007, quando cita Rousseau, ao pontuar que ele imaginava uma ordem de igualdade relativa em que “ninguém fosse tão pobre que precisasse vender-se nem tão rico que pudesse comprar os outros”.
Harary em seu livro Sapiens - Uma Breve História da Humanidade, publicado pela Porto Alegre em 2016, corrobora as falas acima ao afirmar que a pobreza é um problema técnico passível de intervenção, e a mesma pode ser eliminada com base nas últimas descobertas em agronomia, economia, medicina e sociologia, todavia, em nossa situação, falta vontade política.
O autor salienta que existem na verdade duas pobrezas, uma social que é representada pela negação de oportunidades para algumas pessoas e a pobreza biológica que põe a própria vida do cidadão em risco por falta de alimento e abrigo.
Devido ao desvio de caráter de alguns políticos, a pobreza social não seja erradicada, mas Harary esclarece que em muitos países que tem uma política mais humanizada, a pobreza biológica é coisa do passado.
E assim vão seguindo os dias dos brasileiros no atual governo, representado por aumento de 22% da pobreza extrema, correspondendo a 86 milhões de pessoas que não têm sequer o mínimo para comer e que reserva 36 bilhões no orçamento secreto que nada mais é que um orçamento paralelo para conseguir apoio político de políticos corruptos e corruptíveis, fazendo valer as falas nada fictícia de que “pobre tem que morrer”.