Educação Diverge do Duplipensar
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
Apesar de Terêncio, um dramaturgo romano que morreu por volta de 159 a. C. ter dito “Homo sum; humani nil a me alienum puto”, ou seja, "Nada do que é humano me é estranho", posso afirmar que esta fala hoje seria difícil, isso porque mesmo que conheçamos as nuances da história, antropologia, psicologia dentre outras ciências que estudam também a cultura e o comportamento humano, o comportamento do brasileiro é estranho, e não se encaixaria nesta fala.
Assim com é estranho e ilógico a ideia de um duplipensar, isto é, duplo pensamento, que se refere a capacidade de aceitarmos duas crenças contraditórias e acreditarmos em ambas.
Trata-se de uma grande divergência comportamental, já que uma pessoa se sujeita a aceitar e manter opiniões opostas sem ao menos ter o discernimento de perceber a contradição.
Peguemos como exemplo, líderes religiosos que usam o nome de “deus” e pregam ódio, intolerância e preconceito e com a mesma intenção, pessoas se dizem patriotas e ao mesmo tempo torcem para que um país imperialista imponha a sua vontade subjugando a soberania do Brasil.
Enfim, são ideias contraditórias alimentadas por cidadãos que não têm senso crítico, que se subtraem do pensar, flertando insistentemente com a ignorância, abdicando do seu livre arbítrio, isso porque enxerga a escolha como fardo e prefere viver de acordo com as escolhas dos outros.
Interessante pontuar que a ignorância passa a ser algo coletivo, uma vez que muitos tendem convergir para a ignorância da massa que é algo pensado e efetivado de forma estratégica pelo próprio sistema.
O adágio popular, “se você não pensa por si próprio, pensarão para você”; nos faz refletir o quanto de imbecis temos em nosso país que ecoam as mais estultas idiotices ditas por seus “influenciadores”, religiosos e políticos.
Pessoas que apresentam este tipo de comportamento normalizam “fatos alternativos”, o que é um termo que na verdade trata-se de alegações falsas ou não sustentadas por evidências objetivas.
Assim o duplipensar ganha força, tanto que vemos nas principais mídias, políticos contra o povo, afirmando estarem vivendo em uma ditadura e ao mesmo tempo, falando mal do governo e, reclamando também de não terem liberdade de expressão, mas quando alguém faz acusações relacionadas a seus duvidosos métodos, querem processar por difamação, desconsiderando inclusive a liberdade de expressão.
Enfim, vivem de contradições levantando a bandeira da hipocrisia para camuflar o falso moralismo.
Observe o quão pantanoso tem sido o terreno para que a educação possa ser trabalhada de forma mais efetiva, iluminando com a luz do conhecimento e discernimento o obscurantismo da ignorância, do medo de pensar por si só e de assumir os próprios erros.
Dito isso, podemos perceber que educar não é uma tarefa fácil, exige esforços hercúleos dos docentes e comunidades para fazer o sujeito sair de seu estado embrionário de inteligência e se apossar de suas habilidades, competências e autonomia intelectual para pensar por si mesmo, e perceber que mudanças acontecerão quando ele tiver ciência de que é um indivíduo e um cidadão, e não parte de uma massa de manobra como um boi no pasto esperando o berrante para ir em direção ao matadouro, que metaforicamente podemos chamar de alienação e ignorância.
Isso porque o conhecimento é libertador e em concomitância, transformador e plenamente incompatível com duplipensar, visto que nada refuta a ciência a não ser ela mesma.