15/02/2018

Educação Contemporânea e Desafios Escolares

EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E DESAFIOS ESCOLARES

Peterson Ayres Cabelleira[1]

Resumo

O presente artigo discute os desafios da educação contemporânea diante das constantes mudanças no processo de globalização, resgatando as contribuições de Jurjo Torres Santomé e Boaventura de Souza Santos no entendimento das relações que se estabelecem entre os sujeitos e as dimensões que os cercam, considerando seus espaços socioeconômicos-culturais e a ação dos educadores enquanto sujeitos com potencialidades de transformação social.

Palavras-chave: Globalização. Complexidade. Escola.

Palavras Iniciais

O desafio da educação na contemporaneidade não está apenas nos limites do espaço escolar mas em um processo de globalização que nos convida a enxergar além daquilo que os nossos olhos conseguem acessar. A complexidade do atual espaço socioeconômico-cultural desconstrói as estruturas estáticas de uma dormência que há muitos anos, nós, educadores, vivemos imersos e ali desenvolvemos raízes difíceis de serem modificadas. No entanto, essas raízes não nos dão mais segurança para manter uma base, que está em constante modificação e carente de diferenciações abertas a novas conexões. Contudo resgato as escritas de Santos (2003), quando nos lembra que vivemos em um mundo reconhecido como multicultural, no qual temos muito a fazer para assumirmos verdadeiramente a diferença e a diversidade, pois vivemos em uma sociedade desigual, produzida ao longo dos séculos pelo capitalismo. Ademais, a compreensão da noção decultura como incompleta,nos exige uma nova consciência de diálogo e abertura para/com os outros, reforçando: “temos o direito de sermos iguais quando a diferença nos inferioriza e diferentes quando a igualdade nos descaracteriza” (SANTOS, 2003, p. 64).

  1. A complexidade do(s) sujeito(s)

No âmbito escolar o professor e o estudante estabelecem relações de convívio e de aprendizado que buscam na subjetividade de cada “personagem” uma inspiração para as histórias do cotidiano em sala de aula. Entretanto, são histórias cruzadas, com origens diversas e meios imagináveis, o que coloca nas mãos do educador a habilidade de conduzir esses atores sociais a caminhos possíveis, sabendo que os acontecimentos no percurso desses sujeitos trarão mudanças que são condicionadas e influenciadas pelas diversas dimensões a que está inserido.

Os acontecimentos humanos apresentam diversas dimensões, pois trata-se de uma realidade multifacetada: a complexidade do mundo e da cultura nos mostra isso. Santomé (1998) remete que a compreensão de qualquer fenômeno social deve estar associada a análise de todas as dimensões e que essa necessidade de olhar de forma multifacetada, vem a constituir-se como um potente artefato para pensar a interdisciplinaridade. O processo interdisciplinar possibilita ao educador entender os fatos, conexões com os acontecimentos e as interações com/entre os sujeitos, ao mesmo tempo que, potencializa o processo cognitivo do estudante, organiza as informações neste diálogo conjunto. A saber:

“[...] a cultura, mentalidade e expectativas de qualquer pessoa são fruto de uma história vivida no seio de uma ou várias famílias, resultado de sua participação ativa dentro de grupos sociais étnicos, de gênero, de condicionantes geográficos, históricos, biológicos etc.”(SANTOMÉ,1998, p. 45)

Para tanto, o educador poderá estar constantemente atento às dimensões do social e suas mudanças que, por sua vez, potencializaram-se no e pelo processo de globalização. Nesse sentido, Santos (2002, p. 56) defende a teoria de que estamos vivendo um sistema mundial em transição, permeado por várias transformações que podem conduzir a um novo sistema mundial. Fala-se em novo currículo, novas diretrizes, novas bases, novo tempo e a cada novo ano nos deparamos com novas situações de problemas antigos e com as mesmas dificuldades. Essas limitações impedem a promoção da educação e a transformação social do sujeito, assim como desqualifica esse ambiente escolar.

 Estar aberto às novidades e querer conhecer o novo é fundamental, e isso não tolhe do educador suas posições e filosofias dos fatos, apenas possibilita ao grupo escolar a oportunidade de discutir, problematizar e expandir conhecimentos, potencializando pedagogicamente: o educador, o estudante, a escola e a sociedade como um todo; destarte, desenvolver o pensamento crítico do estudante é parte constante de regimentos escolares e projetos político-pedagógicos escolares, mas não necessariamente são garantias de práticas pedagógicas em que os  educadores irão criar e potencializar espaços multiculturais democráticos, com potencialidades interdisciplinares. Para isso, faz-se mister romper com as estruturas separatistas e limitadoras à uma necessidade global de processos de ensino e de aprendizagem complexos e emancipatórios.

Segundo Santos (2002,p.25), devemos acreditar no potencial emancipatório, na busca pela igualdade dos sujeitos e na solidariedade. Contudo, ressalta que o “pensamento crítico consiste na asserção de que a realidade não se reduz ao que existe”, sendo assim, as práticas e os pensamentos emancipatórios consistem em ampliar as possibilidades por meio da experimentação, da reflexão e pela busca de alternativas, das quais o educador fará junto com os estudantes.

Considerações Finais

As escolas públicas vivem um momento em que possuem a garantia contratual de um espaço democrático que, presente pelo menos em seus documentos oficiais, permitem ao professor desenvolver suas ações de forma não hegemônica, pois segundo Santomé (2003, p. 239) as instituições escolares não funcionam sempre como reprodutoras e dispõem de “uma certa autonomia que permite uma ação contra-hegemônica”. Entretanto, a intenção de produzir conhecimento é ação que parte do educador, sendo ele o responsável por provocar o dinamismo nas engrenagens do ambiente escolar, o que por conseqüência alcançará outras dimensões sociais, sendo essa ação cíclica, um dos principais objetivos das instituições escolares, a transformação social.

Referências

SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e interdisciplinaridade: O currículo integrado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

_____________________. A educação em tempos de neoliberalismo. Trad. Cláudia Schilling. Porto Alegre: Artmed, 2003.

SANTOS, Boaventura Souza. A globalização e as ciências sociais. São Paulo: Cortez, 2002.

_______________________. Direito e democracia. “A reforma global da justiça”. In: Pureza, J. M.; Ferreira, A. C. (org.) (2002) A teia global: movimentos sociais e instituições. Porto: Edições Afrontamento, 2002.

_______________________. Direitos e diversidade. In: FÓRUM SOCIAL MUNDIAL. 2003. Porto Alegre. Conferências. Rio de Janeiro: Secretaria Internacional do Fórum Social Mundial; IBASE, 2003. p. 61-64. (Coleção Fórum Social Mundial 2003, v. 1).

 


[1]Acadêmico do Programa de Mestrado Profissional de Ensino da Ciência da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Campus Bagé/RS. E-mail: petersoncabelleira@hotmail.com

 

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