26/05/2021

Educação ambiental – transversal e interdisciplinar

Educacao

Por Elenir Souza Santos Rocha. Professora Associada do Instituto Multidisciplinar em Saúde, Campus Anísio Teixeira – UFBA, em Vitória da Conquista – BA.

 

Educação ambiental – transversal e interdisciplinar

Por que se fala que a educação ambiental é transversal e interdisciplinar? O principal objetivo dos PCNs meio ambiente é versar sobre a transversalidade e a interdisciplinaridade como um ponto de vista crítico que indica a multiplicidade do real. Apesar de estarem em desuso, os PCNs são muito importantes e interessantes em relação a diversos temas educacionais. A interdisciplinaridade está associada a uma abordagem epistêmica dos mecanismos de aprendizagem, enquanto a transversalidade faz referência, principalmente, à perspectiva da didática.  

"A educação ambiental para a sustentabilidade deve permitir que a educação se converta em uma experiência vital, alegre, lúdica, atrativa, criadora de sentidos e significados, que estimule a criatividade e permita redirecionar a energia e a rebeldia da juventude para execução de projetos de atividades com a construção de uma sociedade mais justa, mais tolerante, mais equitativa, mais solidária democrática e mais participativa e na qual seja possível a vida com qualidade e dignidade. (Cúpula das Américas, 1998)".

A legislação sobre educação ambiental

Os princípios nacionais de Educação Ambiental são orientados pela lei n.º 9795, de 27 de abril de 1999. Dentre os temas alcançados estão objetivos, princípios, conceitos e atuação e a sua cooperação com a educação.

“Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.”

“Art. 7 º A Política Nacional de Educação Ambiental envolve em sua esfera de ação, além dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama, instituições educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino, os órgãos públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e organizações não-governamentais com atuação em educação ambiental”.

Um pouco de história

O regime militar deu suporte para o desenvolvimento econômico, na década de 1970, sem nenhuma preocupação ambiental, não importando o seu custo. Diante disso, como resposta, o Brasil recebeu diversas críticas. O governo Federal, não se importando com o fato, manteve sua decisão, justificando-o com a importância do desenvolvimento e crescimento do país. Em 1972, mesmo sustentando esta posição, o Brasil enviou uma delegação oficial para participar da Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo. No entanto, o Brasil assinou, sem restrições, no fim da Conferência de Estocolmo, a Declaração da ONU sobre o Meio Ambiente Humano.  Em 1973, foi criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), dentro do Ministério do Interior, pela Presidência da República. Este foi o primeiro órgão nacional do meio ambiente e dentre suas atribuições, estava o controle da poluição e a Educação Ambiental.

A Educação Ambiental No Brasil

Após a criação da SEMA, estabeleceu-se contato com o então Ministério da Educação e da Cultura, para a área de Educação Ambiental, resultando na deliberação de que Educação Ambiental poderia constar no currículo, mas não como disciplina. A primeira lei que dispõe a Educação Ambiental como um mecanismo para ajudar a minimizar e/ou solucionar os problemas ambientais foi promulgada em agosto de 1981. É a lei ambiental mais importante do Brasil, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente. Com a promulgação da atual Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988, trouxe alguns avanços na área ambiental, em seu Capítulo sobre o Meio Ambiente. Entre eles, tornou a educação ambiental obrigatória em todos os níveis de ensino, no entanto, sem tratá-la como uma disciplina. Infelizmente, segundo estudos, pouco foi feito no Brasil para a sua implantação concreta no ensino.

A Educação Ambiental nas Escolas

A educação é vista como o instrumento mais eficaz para intervenção na sociedade. Favorece a implantação de novos conceitos e transformação natural de rotinas. É fundamental que a educação estimule o senso crítico, que possa apontar caminhos, discussões e despertar a vontade de descoberta dos alunos. Diante disso, a Educação Ambiental apresenta o grande desafio de construir uma sociedade sustentável, em que se disponha valores éticos como colaboração, apoio, beneficência, flexibilidade, honestidade e respeito às desigualdades. Neste contexto, o professor passa a exercer um papel extremamente importante. Necessita contribuir com o desenvolvimento do jovem e do cidadão, no que diz respeito a educação, em um tempo de transformações e incertezas e o imperativo de restabelecer valores tão significativos condizentes com a atual sociedade. Nessa perspectiva, o professor é lavado a entender que terá de exercer um novo papel, conforme os princípios de ensino-aprendizagem empregados, como incentivar a aprendizagem, auxiliar os alunos nos seus planejamentos educacionais, saber enfrentar os erros durante o processo, educar através de exemplos, entre outros.

Qual o papel do aluno?

O discente necessita atingir algumas habilidades, como entender o que lê, fazer consultas em sites acadêmicos e em livros, sintetizar ideias, tomar notas, interpretar gráficos e dados, realizar experimentos, discutir os resultados obtidos, redigir conclusões e, além disso, utilizar instrumentos de medida quando necessário, bem como compreender as relações que existem entre os problemas atuais e o avanço científico. Neste contexto, o professor passa a assumir o verdadeiro papel de mediador do processo ensino-aprendizagem, oferecendo ao aluno a oportunidade de exercer uma postura investigativa e reflexiva. Na área de educação ambiental, passa a colaborar, de maneira que o discente construa a autonomia de pensamento e forma de agir, levando a uma ampliação das possibilidades na participação social e desenvolvimento mental, capacitando-os, cada vez mais, a executarem os seus papéis de cidadãos do mundo, contribuindo para a preservação ambiental.

Transversalidade da educação ambiental

Pode-se entender a abordagem transdisciplinar na educação como sendo a criação de espaços dialógicos entre saberes. Os diálogos oferecem um compartilhamento e produção de novos saberes, além de favorecer a sua ressignificação, em cada grupo, comunidade, instituição, entre outros, pois cada um deles trazem conhecimentos que podem ser melhorados, favorecendo a divulgação da Educação Ambiental e assim, construir uma consciência de pertencimento ao meio ambiente, como um todo. Neste cenário, a transversalidade consegue abrir espaço para incluir saberes extraescolares, muito importantes, pois são construídos na realidade dos alunos e devem ser abordados e ressignificados, levando em consideração, os pressupostos envolvidos, tais como a consideração de realidades diferentes, que os alunos trazem consigo, a compreensão e a possibilidade da existência concomitante de fenômenos contrastantes, dentre outros. Por isso, a Educação Ambiental deve ser trabalhada numa perspectiva flexível, pois não é possível trabalhá-la de forma transversal, num ponto de vista disciplinar rígido.

Interdisciplinaridade da educação Ambiental

A interdisciplinaridade é compreendida pela constituição de informações e conhecimentos complexos. A sua finalidade é fazer com que o conhecimento fragmentado das disciplinas seja superado, sem desvalorizar a importância de cada uma delas. A interdisciplinaridade não caminha sozinha. A coletividade deve ser orientada, de forma que se construa um programa de ensino e pesquisa comum que favoreça as áreas das Ciências da natureza, da vida e da sociedade. O aprendizado interdisciplinar não pode ser fechado no tempo, uma vez que deve sempre se abrir a novos temas para outras investigações. A interdisciplinaridade consiste ainda como a cooperação entre as diversas disciplinas, de maneira que cada uma contribua de forma interligada para a construção do conhecimento.

A Educação ambiental, diante disso, pode ser trabalhada, em todas as disciplinas, sem necessariamente, ser uma disciplina à parte, em que haverá a reciprocidade nas trocas, objetivando um enriquecimento mútuo, colaborando entre setores diversificados de uma mesma Ciência.

Onde entra a educação ambiental?

A Educação Ambiental não pode ser vista como um conhecimento único, embora necessite da percepção de saberes específicos. As questões ambientais podem ser abordadas em diversas vertentes, permeadas por saberes diversificados. Entre eles, saberes econômicos, sociais, culturais, políticos, ambientais e populares, caracterizando-se como complexa e por isso deve se expressar de maneira interdisciplinar em seu processo pedagógico, já que o meio ambiente é um todo bastante enigmático, com partes que se interligam e interagem em uma concepção sistêmica. No processo de ensino-aprendizagem, a transversalidade e a interdisciplinaridade precisam ser simultâneas, pois não há como separá-las, uma vez que a construção de uma prática interdisciplinar demanda ações fundamentalmente de permuta e encadeamentos mais intensas entre os mais variados conhecimentos. Faz-se necessário a cooperação entre todos os conhecimentos das disciplinas e transdisciplinas. E para que isso ocorra é fundamental que os professores trabalhem em conjunto, interagindo entre si, para que o ensino/aprendizagem aconteça de forma mais dinâmica para os discentes.

Atividades que podem ser desenvolvidas em Educação Ambiental

Uma das formas que a Educação Ambiental pode ser trabalhada é com atividades extracurriculares, envolvendo diversos temas relacionados ao meio ambiente. No ambiente acadêmico, muitas atividades podem ser desenvolvidas no ensino/aprendizagem da Educação Ambiental, como seminários interdisciplinares, debates, juris simulados, apresentações teatrais, palestras, visitas a locais em que se desenvolvem práticas sustentáveis, mutirões para limpeza de espaços públicos, para retirada de lixos e resíduos, trazendo com isso, o despertamento da consciência em relação ao problema da poluição, dentre muitas outras. As datas comemorativas também são excelentes para ampliar a conscientização ambiental e podem ser estudadas de forma criativa. A cada mês do ano, temos várias datas importantes, tais como: Dia do Combate da Poluição por Agrotóxicos, 11 de janeiro, Dia do Engenheiro Ambiental, 31 de janeiro, Dia do Agente de Defesa Ambiental, 06 de fevereiro, Dia Mundial da Água, 22 de março, Dia da Terra, 22 de abril, Dia Internacional da Biodiversidade, 22 de maio, Dia Mundial do Meio Ambiente, 05 de junho, Dia do Engenheiro Florestal, 12 de julho, Dia do Controle da Poluição Industrial, 14 de agosto, Dia da Árvore, 21 de setembro, Dia do Consumo Consciente, 15 de outubro, Dia Mundial sem Compras, 23 de novembro, Dia Internacional dos Povos Indígenas, 10 de dezembro, entre outras. Todas as datas comemorativas podem ser trabalhadas de forma interdisciplinar e transdisciplinar.

Considerações finais

A Educação ambiental tanto pode ser oferecida como componente curricular como ser trabalhada de forma interdisciplinar e transdisciplinar. A interdisciplinaridade requer colaboração e participação ativa, além de diálogo entre todos os envolvidos no ambiente escolar, não só entre as disciplinas, envolvendo ações coordenadas.  Essas ações são imprescindíveis na Educação ambiental, tendo em vista que a mesma não é parte de uma área específica, ainda que apresente especificidade nos conceitos, o que leva a sua compreensão, como uma disciplina integrada e integradora.

Diante do exposto, percebe-se que o estudo da Educação Ambiental é uma opção possível para mudanças de comportamentos, possibilitando ao discente, compreender a realidade na qual está inserido, motivando a consciência ambiental e a se tornarem cidadãos comprometidos em construir um mundo mais justo em que é possível vivenciar a solidariedade, a ética e a sustentabilidade ambiental.

Assim sendo, é de grande importância que as instituições de ensino, quer sejam de ensino fundamental, médio ou superior, incluam nos seus programas curriculares, temas associados à Educação Ambiental, possibilitando um espaço para que se trabalhe de forma interdisciplinar e multidisciplinar, tendo como finalidade o debate crítico para a busca de possíveis soluções para os problemas ambientais. Com isso, haverá um crescente interesse por parte dos alunos, para uma melhor interpretação e reconhecimento dos conteúdos estudados, melhorando o processo de ensino-aprendizagem, em que todos saem ganhando e o ambiente agradece.

Referências bibliográficas

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