24/01/2018

Ecologia

Silmara Helena dos Anjos

                                                        

 

Ecologia

 

 

 

 

 

 

SUMÁRIO

 

INTRODUÇÃO.............................................. 01

 

PARTE I .......................................................03.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................... 11

CAPÍTULO 1................................................. 04

Objetivo

Problematização

 

CAPÍTULO 2................................................. 25

A ecologia como ética pratica

Gestão e educação ambiental

Mística que parte da ética

Ecologia como ciência e paradigma

Abordagem

BIBLIOGRAFIA............................................  .

Autor Rger Dajoz

Obra Ecologia Geral

Conclusão............................................................ 38

 

Resumo........................................................ 02

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Instituto Astronômico e Geográfico. Anuário

Astronômico. São Paulo, 1988.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Resumo

Teorias sobre a natureza e teorias sobre a sociedade possuem uma história de interconexões. Uma concepção da natureza pode ser compreendida como uma projeção, no cosmos, da percepção humana a respeito de si mesma e da sociedade. Contrariamente, as teorias a cerca da natureza têm sido interpretadas historicamente como incluindo implicações sobre a maneira pela qual os indivíduos ou grupos sociais se comportam ou teriam obrigação de se comportar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 Como o próprio título sugere, este trabalho trata de Educação, que é o ato de envolver, fazer parte, pertencer...

             À educação cabe a tarefa de desenvolver nos indivíduos o sentimento de pertencimento. Segundo MORIN (2000), educar para a identidade terrena é um dos sete saberes fundamentais de toda educação do futuro. É necessário aprendermos a ser terrenos, a estar no planeta e a nos comunicarmos com ele de forma dialógica.                Precisamos, como afirma GADOTTI (2000) de uma “ecopedagogia” ou de uma “pedagogia da Terra”: participamos de uma comunidade comum de destino e a consciência planetária pode nos alertar

e/ou sensibilizar sobre a tarefa de instituirmos relações harmoniosas e sustentáveis com a Terra-Pátria”.

             Sem uma educação sustentável, “a Terra continuará apenas sendo considerado como espaço de nosso sustento e de domínio técnico-tecnológico, objeto de nossas pesquisas, ensaios e, algumas vezes, de nossa contemplação. Mas não será o espaço de vida, o espaço de aconchego, de cuidado”.

              Promover a Educação Ambiental (EA), no contexto do processo pedagógico, tem sido objetivo de pesquisadores e educadores, preocupados em traçar uma perspectiva sustentável para as futuras gerações e o futuro do planeta, como um todo.

             Nestes últimos 50 anos, tivemos alguns encontros com a Terra e deles saímos quase sempre maravilhados. Do célebre enunciado de Yuri Gagárin, “A terra é azul”, passando pelas inúmeras vezes em que recebemos imagens vindas do espaço a Terra, nossa Gaia (LOVELOCK, 1991) foi afetivizada, tornou-se não apenas bela,  sedutora como também familiar.

             O cinema científico assim como mídias especiais tais como National Geographic, Discovery Chanel, revistas científicas e profusões de imagens veiculadas por toda parte trouxeram esta nova visibilidade para nossas referências geográficas e afetivas. Haverá a possibilidade de vivenciar uma experiência fascinante na tela do seu computador: verá uma imagem da Terra, instantânea, ao vivo, com seus continentes e oceanos.

             Dependendo da hora, verá terras e águas ensolaradas, nuvens, escuridão e luzes dos grandes aglomerados urbanos. nesse momento você será ao mesmo tempo observador e observado. Autor e personagem, criador e criatura. De fato, atingimos uma tecnologia sofisticadíssima!

 

OBJETIVOS

 

            O tema sobre meio ambiente, obrigatório na discussão dos destinos do planeta, é desses que todos os dias estão nas páginas dos jornais e na voz dos noticiários de rádio e tevê. Acompanhá-lo, saber de seu alcance e implicações, acrescentar argumentos na medida da importância a que faz jus, é dever de todas as pessoas conscientes da sociedade em que vivem.

             Devemos conceber a questão ambiental de um ponto de vista amplo, não meramente como uma questão ecológica, integrando, dessa forma, suas “diversas dimensões: econômica, social, política e ecológica“ Tratar de EA é, ao mesmo tempo, como já frisamos, tratar de Educação. Assim, aqueles que planejam e ditam os rumos do processo educativo ambiental, não expõem apenas idéias, mas uma ideologia.

             A pesquisa que originou esse trabalho deu-se através de consulta bibliográfica dos documentos dos encontros internacionais e nacionais e de textos de pesquisadores voltados à causa ecológica. A EA, nos dias atuais, implica um processo de reflexão e tomada de consciência dos “processos sócio-ambientais emergentes que mobilizam a participação cidadã na tomada de decisões, junto com a transformação dos métodos de investigação e formação, a partir de uma visão holística”

            Além da percepção de professores, em relação à educação ambiental, a pesquisa de ecologia, na forma de um questionário, também aplicado aos estudantes, pretende servir como contribuição para a humanização de um ensino que, cada vez mais, possa ir ao encontro dos anseios mais íntimos do auto-conhecimento.

            Procuramos primeiro nos relacionar bem uns com os

outros, mas mesmo para chegarmos a isso ainda existe uma etapa anterior que é, segundo BOTTINI (2007) “a de cada um se relacionar bem consigo mesmo: um mergulho nas subjetividades de cada um, nas micro-políticas dos desejos, para desvendarmos os profundos e reais motivos de nossas mazelas.”

            Sustentamos, assim, uma hipótese de que os estudantes dos terceiros anos do ensino médio receberam, ao longo de sua carreira de estudantes, uma idéia de meio ambiente muito vinculada aos aspectos físicos, naturais, que explora as investigações sobre os efeitos destrutivos do cloroflúorcarbono no ozônio estratosférico, mas pouco se ocupa das relações humanas e das realidades íntimas do indivíduo. A dimensão ambiental está associada a todas as dimensões humanas.

            Assim, nas palavras de SACHS (1999) “os conceitos estão entrelaçados, interligados, articulados, permitindo possíveis trânsitos de múltiplos saberes, sem se reduzir a nenhum”. Pela sua multidimensão, a EA trás um enfoque interdisciplinar para sua abordagem. Pretendemos compreender os sentidos e significados que vêm sendo atribuídos à educação ambiental, que acontece em “n” espaços/tempos da escola, das mídias e de outros contextos vividos.

            A arte do magistério é bastante complexa. “Além de abraçar uma profissão, no momento, socialmente pouco prestigiada. os incômodos do apenas relativo sucesso no ato de ensinar ademais de quase sempre lhe ser “ imputada a culpa pelos fracassos de seus alunos, o professor vive situações profissionais extremamente ambíguas” Porém, o professor apoiando-se na sua experiência profissional, assume sua prática.

            Entretanto, de um lado, não está sempre plenamente satisfeito com o que faz e com os resultados que alcança. Por outro lado, os que ensinaram lhe, cada qual ao seu modo, manifestaram as suas próprias certezas e convicções. O professor percebe que nem sempre as certezas dos outros são adequadas aos seus alunos e à escola na qual trabalha. Há um fosso a transpor e quase nunca lhe ensinaram como transpor. “A dicotomia vivida permanentemente pelo professor no magistério”, no dizer de  é a “vivência entre um ideário que não obrigatoriamente é seu ( mas que assim o internalizou) e sua prática cotidiana”. Para o caso da EA a situação é mais complicada devido à diversidade de ações e práticas possíveis, eis que sua temática é nitidamente multidisciplinar e envolve diferentes áreas do conhecimento, tais como Agronomia, Arquitetura e Urbanismo, Ciências Sociais, Comunicação, Engenharia, História, Geografia, Saúde Pública, Geologia, Física, Química, Biologia, entre outras.

            Posto isto, um único professor responsável pela disciplina Educação Ambiental numa escola, encontraria muitas dificuldades. Que práticas podem e  devem ser realizadas nas escolas para promover a EA? Quem delas deve participar? O que deve ser feito para que essas práticas efetivamente promovam uma educação ambiental sem reducionismos?   “EA deve estar presente em todas as disciplinas”.

            Enfim, esta abordagem tem o propósito de provocar reflexões sobre atitudes ecológicas (crenças, valores), que constituem os elementos para pensar a formação ecológica dos sujeitos no mundo (público-alvo: professores e alunos).

 

 

 

PROBLEMATIZAÇÃO

 

              A palavra ecologia foi criada em 1866 pelo biólogo alemão Ernst Haeckel (1834-1919), com a publicação do seu livro Morfologia geral dos organismos como um capítulo da sua biologia, para designar o estudo das relações existentes entre todos os seres vivos e não-vivos entre si e com seu meio ambiente. Qual é a conceituação de ecologia e quais são os enfoques dados à questão ambiental pelos estudantes dos terceiros anos do ensino médio?

              Partimos da idéia de que esses estudantes ocupam o topo da educação formal brasileira, e de que investigando os seus pontos de vista sobre a relação  homem-natureza podemos obter um quadro bastante representativo do papel da educação, principalmente escolar,        na preparação do indivíduo para o convívio sócio-ambiental.

             Somos colocados diante dos avanços da Ciência e da Tecnologia, mas “cegos” das conseqüências de suas aplicações. Problemas sociais são cotidianamente apresentados à população sem, contudo, que a grande maioria tenha consciência real da amplitude e de seu grau de envolvimento.

              Independentemente do ponto de vista que se observa é inegável que a questão ambiental expõe pontos cruciais sobre o nosso futuro ou, mais precisamente, sobre o tipo de futuro que podemos almejar. Exposta de forma consciente ou não, as pessoas talvez não possuam o esclarecimento necessário sobre o meio ambiente para alcançar “ uma melhor compreensão dos fatos que a capacitem a desempenhar ações transformadoras adequadas e de alcance efetivo.             portanto, sequer é capaz de levantar os principais agentes poluidores e suas formas de atuação.

              Como a temática ambiental pode – e deve ser avaliada pelos seus múltiplos aspectos (científico, social, econômico, político), procuram levantar pontos para sua análise, buscando aspectos teóricos de questões significativas acerca do desenvolvimento histórico da EA, discutindo sua institucionalização no Brasil, bem como suas possibilidades e contradições.

             Ainda que outras abordagens sejam possíveis, a análise das referências bibliográficas nos chama a atenção para algumas (das muitas) reuniões internacionais que contribuíram de forma significativa na delimitação do campo da EA.

             Nesses encontros técnicos foram apresentados inúmeros tópicos importantes para a definição do campo da EA, tanto em termos mundiais, como, para o Brasil.

              A evolução do conceito de Educação Ambiental, desde o seu aparecimento em 1965, na Royal Society of London, quando foi associado à preservação dos sistemas vivos, continuou na década de 70, quando a União Internacional de Conservação da Natureza (UICN) associou o mesmo à conservação da biodiversidade. Um processo de reconhecimento de valores e elucidação de conceitos que levam a desenvolver as habilidades e as atitudes necessárias para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios físicos.  “A EA também envolve a prática para as tomadas de decisões e para as autoformulações de comportamentos sobre os temas relacionados com a qualidade do meio ambiente”.

              No fórum das Organizações Não Governamentais        (ONGs) realizado paralelamente à Conferência Rio 92(a qual produziu a Agenda 21), referendando e ampliando o conceito anterior, o Tratado de Educação Ambiental Para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, ”reconhece o papel central da educação na formação de valores e na ação social e para criar sociedades sustentáveis e eqüitativas ( socialmente ) justas ecologicamente equilibradas“, e considera a EA “um processo de aprendizagem permanente baseado no respeito a todas as formas de vida, o que requer responsabilidade individual e coletiva em níveis local, nacional e planetário”.

            Como se vê aqui já se constata uma profunda transformação de uma “visão extremamente naturalista e antropocêntrica (animais e plantas servem para...), confundindo natureza e meio ambiente (que é uma representação social), para uma conceituação que envolve outras dimensões, além da ecológica: afetiva, social, histórica, cultural, política, ética e estética.

            A própria Constituição de 1988 e a Lei da Educação Ambiental (Lei 9795 de 27/04/99) incorporam esta evolução conceitual,” Entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.

 

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

 

            Desde a Revolução Neolítica, com o desenvolvimento da agricultura, a humanidade esteve associada à Natureza. O homem avançou rapidamente rumo ao desenvolvimento tecnológico e ao controle da natureza. Hoje, o ser humano está perplexo por chegar aonde chegou.

           Uma observação, ainda que breve, do processo de evolução humana permite evidenciar que o projeto civilizatório inicial foi sendo gradativamente alterado, tendo em vista novas necessidades, novos desejos. Conforme aumentava a capacidade humana de interferir na natureza, de transformá-la em fonte de recursos para satisfação específica, alterava-se a noção mais elementar de espaço comum a uma diversidade de seres ( inclusive humanos). Os reflexos ambientais provenientes da nossa forma de apropriação da natureza talvez sejam o grande freio natural que vai estabelecer limite às ações humanas.

          A grande questão que se coloca hoje é: será possível a sustentação dessa sociedade por muito tempo? O que se discute, então, é que o maior instrumento para alcançar o desenvolvimento sustentável é o consumo sustentável [tese de técnicos do Programa das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente. Fato de que: “a ciência

enquanto empreendimento humano nunca serviu apenas para gerar riquezas e bem-estar para o homem”.

         De certa forma, o desenvolvimento da ciência não só permitiu a solução de problemas como determinou uma profunda modificação na forma de se ‘ver’-e alterar a Natureza. É justamente nesse ponto que começam a surgir áreas de conflito na relação estabelecida entre o homem e o meio ambiente, especialmente quando se discute o uso do espaço e dos recursos naturais. Portanto: ”quando se trata de discutir a questão ambiental, nem sempre se explicita o peso que realmente têm as relações de mercado, de grupos de interesse, na determinação das condições do meio ambiente, o que dá margem a interpretação dos principais danos ambientais, como fruto de uma maldade intrínseca ao ser humano”.

         A ecologia está organizada através de um corpo teórico que considera o homem como elemento constitutivo de um dos muitos ecossistemas que deve ser mantido em equilíbrio, enquanto ambientalismo/ecologismo denota a doutrina ou a participação política cujos discursos teóricos e ações práticas têm o objetivo de aproximar homem e ambiente natural corrigindo possíveis falhas.

Traçando uma linha cronológica da evolução histórica da Ecologia enquanto ciência, notamos que, desde os tempos mais remotos na antiga Grécia, os trabalhos de inúmeros filósofos continham referências a temas ecológicos. Hipócrates (460-377a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.), dentre outros, desenvolveram idéias e descreveram princípios ecológicos, muito embora os gregos não possuíssem uma palavra específica para ecologia.

         Os antigos gregos, dentre eles Teofrasto (372-288 a.C.), Caius Plinius Secundus, mais conhecido como Plínio, o Velho (23-79 d.C.) e Hipócrates, já demonstravam em seus estudos preocupação com aspectos “ecológicos” da Natureza. À parte a importância de Aristóteles para a ciência ocidental, suas ricas observações apontavam um trabalho de tão alta qualidade, que acabaram por torná-lo precursor ou “visionário” da área em questão.

         Séculos mais tarde, diferentes cientistas do Renascimento realizaram diversos e interessantes trabalhos no campo da Ecologia, mesmo que nunca tenham se preocupado em referir-se a essa palavra como definição ao seu campo de estudo.

         As idéias “ecológicas” dos cientistas da Idade Moderna (séculos XVIII e XIX ) mostravam-se contaminadas por uma noção aristotélica finalista e divina, que não permitia questionar as relações entre os seres vivos.

         Dessa forma, somos levados a acreditar que consagrados cientistas como Carl Von Linneu (1707-1875), Charles Lyell (1797-1875), Charles Darwin (1809-1882) e mesmo Ernst Haeckel (1834-1919)-considerado pai da Ecologia-, apesar de terem contribuído de forma significativa na fundamentação de campos teóricos específicos relacionados à Ecologia, foram de pouca significância na organização dessa como ciência.

         Para Lineu, os princípios reguladores dos ecossistemas estavam fundamentados em uma finalidade e um equilíbrio providenciais. Conforme ACOT (1990), referindo-se a Lineu, “ tudo o que cai sob nossos sentidos, tudo o que se apresenta ao nosso espírito e que merece ser observado, por sua disposição, concorre para manifestar a glória de Deus, isto é, para produzir o fim que Deus quis como finalidade última de todas as suas obras”. Somente com Alexander von Humboldt(1769-1859 e suas pesquisas de análises relacionais entre vegetações e climas, surge a oportunidade que permite resgatar “ a tradição lineana do pensamento dos equilíbrios naturais, propõem o conceito de comunidade biológica, serve de marco, a partir do qual fica implícito que qualquer estudo biogeográfico e descritivo deve conceber as plantas e animais em seu conjunto, nas comunidades naturais.

         Para DAJOZ (1983), Ecologia é a “ciência que estuda as condições de existência dos seres vivos e as interações, de qualquer natureza, existentes entre esses seres vivos e o seu meio”. Descrição tão ampla pode parecer incoerente para um campo cuja origem dos estudos foi basicamente fundamentada na Geografia e na Biologia. Entretanto, é importante ressaltar que os ecólogos atuais utilizam conceitos, métodos e resultados de diferentes campos da ciência, tais como a matemática, a física e a química, na tentativa de desenvolver uma visão geral dos processos que integram os mais diferentes organismos em seu contexto ambiental.

          Assim, a Ecologia como ciência considera os organismos em meios repletos de inúmeras variáveis, o que a torna uma área complexa de estudo. No que concerne à integração da Ecologia com outras áreas constata se o estreitamento de relações entre as ciências naturais e sociais, uma vez que os grandes problemas da humanidade são de natureza ecológica. As incursões e mesmo apropriações da Ecologia por outros campos estão diretamente relacionados ao fato de que o comportamento humano tem muito a ver com a estrutura e função dos ecossistemas.

          Os “serviços dos ecossistemas” são os benefícios que as pessoas recebem deles. Segundo o “Relatório do Grupo de Trabalho da Estrutura Conceitual da Avaliação Ecossistêmica do Milênio”, organizado por BOTTINI ( 2007), nestes serviços se incluem os serviços de abastecimento: alimento e água; os de regulação: secas, inundações, degradação do solo e enfermidades; serviços de apoio: formação do solo e os ciclos dos nutrientes; e serviços culturais, como os recreativos, espirituais, religiosos, e outros benefícios intangíveis (estéticos, educacionais, herança cultural, sensação de fazer parte de um lugar, inspiradores). Isto tudo tem a ver com o bem-estar humano, que é afetado não só pela diferença entre oferta e demanda dos serviços dos ecossistemas, mas também pela maior vulnerabilidade dos indivíduos, das comunidades e das nações.

          Conforme já nos referimos, as interferências humanas nos ecossistemas naturais podem ser percebidas desde o século XVIII; contudo, a escala e a intensidade dos impactos se fazem sentir mais nitidamente no meio ou

ambiente, como elementos diferenciais da atividade produtiva, a partir do século XX. De forma gradativa, os avanços científicos começaram a ser aplicados para incrementar o bem-estar e conforto das pessoas; essa progressão, contudo, gerou uma falsa idéia de inesgotabilidade dos recursos naturais.

          Como, ao longo do tempo, a interferência humana na Natureza se torna cada vez maior, as populações humanas não demoraram a perceber uma “resposta” do meio ambiente. Assim, a relação homem-natureza abre espaço para o intercruzamento com as disciplinas humanas e para as discussões sobre os prejuízos provocados ao meio ambiente.

           Diante da possibilidade de intercruzamento da ecologia com outros campos do conhecimento, fica evidente que o estudo e a análise da temática ambiental devem implicar na politização das questões incorporadas a partir dos conceitos e representações da ecologia” . De certa forma, é a constatação dos defeitos do projeto civilizatório que transformará a matéria ( ecologia )em movimento ( ecologismo).

            Foi no século XX, com a chamada Indústria Cultural, que pudemos compreender mais amplamente as conseqüências de um comportamento essencialmente consumista:  com a globalização de um modelo de sociedade cada vez mais hegemônico, marcado pela economia de mercado, pela planetarização da cultura capitalista e pelo consumo de bens e valores sob a forma de mercadorias, a relação do homem com o meio ambiente se constitui em questão crucial para a consolidação ou crise desse processo de hegemonia do capitalismo .

           Assim, nos encontramos diante de uma situação que, se por um sentido, ampliou a capacidade de criação e uso de novas tecnologias, aumentando a produção de alimentos e elevando os níveis de conforto e bem-estar, por outro, é fato que aumentou também o nível de pobreza, uma vez que a distribuição dos benefícios gerados não atinge a maioria das populações.

           E será que a busca incessante de ter mais, além das próprias necessidades, pode ser considerada como padrão para todos? O lucro e o desenvolvimento de mais mercadorias podem ser tomados como objetivos de toda a humanidade? Não necessitamos apenas da obtenção de coisas, mas, acima de tudo, precisamos de liberdade para fazer uso delas conforme nossos desejos e predileções. Concordamos com HEEMANN (1997) quando afirma que, com a questão ambiental estamos diante de ”questões de claro sentido ético, filosófico e principalmente político”.

          Que destino dar à Natureza, a nossa própria natureza de seres humanos? Qual é o sentido da vida? Quais os limites da relação da humanidade com o planeta? O que fazer com o nosso antropocentrismo quando olhamos o nosso planeta (com o ‘olho’ dos satélites) e vemos como ele é pequeno e quando entendemos que somos apenas uma dentre tantas espécies vivas de que nossas vidas dependem? Esperamos construir materiais didáticos que fortaleçam o enfrentamento do desafio ambiental a partir do mundo que aí está.

         A educação ambiental está conseguindo se estabelecer nas ONGs, nos órgãos do governo, nas universidades, e nas escolas, nos colégios estaduais, qual é a meta em relação à EA? A meta não deve ser o mero domínio da biologia ( ecologia ), mas estabelecer ligações entre a cabeça, a mão, o coração ( interdisciplinar ).

         Devemos mudar atitudes e posturas que temos em relação ao meio ambiente para que possamos viver de uma forma interdisciplinar, dando importância para o todo, e não somente para as partes. Segundo CAPRA (2002)” vivemos hoje uma crise complexa, multidimensional, cujas facetas afetam todos os aspectos de nossa vida, a qualidade do meio ambiente e das relações sociais, da economia, da tecnologia e política.

         “É uma crise de dimensões intelectuais, morais e espirituais”.

          Tudo isso implica uma construção de uma percepção de mundo, de novos valores, atitudes, estilos de vida, novas formas de organização social e de relação com a natureza, uma nova consciência, podemos partir do princípio do cuidado, proferido por Leonardo Boff que diz: “Esse sentimento do cuidado é que deve permear os espaços sociais, escolares ou não. Cuidar implica em respeitar, em observar, zelar, amar, que resulta em uma vida integrada com todos aqueles com os quais compartilhamos a vida”.

          Muitas vezes, sem nos darmos conta, agimos sem o cuidado, principalmente em espaços (salas de aula, por exemplo).Ou com objetos que são de uso comum( materiais como giz, uso da água, copinhos de plástico...) de forma que somente cuidamos bem daquilo que consideramos de nossa propriedade.

          O princípio do cuidado é o do cuidado incondicional, é o do

cuidado da vida em seu amplo contexto.

          As ações que ocorrem no âmbito pessoal influenciam no âmbito social, por isso é que as ações individuais são tão importantes. Que possamos resgatar e buscar bons relacionamentos, resgatar a esperança de dias melhores, para todos. Que possamos aceitar opiniões e idéias diferentes das nossas. Que possamos compreender o livre arbítrio de cada um.

 

           A Educação Ambiental, segundo a lei nº9795, de 27 de abril de 1999, é um componente essencial e permanente da educação brasileira, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo formal e não-formal.

           Por seu caráter humanista, holístico, interdisciplinar e participativo a EA pode contribuir muito para renovar o processo educativo, trazendo a permanente avaliação crítica, a adequação dos conteúdos à realidade local e o envolvimento dos educando em ações concretas de transformação desta realidade.

           Para realmente abordar estes princípios e atingir seus objetivos a EA precisa de uma ampla gama de métodos e do preparo dos educadores neste sentido.

           Para auxiliar neste processo, algumas atividades devem ser ofertadas nas escolas, como por exemplo: a) seminários sobre temas específicos; b) oficinas de EA; c) curso de EA.

           O Curso, com carga horária que pode variar, dependendo da

disponibilidade do grupo de professores, priorizaria em seu conteúdo os

seguintes aspectos:

         - Princípios e pensamentos norteadores da EA.

         -Ecologia pessoal [interior]: reflexão e vivência da relação de cada

indivíduo consigo mesmo, enfocando os processos individuais de autoconhecimento e de transformação, a auto-estima, a autoconfiança e a expressão dos potenciais individuais e coletivos. Técnicas para abordar estes aspectos, inserindo-os na educação educativa.

        -Ecologia social: técnicas de facilitação das relações humanas, como a resolução de conflitos, as brincadeiras colaborativas, o desempenho de metas coletivas, os jogos cooperativos.

       -Metodologias em EA: visualização, vivência e reflexão de metodologias desenvolvidas em diferentes atuações de EA.

       -Ecosustentabilidade e ação educativa ambiental: forma de ação coletiva concreta de redução do impacto humano ao ambiente, através do aprendizado com a própria natureza. Metodologias para o envolvimento da comunidade escolar em um processo de transformação ecosustentável da escola, através da visualização, análise ambiental, planejamento e execuções coletivos de ações locais, incluindo o pátio escolar para o ensino-aprendizagem de conteúdos curriculares, de forma a contemplar os aspectos ambientais e ético como temas transversais.

      -Parâmetros curriculares e a EA: levantamento de idéias para a abordagem dos aspectos ambientais e éticos nos conteúdos curriculares das diferentes áreas temáticas, envolvendo questões da realidade local e utilizando diferentes métodos, de forma a favorecer a participação, a criatividade e a união entre teoria e a prática.

        No tocante ao trabalho do professor junto aos seus alunos, em sala de aula, principalmente ao nível de ensino médio, como grande parte dos livros didáticos não é a melhor fonte de informações sobre questões relacionadas ao meio ambiente (ecologia), o uso de revistas como material didático alternativo para a Educação ambiental cumpre bem esse papel... KRASILCHIK (1987) também enfatiza que os livros didáticos servem mais aos interesses comerciais do que aos objetivos didático-pedagógicos e que estes são ”veículos explícitos ou implícitos de ideologias incoerentes com as propostas de mudanças”.

        Não são poucos os docentes do ensino fundamental e médio que

anseiam submeter aos seus educandos a experiência da pesquisa bibliográfica com o intuito de aprofundarem em temas relacionados ao meio ambiente e, assim, tomarem posse de informações que lhe permitam refletir. Porém, onde obter informações atualizadas sobre o tema proposto para poderem ensiná-lo?

        Onde encontrar informações atualizadas para avaliar os trabalhos dos alunos?

         Esse episódio tão comum nas nossas escolas, e que desmotiva muitos docentes a empregarem a pesquisa bibliográfica como prática pedagógica, comprova a necessidade de se localizar alternativas que tornem viável esse trabalho em sala de aula.

         Uma alternativa viável aos livros didáticos, como fonte de informações para pesquisa em EA, principalmente para os resíduos sólidos, mudanças climáticas.

 

Conclusão

          A ecologia como ética e prática
Basta abrir jornais e revistas, ouvir noticiários na rádio, ou percorrer os canais de TV em diversos programas, para se dar conta de que a questão ambiental está presente na mídia quase todos os dias.

        Ela aparece como constatação (“o meio ambiente está cada vez mais fragilizado, devido à ação humana”) e interpelação (“é necessário fazer algo para mudar esta situação”). Aqui reside o caráter ético da ética. Responsabiliza-se o ser humano pela crescente destruição das “comunidades de vida” ou ecossistemas e pede-se dele uma nova postura.
       Enquanto ética e prática, a ecologia constitui um amplo movimento, no qual fazem parte cidadãos comuns, ambientalistas, ONGs, grupos religiosos, pesquisadores e empreendedores. O que os reúne é o compromisso de fazer algo para o bem do planeta. O movimento ecológico não tem hierarquia nem mecanismo de controle ideológico.

        Organiza-se, sobretudo como rede em torno a causas comuns, de diferentes amplitudes. Desde a ação local para manter limpo um riacho em determinada cidade, até o protocolo intergovernamental de abrangência mundial, para reverter o aquecimento global. No Brasil, há na Internet muitas redes de informação e mobilização em torno da questão ecológica. Por exemplo, a rede brasileira de educação ambiental (REBEA), e a rede em torno das mudanças climáticas (PROCLIMA). Nelas se divulgam informações, opiniões, estudos. E se convoca à participação em eventos e ações conscientizadoras.
       O movimento ecológico emite um juízo de valor sobre a relação do ser humano com o meio ambiente. E o interpela, para que reverta os processos de destruição dos ecossistemas e assuma sua responsabilidade pelo presente e pelo futuro de nosso planeta. Tem, portanto, uma dupla vertente de valoração e de ação.
       Uma parte significativa do movimento ecológico desenvolve um olhar crítico sobre as estruturas sócio-político-econômicas que regem a economia de mercado, no mundo globalizado. O atual modelo civilizatório exige cada vez mais energia, explora irresponsavelmente recursos finitos e desestrutura os ecossistemas. Está intimamente conectado com o capitalismo internacional. O mesmo sistema que concentra riqueza exclui nações e povos, também explora e destrói o meio ambiente.

       Somente uma mudança radical, fora da economia de mercado, tornaria o nosso planeta viável no presente e no   futuro.               

       O próprio conceito de desenvolvimento precisa ser revisto.
Outras correntes defendem a bandeira do desenvolvimento sustentável, dentro do capitalismo. Trata-se de investir na ciência e na técnica, aperfeiçoar e corrigir os mecanismos de produção, consumo e descarte dos produtos, reduzir a poluição e aumentar a eco eficiência.

        Apelam para um crescente compromisso dos cidadãos e das empresas, no sentido de minimizar o impacto ambiental. Exigem crescentes avanços na legislação dos países, para coibir abusos e punir crimes ambientais.

        Postulam uma governança planetária, mediada por protocolos e convenções que estabeleçam metas e compromissos das nações com o planeta.
A ecologia recoloca a questão dos valores, do cuidado com a vida, de forma duradoura.

        O conceito de sustentabilidade ecológica foi introduzido na década de 80 por Lester Brown. Mais tarde, no Relatório Brundtland (1987) se fala em desenvolvimento sustentável, como satisfazer “as necessidades da atual geração, sem comprometer as das gerações futuras”. Assim, sustentabilidade é o somatório de processos que visam garantir a continuidade da qualidade da vida para as novas gerações de seres humanos, animais, plantas e microorganismos.
        O conceito de sustentabilidade sofreu uma evolução no correr dos últimos anos. Originalmente, no movimento ecológico, significava garantir a continuidade das “comunidades de vida” e o equilíbrio dos ecossistemas, no presente e no futuro.

        Tinha assim uma conotação exclusivamente ambiental. Mas o termo foi apropriado pelos gestores de empresas do mercado global, passando a significar a viabilidade e a continuidade de um negócio ou empreendimento. Também os líderes governamentais passaram a usar este termo, para sinalizar se determinadas políticas tinham perspectiva de continuidade em longo prazo.

         O Fórum Social Mundial levantou a bandeira da “insustentabilidade” do atual mercado global, especialmente em termos sociais. E propugnou um “novo mundo possível e necessário”, com formas diversas de produção, consumo e inclusão. Deste “conflito de interpretações” nasce o termo atual, que inclui a simultaneidade de aspectos   ambientais, econômicos e sociais.
 

 


Gestão e educação ambientais


        A ecologia não é uma ética abstrata, restrita a conselhos generalizados. Ao contrário, ela se traduz em dois grandes instrumentais práticos: a educação ambiental e a gestão ambiental. A primeira significa a somatória de processos que visam criar uma nova mentalidade e posturas correspondentes, na relação do ser humano com o nosso planeta, enquanto a “casa comum”. Sua abrangência é vasta, pois visa a reeducação da humanidade, em termos de percepção do mundo e dos valores que a orientam.

        A educação ambiental não veicula somente informações sobre o meio ambiente, mas também apura a sensibilidade, faz refletir sobre o sentido da atuação humana no ecossistema, e suscita ações individuais e coletivas, conferindo poder à comunidade local como protagonista de mudança.
        Em vários cantos do mundo, a Educação Ambiental se desenvolveu, na sociedade civil e com estímulo do poder público. Na esfera da sociedade civil brasileira, criam-se ONGs e associações que promovem a consciência ecológica e o compromisso com a sustentabilidade junto às comunidades locais. Vários movimentos sociais incorporam a questão ambiental nas suas lutas. A Campanha da Fraternidade sobre a Água suscita uma série de iniciativas locais de natureza permanente. Escolas introduzem a Educação Ambiental como tema transversal.

        Empresas patrocinaram iniciativas de educação ambiental. Em âmbito governamental elabora-se a Política Nacional de Educação Ambiental, cujo marco é a lei 9.795/99. O Ministério do Meio Ambiente publica o ProNEA (Programa Nacional de Educação Ambiental), voltado à sociedade, enquanto o Ministério da Educação elabora os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) da Educação Ambiental, destinados às escolas.

        Prefeituras e governos estaduais empreenderam iniciativas e criaram equipes de trabalho de Educação Ambiental. Atuando com diferentes públicos e interlocutores, a educação ambiental visa formar consciência planetária e preparar cidadãos para uma nova percepção do mundo.
       A gestão ambiental compreende processos comunitários e institucionais para viabilizar a sustentabilidade. Envolvem vários atores sociais, como grupos religiosos e sociais, consumidores, educadores, comunicadores e o poder público. De forma visível, a gestão ambiental tem sido aplicada de forma crescente nas empresas, em resposta à crescente sensibilidade da população para a questão ecológica e às exigências da legislação ambiental. 

      Adotam-se mecanismos para uso racional de água e energia, reduzem-se a quantidade de resíduos e de sua toxidade, racionaliza-se o processo de produção. Cria-se o mote da “produção mais limpa” (P+L). Desenvolvem-se modelos e ferramentas, e sistemas de gestão ambiental (SGA). Consolida-se o processo de certificação ambiental com a norma ISO 14001, de 1996 e 2004.
     A educação ambiental e a gestão ambiental fazem a ecologia penetrar no tecido social, nas mentes das pessoas, nas comunidades locais, e nas práticas de produção e consumo.

     Podem assumir perspectiva transformadora ou manter o sistema que destrói nosso planeta.

     Mística que parte da ética
há uma busca pelo transcendente no meio do movimento ecológico. Ao descobrir as belas conexões ocultas da teia da vida, as múltiplas relações de interdependência entre os seres vivos e os abióticos, as pessoas se extasiam e percebem que há uma dimensão de gratuidade, de mistério, que vai além do âmbito da ciência. Muitos se esforçam para encontrar um sentido integrador da existência pessoal, coletiva e cósmica. Adotam um estilo de vida mais saudável e responsável, em contraposição à lógica desumanizadora da sociedade de consumo.

       Alguns se servem de diferentes tradições religiosas, para fazer um processo de evolução espiritual, que inclui a integração das pulsões, o autoconhecimento, o equilíbrio energético e a prática da meditação.
      Pode-se dizer que há uma “mística ecológica difusa” neste ambiente. Trata-se de uma perspectiva espiritual, sem vinculação à determinada religião. Tomam-se livremente elementos de tradições religiosas diversas, como as “religiões de raiz” ameríndias e as oriundas da África, o hinduísmo e o budismo, o esoterismo moderno, e até mesmo o cristianismo. Tende-se a um Deus impessoal, pura energia que circula no cosmos (imanente). 

A ecologia como ciência e paradigma


      Enquanto ciência, a ecologia nasceu da biologia. Inicialmente, era compreendida como o estudo dos seres vivos em relação com o seu habitat. Daí evoluiu para a ciência que estuda as condições de existência dos seres vivos e todas as interações possíveis entre estes e o seu meio. Literalmente, ecologia quer dizer o estudo ou discurso racional (logos) sobre a casa-Terra (oikos). Segundo F. Capra, a ecologia é o estudo de como a Casa Terra funciona, ou seja, as relações que interligam todos os moradores da nossa Casa comum. Constituem esta casa os seres abióticos e bióticos. Os primeiros, embora literalmente signifiquem “sem vida”, são fundamentais para os ciclos de matéria e energia no planeta: o solo, a água, o ar e a energia do sol.

      Os seres bióticos, por sua vez, compreendem os microorganismos (como bactérias, fungos e algas), as plantas e os animais. E entre os animais, estamos nós, os seres humanos.
Cada ciência tem objeto específico, perspectiva, epistemologia, método, jogo lingüístico próprio e comunidade validante.

      O objeto da ecologia são os ecossistemas: resultado das interações entre o conjunto de seres abióticos e os seres vivos em determinado contexto geográfico. Ecossistemas são redes de relações, das quais faz parte a ocupação humana.
     A ecologia não é “um saber sobre a natureza”, e sim a ciência sobre a relação entre todos os seres, que torna possível a continuidade da vida no nosso planeta. No atual contexto planetário, ela pesquisa como o ser humano, ao conviver em determinados biomas, altera os biomas e o ecossistema. E também a busca de reequilíbrio. Por isso, não é a ciência da preservação, mas da gestão racional e sustentável dos recursos naturais, compreendidos no quadro mais amplo das “comunidades de vida”.
    A mediação hermenêutica da ecologia se tornou tão importante quanto seu objeto de estudo. Já para Ernest Haeckel (1919), primeiro formulador do conceito, a originalidade da ecologia consiste em superar o estudo isolado dos seres bióticos e abióticos, ao perceber as relações entre eles. Daí nasce a compreensão de “ambiente”, que é muito mais do que fauna e flora.
    Ao dar o salto para um “saber de relações”, a ecologia postula uma mudança na forma de exercitar a ciência e na auto-compreensão do ser humano. L. Boff diz que a singularidade do saber ecológico consiste na transversalidade, isto é, “relacionar pelos lados (comunidade ecológica), para a frente (futuro), para trás (passado) e para dentro (complexidade) todas as experiências e todas as formas de compreensão como complementares e úteis no conhecimento do universo, na funcionalidade dentro dele e na solidariedade cósmica”.
   Leonardo Boff define paradigma como “uma maneira organizada, sistemática e corrente de nos relacionarmos com nós mesmos e com todo o resto à nossa volta. Trata-se de modelos e padrões de apreciação, de explicação e de ação sobre a realidade circundante”. H. Küng distingue a extensão e a profundidade dos paradigmas, enquanto modelos de compreensão, classificando-os em macro paradigmas, mesoparadigmas e micro paradigmas. 

   Ora, a ecologia se transformou em macro paradigma, porque está alterando a autocompreensão do ser humano, que foi gerada na modernidade.
   A aventura da modernidade caracteriza-se pelo antropocentrismo, pelo advento do sujeito autônomo (subjetividade) e pela universalização da ciência aplicada. Gesta-se uma visão linear e otimista da história, com a ilusão do “progresso infinito” e do “desenvolvimento ilimitado”.

   Os ecossistemas e suas comunidades de vida são reduzidos a “recursos naturais”. O mundo parece um reservatório infinito, do qual se pode retirar todo o necessário para produzir, vender e consumir. Ora, o paradigma ecológico questiona esta visão, por três vias.
   a) A ecologia corrige e aperfeiçoa o antropocentrismo. O ser humano está no centro, mas junto com os outros seres, em busca de comunhão. É filho (a) da Terra, a própria Terra em sua expressão de consciência, de liberdade e de amor. O destino do ser humano está associado ao destino do cosmos. Superando o antropocentrismo egóico da modernidade, afirma-se que há uma circularidade: o universo é direcionado para o humano como o humano é voltado para o universo donde proveio. Pertencem-se mutuamente.
   b) O paradigma ecológico revisa a subjetividade moderna, a partir das categorias “diversidade” e “interdependência”. Um dos princípios da ecoalfabetização, propugnado por F. Capra, é que a biodiversidade assegura a resiliência dos ecossistemas. Quanto mais espécies interagem, maior a resistência e a capacidade de reequilibrar-se. O mesmo vale para a convivência humana. Um ser humano sozinho, concebido de forma individualista, sem relação com os demais, centrado egoicamente em si mesmo, é extremamente frágil. A humanidade evolui e conquista equilíbrios mais complexos quando promove<

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×