Doses diárias de Newton
Por Washington Castilhos, do Rio de Janeiro
Jane Elizabeth Morrey-Jones, do Museu da Ciência de Londres, destaca a importância dos museus de ciência para mostrar ao público o quanto a física, a matemática e a biologia estão presentes no cotidiano de cada um.
Agência FAPESP " Criado em 1857 pela rainha Vitória e pelo príncipe Albert, a partir da Grande Exibição realizada no Hyde Park, o Museu de Ciência de Londres é referência internacional na divulgação científica.
A instituição britânica reúne um amplo acervo sobre história da ciência e inovações científicas. Há diversas galerias interativas com peças do tipo locomotivas e motos antigas, um modelo da Apollo 3, um casaco feito com lã da ovelha clonada Dolly, um modelo do DNA de Francis Crick e James Watson e até mesmo uma máquina de eutanásia.
"Nosso acervo é mais voltado para a inovação científica", ressaltou a bióloga Jane Elizabeth Morrey-Jones, uma das "explicadoras" do museu. Segundo ela, o termo mais certo seria "facilitadora", palavra um tanto difícil para ser pronunciada pelo público que lota a instituição todos os dias, em sua grande maioria crianças.
"Não damos respostas para nenhum fenômeno científico, e sim induzimos a criança a achar essa resposta", disse ela nesta terça-feira (25/9), durante o Seminário Ciência e Criança: a divulgação científica para o público infanto-juvenil, no Rio de Janeiro, realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz e pelo Museu da Vida da Fundação Oswaldo Cruz. O evento é uma das atividades preparatórias para a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que ocorrerá no país entre 1º e 7 de outubro.
Segundo a cientista, a função dos "explicadores" do Museu de Ciência londrino é "lançar luz sobre alguns mistérios da ciência", mostrando o quanto a física, a matemática e a biologia estão presentes no cotidiano das pessoas.
Eles explicam, por exemplo, o que são os soluços, o que os provoca e como pará-los. Mas também podem elucidar fenômenos mais complexos, como o que torna possível o vôo de uma nave à Lua - essa explicação é em geral dada por meio do uso de bolas de gás.
"Se uma criança enche uma bola de gás e depois a solta, ela verá que, embora o ar esteja saindo para baixo, a bola é empurrada para cima. Ou seja, ela estará vendo a Lei de Newton sendo aplicada", disse Jane à Agência FAPESP.
Formada em biologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Jane trabalha há quatro anos no museu inglês.
Agência FAPESP - Qual é o papel dos museus de ciência na divulgação científica e como isso é feito no Museu de Ciência de Londres?
Jane Elizabeth Morrey-Jones - A popularização da ciência é muito importante. Vemos no mundo inteiro a tendência de a criança não gostar de ciência e de ter dogmas como ver o cientista como aquele sujeito de jaleco branco. A associação de museu a algo velho, antiquado, também é muito comum. Por isso é difícil atrair o público. O Museu de Ciência de Londres tenta desconstruir essa imagem. A idéia é mostrar que a ciência está no cotidiano das pessoas. A Lei de Newton, por exemplo, está presente quando tiramos o pano da mesa. Podemos puxar esse pano sem mexer em todo o resto. Isso porque mexemos somente no pano e não tocamos nos copos. O foguete indo para o espaço é outro exemplo. Há uma força empurrando para baixo para que ele se desloque. Essa é a terceira lei de Newton, a mesma que é aplicada quando uma pessoa freia o carro.
Agência FAPESP - Um museu de ciência é um lugar para aprender?
Jane Elizabeth Morrey-Jones - Sim, as pessoas vêm para se divertir, mas acabam aprendendo. A diferença entre um museu e uma escola é que, no museu, não devemos dar a resposta, mas fazer com que a criança chegue à resposta. O importante é fazer com que ela faça associações com seu mundo cotidiano. Desse modo, ela verá que, até quando está preparando um bolo, ela desempenha o papel de um cientista, ao misturar determinados ingredientes e ver se aquela fórmula - a receita - funciona. Se não funcionou ela terá que colocar um pouco mais de um elemento ou um pouco menos de outro, seguindo o raciocínio de um cientista.
Museu de Ciência de Londres: http://www.sciencemuseum.org.uk
Crédito de imagem: Washington Castilhos
(Envolverde/Agência Fapesp)