Docência: Uma Área de Risco
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
Infelizmente à docência não é considerada uma área de insalubridade e/ou periculosidade, isso porque com algumas exceções os professores não ficam expostos a agentes nocivos à saúde ou a riscos de acidentes e danos físicos, como barulhos excessivos, poeira, calor, umidade, radiação, dentre outros, entretanto, a sua área de atuação tem seus perigos que levam inclusive ao adoecimento e algumas vezes ao óbito.
Tornou-se banalizado qualquer caso de violência com os docentes, ora causadas pelos alunos, ora pelos pais e ora, por todos estes e principalmente pelos que se calam diante de tanta violência.
Hodiernamente a violência contra os docentes têm sido cada vez mais comum e o simples ensinar que deveria ser algo libertador ao corpo discente e a plena realização ao docente por conseguir efetivar sua verdadeira função, ficou em um plano secundário, visto que o ensinar é algo irrelevante ao cotidiano, pois o método de progressão sucessiva fez com que os resultados externos quanto aos conteúdos ministrados caíssem exponencialmente, explicitando o pouco caso do nosso sistema.
A violência contra os professores nas instituições educacionais, principalmente as públicas (Municipais e Estaduais) não tem um perfil propriamente dita. Ela ocorre desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, e para complicar, quando acontece um corretivo, este é dado de forma branda, seja repreendendo verbalmente o discente, chamando os responsáveis para uma conversa e em alguns casos, suspensões que em nada implicará na mudança de atitude do agressor.
O fato é que basta pesquisarmos casos de violências com docentes que teremos vários casos explicitando o verdadeiro caos, como consta em um de meus livros intitulado Escola não é Depósito de Crianças: A importância da família na educação dos filhos, publicado pela WAK em 2012, ao qual é narrado a história de uma escola periférica que venceu o estigma de ser uma escola violenta.
Nessa escola ocorreu um caso gravíssimo em que uma mãe querendo que seu filho(a) estudasse lá, mesmo com a gestora explicando que não tinha mais vagas para aquele instituição e reforçando que a moradora também não fazia parte do zoneamento, no final do expediente, quando a gestora saiu da escola, a mãe da criança se sentiu no direito de agredi-la com puxões de cabelo com tanta intensidade que chegou a arrancar um pedaço do couro cabeludo.
Infelizmente nada aconteceu com a agressora, ficando apenas o trauma da gestora em se trabalhar em uma instituição educacional pública.
Recentemente no interior de São Paulo em uma escola pública uma professora de 49 anos foi brutalmente agredida por alunos do 3º do Ensino Médio, além das agressões verbais como “morta de fome”, “velha”, “burra”, um dos agressores colocou uma sacola na cabeça dela e simulou um ato sexual além de golpear sua cabeça por três vezes com um capacete, e isso aconteceu às 11h30 da manhã.
A parte mais revoltante é que aos agressores coube apenas dois dias de aulas remotas, uma mediação e um pedido de desculpa coberto pela hipocrisia, e à professora, todo o revés em sua saúde emocional e a sua dignidade como docente e o medo que lhe será eterno companheiro.
Na verdade, o que esperar de um sistema misógino que sente prazer e se acha no direito de maltratar uma mulher?
Como esperar uma Lei mais severa a quem comete este vil comportamento sendo que os próprios representantes da Lei fazem coisas iguais ou até mesmo piores em relação a mulher, como aconteceu com a Ministra Marina Silva no Senado Federal no dia 27 de maio do corrente ano.
Um lugar ao qual se deveria respirar a democracia, é nada mais nada menos que um lugar de opressão, de preconceito, de exclusão, de misoginia e de todas outras brutalidades vindas de pessoas que deveriam representar a vontade do povo e ser exemplo de civilidade e humanismo.
São essas pessoas asquerosas que nossos alunos imitam, porque a impunidade é a certeza de quem comete estas atrocidades e assim a educação vai se deteriorando e a escassez de profissionais vai aumentando exponencialmente, porque nossa integridade e dignidade nunca poderão ser negociados.
Que se faça leis mais severas, e que alunos como estes possam sentir o peso de suas ações, mesmo alegando serem menores de 18 anos, que a sociedade não permita que estes marginais fiquem impunes e que os verdadeiros responsáveis por estes alunos (pais) sejam também punidos pela falta de compromisso com a educação de seu filho, porque a verdadeira educação vem do berço e o comportamento desses alunos nada mais é do que um reflexo da má educação dada pelos pais, salvo raríssimas exceções.