05/11/2019

Do clima organizacional ao clima de escola

Jorge Barros

Pós-graduado e Mestre em Administração e Gestão Escolar, Doutor em Administração e Gestão Educativa e Escolar, Professor no 2.º Ciclo do Ensino Básico no Agrupamento de Escolas Dra. Laura Ayres (ESLA), Quarteira

 

Parece que o sentido originário do conceito de clima tem a ver com a forma como se comportam os fenómenos naturais, ou seja, a temperatura, o frio, o calor, a seca, a humidade e o tempo que faz. Contudo, progressivamente, o seu conceito estendeu-se, também, às relações humanas.

Neste sentido, fala-se de clima para se referir à forma como as pessoas se relacionam entre si, bem como as caraterísticas que possui um determinado ambiente social. Esta situação pode ser exemplificada quando, por vezes, se escuta a seguinte expressão: «notava-se um ambiente tenso na reunião». Deste modo, o conceito de clima relaciona-se com a designação atmosfera porque inclui a ideia de fator envolvente, de exterior, de condicionador de comportamentos e perceções dos sujeitos que desenvolvem a atividade no seu meio.

O termo é também empregue noutras expressões que pretendem designar outras realidades, tais como: clima comunicacional; clima psicológico; clima social; clima de trabalho; clima exterior; clima de aprendizagem; clima académico; entre muitos outros.

Quando falamos de clima, referimo-nos às condições que caraterizam uma situação ou a um determinado período de tempo. Neste sentido, o clima é algo que carateriza o ambiente, que está formado por componentes naturais e por componentes humanas e que marca e condiciona o contexto de vida e do trabalho. Desta forma, o conceito centra-se no sentido geográfico e ambiental e nas condições externas em que as coisas acontecem.

No entanto, quando nos referimos ao clima, sabemos que se trata de algo que não se pode ver nem tocar, mas que é facilmente percebido dentro da organização através do grau, mais ou menos positivo, da atitude de satisfação dos colaboradores que a integram.

A maioria das definições converge para a assunção de que o clima tem a ver com o que os atores organizacionais se apercebem e sentem nas organizações em que estão inseridos. Pode significar a perceção dos atributos organizacionais partilhada pelos seus membros ou também pode representar as perceções que o indivíduo tem da organização para a qual trabalha e a opinião que formou sobre ela em termos de autonomia, estrutura, recompensas, consideração, cordialidade, apoio e abertura, entre muitas outras.

O conceito de clima organizacional foi desenvolvido inicialmente na área das organizações do trabalho e, por volta dos anos 60 do século XX, passou a ser aplicado às escolas. Primeiramente, transferiu-se para as escolas uma série de testes e de instrumentos de medida do clima das organizações. Posteriormente, vários foram os estudos que se realizaram sobre o clima de escola. Assim, quando essa organização é uma escola ou um conjunto de escolas, como em Portugal se designa por agrupamento de escolas, então o clima refere-se a um conjunto de atitudes, crenças, valores e normas que caracterizam as perceções que os membros da comunidade educativa têm do sistema social da escola.

Na sequência do que vimos referindo, podemos mencionar que a noção de clima de escola foi desenvolvido a partir de estudos empíricos, designadamente, realizados no meio industrial e no meio militar em torno da temática do clima organizacional.

Quando se trata de uma escola, este clima é transposto para o ambiente interno que se regista entre os diferentes atores que a compõem ou nela se movimentam, assim como para o ambiente externo, dado que quando se fala de escola devemos ter presente que existem duas dimensões: o clima externo e o clima interno. O primeiro refere-se ao grau de satisfação dos alunos e dos pais e encarregados de educação em relação a diferentes aspetos formativos e estruturais da ação educativa da escola. Já o clima interno reporta-se ao grau de satisfação profissional e pessoal dos professores e educadores e do pessoal não docente. Ambas as dimensões do clima têm a mesma importância no contributo que dão para a melhoria da qualidade educativa global da escola.

É preciso ainda ter presente que as relações humanas que se estabelecem no seio da organização escolar, de forma mais estreita e intensa, entre o pessoal docente, não docente e discente e, de âmbito mais esporádico, com outros interlocutores, como sejam a associação de pais, stakeholders ou outras organizações externas à escola, ajudam à construção do clima escolar, ou melhor, de diversos climas dentro do clima de escola, nomeadamente, o clima da sala de aula, o clima da sala de professores, o clima do gabinete do Diretor, o clima da biblioteca, o clima da cantina, o clima da reprografia, o clima do bar/bufete, entre outros. Dito de outra forma, o clima pode referir-se ao ambiente dentro de qualquer órgão da escola como, por exemplo, dos Departamentos Curriculares, da sala de professores, da secretaria, da cantina, da papelaria, da reprografia, da biblioteca, da sala de convívio, do pavilhão desportivo, do órgão de gestão e da própria sala de aula, assim como fora da escola, como já explicámos.

O clima pode não ser tocado ou visualizado, mas pode ser percebido psicologicamente. Contudo, ele é percebido de diferentes maneiras pelos diversos atores educativos. Algumas pessoas são mais sensíveis do que outras quanto à perceção do clima da organização escola. Na verdade, por vezes, o que pode parecer uma caraterística positiva para uma determinada pessoa, para outra pode ser percebida negativamente. Portanto, a perceção do clima é muito subjetiva.

O clima da escola influencia a motivação dos atores que se movimentam dentro desta organização. Influencia, igualmente, o desempenho humano e a satisfação no trabalho destas pessoas. Desta forma, exerce influência direta na avaliação de desempenho do pessoal docente, do pessoal não docente e influi igualmente no desempenho e na avaliação dos discentes. O clima exerce também influência no comportamento das pessoas que se movimentam dentro da escola e naquelas que se relacionam com a escola.

O clima, em determinadas situações, gera expetativas contraditórias nas pessoas. Estas, por vezes, esperam certas recompensas, satisfações e frustrações na base da sua perceção do clima organizacional patente na instituição escolar. Essas expetativas, quando são positivas tendem a aumentar a motivação das pessoas, pelo contrário, quando são negativas causam frustração nesses atores educativos. Sendo assim, podemos referir que os aspetos internos da organização escola provocam diferentes espécies de motivação nos seus participantes. Deste modo, o clima de escola é favorável quando proporciona satisfação das necessidades pessoais dos participantes, elevando a sua moral. É desfavorável quando proporciona a frustração daquelas necessidades.

Na prática, o clima de escola depende das condições desta, da sua estrutura, da sua cultura, das oportunidades de participação do pessoal docente, não docente e discente, do Diretor e da escolha dos elementos que formam a equipa que o auxiliam na gestão, administração e liderança da instituição escolar, da preparação e treino da equipa, do estilo de liderança, da avaliação da escola e dos seus atores educativos e da remuneração dos mesmos.

Salienta-se, igualmente, que cada escola tem o seu próprio clima organizacional, a sua «própria personalidade», que a ajuda a distinguir das restantes escolas e das demais organizações. Esta situação carateriza e formaliza os comportamentos dos seus membros, sendo percebido, ao mesmo tempo, de uma forma consciente e inconsciente por todos os seus atores.

Para um bom clima escolar é muito importante uma preocupação com as relações interpessoais, bem como a permanente coesão dos professores e o apoio efetivo aos alunos com estímulo à sua participação, assim como o auxílio dos pais e encarregados de educação. Nas escolas problemáticas e com mais dificuldades, é necessário reconciliar o aluno e o professor com o coletivo, desenvolvendo momentos que permitam o reconhecimento mútuo e a pertença à organização escola. Todo o esforço deverá ser realizado com o intuito de contribuir para que as pessoas se sintam bem para aprender e não como hoje, em que se pensa ser importante aprender de qualquer maneira para mais tarde, talvez, se sentirem bem.

Podemos deste modo finalizar este artigo afirmando que o clima de escola como resulta da construção de perceções, interpretações e sentimentos de um grupo, pode proporcionar aos dirigentes escolares um diagnóstico de funcionamento como suporte para a mudança organizacional da instituição escolar.

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