Diversidade de sotaques e projetos marca quarta Febrace
Por Olavo Soares
Do lado de fora, a movimentação já impressiona. Um público composto por adolescentes, diferente do habitual da USP, vai tomando as ruas do entorno da Escola Politécnica (Poli). Eles estão ali para participar da quarta edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace).
A Feira, que funcionará até quinta-feira (23), é uma das maiores do Brasil na sua categoria. Seu objetivo é reunir trabalhos científicos de estudantes do ensino fundamental (8ª série) e ensino médio, tanto de escolas públicas e particulares. A Feira é promovida pelo Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Poli.
E os estudantes chegam de todas as partes do Brasil. A tenda que abriga a Febrace registra um festival de sotaques, bandeiras e palavras diferentes. Um estudante fantasiado de Santos Dumont, o pai da aviação, dá as boas vindas aos visitantes da feira. Pernambucanos ostentam a bandeira de seu estado; ao seu lado estão paraenses, gaúchos e goianos. Sem contar os paulistas, tanto da capital quanto do interior.
Experiência única
Um dos estudantes que veio de longe é Jonathan Henrique de Souza, de 17 anos. Ele é aluno do SESI de Florianópolis e seu projeto atende a área de responsabilidade social, um dos temas que predomina entre os trabalhos da feira. Trata-se de um ponto de ônibus adaptado para pessoas com necessidades especiais, principalmente deficientes visuais. É o JATOBUS – nome que faz uma referência ao personagem cego Jatobá, da novela global América. O sistema desenvolvido pelo aluno sugere a criação de um painel em braile que indica as linhas dos ônibus que passam pelo ponto. O deficiente escolhe, através do painel, a linha que pretende utilizar e aciona um sistema que emite um sinal sonoro. Este mesmo sinal é reproduzido no ônibus, e o motorista recebe a indicação que uma pessoa deseja utilizar o veículo em um determinado ponto. Quando o ônibus chega ao local onde está o deficiente, é acionado um sinal idêntico ao que a pessoa ouviu quando fez a solicitação.
O projeto de Jonathan e de seu colega Fabio Mantelli, que não veio à Febrace, é um dos 207 selecionados para a Feira. Fazer parte de um grupo seleto já seria motivo de orgulho para o estudante, e ainda há outro fato para comemorar: pela primeira vez, Jonathan visita a cidade de São Paulo e a USP, a maior universidade do País.>
Conhecer a cidade de São Paulo também é um dos motivos de maior felicidade das estudantes Erica Martins e Fernanda Dourado, do colégio Christus, de Fortaleza. Elas apresentaram um projeto sobre a utilização do mesocarpo – as fibras da casca – do coco anão verde como ferramenta para construção de placas de absorção acústica. Segundo as jovens, o mesocarpo do coco, tratado habitualmente como lixo, pode ter um desempenho até melhor do que a lã de vidro, material usado habitualmente para segurar o som.
Maday, Erica e Fernanda e Jonathan
Elas estranharam o trânsito de São Paulo – que já assusta os moradores da cidade, que dirá quem vem de fora – mas comemoram a possibilidade de visitar a USP. “Eu tenho interesse em estudar medicina, então estou achando ótimo conhecer pessoalmente professores da Universidade”, afirmou Fernanda, de 16 anos.
Todos esses fatores contribuem para que a Febrace sirva como um estímulo à pesquisa. Sendo premiado, vendo resultados práticos do seu estudo, o aluno sente vontade de seguir mais intensamente no meio. É o que comprova a paraibana Maday de Souza Morais, da Fundação Bradesco de João Pessoa. O trabalho desenvolvido por ela e mais duas colegas focou a área de Mata Atlântica vizinha à sua escola. As alunas foram até o local e verificaram efeitos da ação predatória do homem, além de analisarem as espécies de plantas medicinais presentes no sistema. Conversaram também com os comerciantes do bairro, que vivem da venda dessas ervas medicinais e, por fim, prepararam uma horta com essas plantas que cultivam na própria escola.
“Conhecer São Paulo está sendo uma experiência única”, conta Maday. Ela explica que, quando começou a desenvolver o projeto, não imaginava a dimensão que o trabalho ganharia. E que vê como um benefício permanente a aquisição de conhecimento que a pesquisa científica proporciona.
E há ainda um estímulo adicional para os alunos: a Febrace selecionará, como em outros anos, trabalhos para a International Science and Engineering Fair, evento internacional que acontece nos Estados Unidos. Nove trabalhos serão escolhidos na edição de 2006.
Sucesso
A coordenadora Roseli de Deus Lopes
A professora Roseli de Deus Lopes, da Poli, é a coordenadora da Febrace. E sua disposição é fácil de notar durante a Feira – não parando por um instante, conversando com pessoas da organização, expositores, imprensa. Ela diz que a Febrace demanda trabalho por todo o ano, mas nos dias de exposição a coisa é ainda mais intensa.
Mas a Feira é um sucesso – e um dos seus indicadores, segundo a professora está no baixo índice de abstenção dos alunos de outros estados. “Quando selecionamos um projeto para a Feira, não damos nada além de uma carta dizendo ‘parabéns’. É o próprio aluno que tem que correr atrás de recursos para estar aqui. E isso é positivo, porque faz com que o estudante tenha força de vontade e se torne conhecido”, explica.
A professora ressalta também a repercussão que a Febrace tem na imprensa, dizendo que apoios como esse são fundamentais. “Quanto mais a Feira aparece, mais temos facilidades para divulgá-la, para fazer a captação de recursos”, aponta.
Serviço
4ª Febrace – Feira Brasileira de Ciências e Engenharia
De 21 a 23 de março, das 14 às 19 horas
Na Tenda Febrace – Escola Politécnica da USP
Avenida Professor Luciano Gualberto, Travessa 3, 380
Cidade Universitária – São Paulo
Premiação dos melhores trabalhos da Febrace
Dia 25 de março, às 8 horas
Auditório do Memorial da América Latina
Avenida Auro Soares de Mouta Andrade, 664, Portão 12
Barra Funda – São Paulo