30/07/2019

Ditadura Democrática

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br

 

            Uma pessoa politizada entenderá que o país está atravessando a tênue linha que separa a democracia da ditadura, ou pior, que estamos em plena “ditadura democrática”,

            Apesar de muitos ouvirem dizer e até repetir que somos um país democrático, o indice da democracia da revista The Economist, ressalta as 10 maiores democracias do mundo, e nesta mesma pesquisa, o Brasil fica na 49º colocação. De acordo com a pesquisa, os dez primeiros países são: Noruega; Islândia; Suécia; Nova Zelândia; Dinamarca; Irlanda; Canadá; Austrália; Finlândia e Suíça, e os itens avaliados para que um país seja mais ou menos democrático são os processos eleitorais, respeito aos direitos e liberdades civis dos cidadãos, participação política da população, nível de cultura política do país e funcionamento do governo.

            A ditadura democrática não se trata de um neologismo e a nossa atual conjuntura política nos remete a isso. Analisemos os fatos de forma imparcial, afinal de contas, ser politizado é saber falar de política sem defender com unhas e dentes uma ideologia. É saber ouvir a crítica dos governos sejam eles A, B ou C e perceber que ele tem deixado a desejar em muitos quesitos como saúde, educação, meio ambiente, geração de emprego, etc, já que em um governo democrático, suas ações são voltadas para o bem estar do povo e da nação.

            Temos no governo um “falso moralista” que estrategicamente consegue mudar a atenção da opinião pública com suas falas agressivas funcionando como verdadeira metralhadora, atirando para todos os lados, acertando a quem quer que esteja na frente, como aconteceu para fugir aos questionamentos da “farra dos helicópteros”, que retrata a sua hipocrisia.

            A ditadura está se tornando tão evidente que o nosso Ministro da Justiça ou Injustiça, hoje eu confesso que não sei mais, divulgou a Portaria 666 que de acordo com especialistas, comete “uma série de ilegalidades e inconstitucionalidades ao estabelecer condições para a deportação de estrangeiros do Brasil”, e isso tudo é justamente para se poupar dos escândalos que o envolve na “Vaza Jato” e de sua atitude antiética como Juiz, visto que o ministro da Justiça, Sergio Moro, é um dos principais alvos das reportagens publicadas pelo site The Intercept.

            Moro é ainda mais ousado quando prometeu destruir todo material apreendido nesta semana com os quatro hackers detidos pela polícia federal na operação spoofing. A pergunta é onde vai o seu limite de atuação? Vale lembrar que o próprio Sérgio Moro é o principal envolvido nestas provas. Como o ministro poderia receber informações de um inquérito sigiloso? Interessante ressaltar que as falas do ministro colidem com a da Polícia Federal quando ressaltou que “preservará o conteúdo de quaisquer mensagens que venham a ser localizadas no material, uma vez que é de responsabilidade do juiz no caso é quem decide o que se deve fazer com o conteúdo”.

            Interessante perceber que o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz é enfático ao se referir ao ministro Sérgio Moro quando ao dizer que ele “usa o cargo, aniquila a independência da Polícia Federal e ainda banca o chefe de quadrilha ao dizer que sabe das conversas de autoridades que não são investigadas”

            Interessante perceber que para justificar tais atos tiranos, as pessoas que fizeram parte deste processo democrático, acreditam que ele agiu e ainda age correto, ou seja, os fins escusos justificaram os meios.

            Segundo nosso presidente, o “Malandro, para evitar um problema desse, casa com outro malandro e adota criança no Brasil”, isso porque a Portaria 666 não atingiria Greenwald. Interessante perceber que na política anterior, situações semelhantes foram suficientes para prisões, impeachament, perseguições, etc, e hoje é motivo de deportação e cadeia.

A ditadura está começando e as pessoas que votaram neste governo, ou não perceberam ainda, ou são alienadas e fanáticas o suficiente para aceitar suas arbitrariedades como foi anunciado por ele próprio uma forma de extinguir a Ancine, que é Agência Nacional de Cinema, o que mostra sua total ignorância sobre o papel desta instituição para cultura do povo, já que o presidente defende a censura de caráter moral.

De acordo com Gustavo Gindre, que é mestre em Comunicação e Cultura e doutorando em História das Ciências e das Técnicas Epistemológicas, o dinheiro público investido no audiovisual serve para estimular a produção da cultura nacional como o caso dos filmes Cidade de Deus e Tropa de Elite, dentre outros, evitando assim que consumamos apenas filmes norte-americanos, além de gerar emprego no Brasil.

De acordo com Fagundes e Barbosa (2019)[1] “A censura se funda como um desdobramento repressivo dos governos, impelidos pela necessidade de manter o controle social sobre a informação”, e quer mais informação que a Ancine passa para seus públicos? Oras, informação certa para o povo neste atual governo é como gasolina para apagar incêndio, dito isso, Fagundes e Barbosa (2019) ressaltam uma pesquisa realizada pela organização Avaaz em que aponta que 98,21% dos eleitores de Bolsonaro foram expostos a “Fake news” pelas redes sociais e quase 90% destes eleitores acreditaram que os fatos eram verdadeiros”, ou seja, nosso atual governo fez uso também de estelionato eleitoral ou (policy switch) ou giro político, que para muitos esclarecidos é simplesmente demagogia, ou seja, o político trabalha fundamentado em uma plataforma política e quando eleito, assume uma ideologia totalmente contraditória.

Outra situação que envolve o poder da informaçõa é o exemplo das atitudes do presidente quando coloca em descrédito instituições renomadas que fazem pesquisas sociais como Ibama, ICMBio, Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), IBOPE, IPEA, IBGE, ICMBio, e a Fiocruz de excelência internacional reconhecida teve o seu estudo engavetado, dentre outras que para ela, é tudo enganação, ou seja, a verdade está sempre ao seu lado. Como dito em um café da manhã com jornalistas quando afirmou que “Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira”, entretanto, mais tarde, afirmou que “alguns passam fome”. Ou seja, ele desconhece o próprio país e suas verdadeiras necessidades[2].

Fagundes e Barbosa (2019) ressaltam que a ditadura acontece também quando para favorecer alguém, é imposta certa censura, como aconteceu na COAF (órgão que gerou mais de mil relatórios para a Lava Jato). Para os autores, em um governo de “coincidências aviltantes, essa censura foi decretada dias depois da divulgação do relatório do órgão denunciando o envolvimento do Senador eleito Flavio Bolsonaro e seu ex-assessor/motorista Fabricio Queiroz num esquema de corrupção”, isso implica em afirmar as falas de Maquiavel quando dizia “aos amigos os favores, aos inimigos a lei”.

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