Design Thinking
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Já imaginaram o que seria da sociedade sem o poder transformador da educação? É quase certo que não teríamos ainda passado a idade média.
Nesta época apenas a Igreja era detentora do conhecimento e todos que divergiam de suas ideias, estavam fadados a arbitrariedade da Santa Inquisição, com torturas e/ou mortes pela Santa Fogueira para banir os demônios de nossos corpos, que para o Papa Gregório I, conhecido como o Grande, o corpo não passava de uma "vestimenta abominável da alma".
Obviamente como relatado na revista Aventuras na História, Edição 2012 em janeiro de 2021, pode-se constatar que a população estaria bem reduzida devido a proliferação de doenças em consequência da falta de informação e discernimento da mesma.
Apesar dos esforços para que o conhecimento continuasse direcionado para apenas um tipo de público, a educação veio e com o tempo, ocorreu certa democratização da busca pelo conhecimento e consequentemente a transformação do ser.
Hoje, apesar de termos uma educação pública sofrível. sucateada, devido ao baixo investimento na mesma, em razão da indiferença dos governantes e desvalorização da classe, nós educadores não medimos esforços, oferecermos o nosso melhor para nossos educandos, convergindo com as falas de Jonh Deere ao afirmar que "Jamais colocarei o meu nome em um produto que não tenha em si, o melhor que existe em mim".
Lembrando que a educação tem que ser voltada para a transformação do ser, Lakatos e Marconi no livro "Sociologia Geral", publicado pela Atlas em 1999 esclarecem que o ato de educar é uma ação intencional, cujo objetivo tende a suscitar e desenvolver certo número de estados físicos, intelectuais e morais.
Dito isso, uma forma de efetivar esta ação intencional se dará através do Design Thinking, que segundo Cortes Junior et al no artigo "Design Thinking na Reestruturação do Sistema de Avaliação de Disciplina em um Curso de Medicina", publicado pela Rev. bras. educ. med em 2020[1] é um processo que propõe a busca, de forma empática, colaborativa e criativa, de soluções para problemas complexos.
Veja que interessante, segundo a Fundação Bradesco, o Design Thinking começou a ganhar notoriedade na educação quando a IDEO lançou o material Design Thinking for Educators, e que seus pilares empatia, colaboração e experimentação foram transformados em descoberta, interpretação, ideação, experimentação e evolução.
Segundo a Fundação Bradesco, no primeiro item é trabalhado o desafio e como o mesmo deverá ser abordado. A interpretação está relacionada em como pode ser interpretado esta situação problema. Observe que podem e devem ser situações vivenciados pelos próprios educandos em seu contexto.
O terceiro item foca a oportunidade e como efetivá-la, partindo para a proposta seguinte que é o da experimentação que é uma forma de concretizar a ideia, testando as possibilidades, bem como valorizando as tentativas e erros como partes importantes de qualquer aprendizado, e por último, a evolução que se baseia nos feedbacks e em sua melhoria contínua.
Interessante perceber que o erro é valorizado como parte do processo favorecendo assim uma aprendizagem ativa e contínua.
Cortes Junior et al ressaltam que a aplicação do Design Thinking é uma maneira de se trabalhar não linearmente, e isso é permitido porque são vários olhares buscando a solução de um problema em si, e isso permite a humanização, o processo de inovação por meio da empatia, buscando soluções através das pessoas com elas mesmas, reforçando ainda mais a alteridade entre elas.
Paiva, zanchetta e londono, no artigo "Inovando no pensar e no agir científico: o método de Design Thinking para a enfermagem", publicado pela Esc. Anna Nery em 2020[2], salientam que o Design Thinking é uma forma de revolucionar a maneira de encontrar soluções inovadoras para os problemas, de forma criativa e focada nas necessidades reais e não em pressuposições estatísticas.
Para os autores supracitados, o Design Thinking é um método que além de trabalhar problemas reais, tem o seu foco nas ideias e não nos argumentos, já que foca na coletividade e colaboração fundamentado pelos valores da empatia máxima entre os participantes do processo.
As informações acima são corroboradas e complementadas pela Fundação Bradesco quando ressalta que o Design Thinking oferece aos educadores: aprimoramento a colaboração, soluções que atendam como indivíduo, sala de aula, escola ou comunidade, mais confiança na criatividade, autonomia dos educadores e pode-se dizer também educandos, formas efetivas de fazer com que os educandos fiquem engajados com o processo já que o mesmo passa a ser uma forma divertida de se resolver problemas e aprender.
Um fator importante neste método é que a imprevisibilidade e mudanças de rumo ou até mesmo cenários são fatores que não podem ser desconsiderados, assim sendo, trabalha-se diretamente com frustrações e superações, reforçando em nossos alunos uma inteligência emocional, pois esta inteligência segundo Goleman em seu livro "Inteligência Emocional", publicado pela Objetivo Ltda em 1995 é embasada na
Confiança – O senso de controle e domínio sobre o próprio corpo, comportamento e mundo;
Curiosidade – A sensação de que descobrir as coisas é positivo e dá prazer..
Intencionalidade – O desejo e a capacidade de absorver um impacto e explorar isso com persistência. Está relacionada com a sensação de ser competente, eficiente.
Autocontrole – A capacidade de moldar e controlar as próprias ações de forma apropriada à sua idade, o senso de controle interno.
Relacionamento – A capacidade de entrosar-se com os outros, baseada na sensação de que é compreendida por eles e que os compreende.
Capacidade de comunicar-se – O deseja e capacidade, de verbalmente, trocar idéias, partilhar sentimentos e concepções com os outros. Está relacionado ao senso de confiança nos outros e de prazer eme star com eles, inclusive com adultos
Cooperatividade – A capacidade de harmonizar as próprias necessidades com as dos outros nas atividades em grupo.
O Design Thinking exercita a curiosidade intelectual do educando e nas falas de Romão em seu livro "Pedagogia Dialógica", publicado pela Cortez editora em 2002, o educador tem um papel a ser cumprido, este deve ser de libertador, emancipador. fazendo com que seus educandos superem a “curiosidade ingênua” pela “curiosidade epistemológica”, da “doxa” pelo “logos”, da “consciência intransitiva mágica” pela “consciência transitiva crítica”.
Dito isso, que nós educadores possamos continuar dando o nosso melhor a nossos educandos para que estes vislumbrem um futuro mais promissor para si mesmos e seus entes.
[1] Para mais informações vide CORTES JUNIOR, João Carlos de Souza et al . Design Thinking na Reestruturação do Sistema de Avaliação de Disciplina em um Curso de Medicina. Rev. bras. educ. med., Brasília , v. 44, n. 4, e118, 2020 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022020000400402&lng=en&nrm=iso>. access on 18 Feb. 2021. Epub Aug 21, 2020. https://doi.org/10.1590/1981-5271v44.4-20200125.
[2] Para mais informações vide PAIVA, Eny Dórea; ZANCHETTA, Margareth Santos; LONDONO, Camila. Inovando no pensar e no agir científico: o método de Design Thinking para a enfermagem. Esc. Anna Nery, Rio de Janeiro , v. 24, n. 4, e20190304, 2020 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452020000400601&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 18 fev. 2021. Epub 06-Jul-2020. https://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2019-0304.